Voltemos
ao cinema e falemos de Looper, de
Rian Johnson. Há tanto tempo que se discutia este filme nos círculos cinéfilos,
com a crítica rendida (é um 84 no Metacritic, independentemente do que
determinados críticos portugueses pensam) e uma recepção entusiástica em
Toronto. Por isso lá fui ver um filme com Bruce Willis ao cinema (bem, ele é
parte da minha infância).
Algumas observações soltas. Em primeiro lugar, aquilo que se diz é verdade: é melhor não ter muita informação sobre o filme antes de o ver. Quanto mais se sabe
sobre ele, menos divertido ele se torna. Em segundo lugar: é no mínimo
desconcertante a mudança completa de género cinematográfico a meio de Looper, como se fosse um 2 em 1. O que
começa como um thriller de ficção científica ao estilo de Twelve Monkeys torna-se numa espécie de adaptação western de The Omen. Não que isso seja mau. Em
terceiro lugar: holy plot-holes,
Batman!
Dito
isto, é divertido. É inteligente. É um exemplo sólido de boa ficção-científica.
Em resumo: gostei do filme. O elenco, que inclui Joseph Gordon-Levitt, Bruce Willis, Emily Blunt, Jeff
Daniels e Paul Dano, é excelente. Johnson continua a afirmar-se na realização
após o êxito indie que foi Brick, o
seu primeiro filme e primeira colaboração com Gordon-Levitt, para quem, aliás,
foi escrito especialmente o papel principal de Looper. A parceria Johnson/Levitt promete tornar-se aos poucos numa
das duplas realizador/actor mais interessantes dos últimos tempos, ao lado de McQueen/Fassbender,
no molde das grandes colaborações históricas do cinema.
Levitt, também, dá mais um passo na sua trajectória de afirmação como uma das presenças
estimulantes no cinema americano actual, desde a revelação que foi Mysterious Skin. Quem diria que o miúdo de O 3º Calhau a Contar do Sol se tornaria num dos actores mais
interessantes da sua geração? A maquilhagem de Levitt, feita para que se
parecesse com Willis, é uma ligeira distracção, mas a sua interpretação é boa.
Por falar em Willis, ele está em grande forma, carismático como sempre,
dominando as cenas.
Que
se pode dizer mais sem revelar o enredo? Looper
tem sido comparado a Matrix mas não
sei se esta é a ligação mais óbvia. Quando estava a ver o filme, várias
referências me vieram à mente – as já mencionadas Twelve Monkeys e The Omen,
mas também Terminator ou X-Men. É quase uma espécie de colagem. A
primeira parte do filme é mais conseguida que o acto final, não sendo eu a
maior fã das sequências com Sid (pelo que tenho lido, até houve quem as achasse
hilariantes). O enquadramento da acção numa visão distópica do futuro, com
divisões sociais brutais, é interessante e certamente contemporâneo, mais do
que Damien 2.0. A temática das viagens no tempo dá algumas dores de cabeça
quando se tenta perceber todas as implicações das acções que vemos no ecrã, mas
está, em geral, bem construída. No entanto, não sei se a história em si aguenta
uma análise mais cuidada.
A
solução? Não pensar muito, não dissecar muito a premissa do filme e,
simplesmente, divertirmo-nos com um filme sólido que não nos trata como se
tivéssemos 5 anos. Bons actores, boa realização, argumento conseguido. Por
vezes, isso é o suficiente.
Maria Braun