terça-feira, 30 de outubro de 2012

Porque é (quase) Halloween


Outra das minhas recentes visitas ao cinema foi para ver Frankenweenie de Tim Burton. Mais uma prova que as animações de Burton têm sido mais interessantes do que os seus filmes “normais” dos últimos anos. Sobretudo depois de ter visto Dark Shadows em Maio passado e da desilusão que foi. Frankenweenie, para além de ser um remake de um filme anterior de Burton, é uma homenagem ao clássico cinema de “monstros”. Há referências a Frankenstein, Gamera, King Kong, Gremlins, A Múmia, para além de uma sequência em que vemos um dos filmes de Drácula com Christopher Lee. Homenagem ao cinema com que Burton cresceu e aos seus heróis de sempre, de Lee a Vincent Price, passando por Martin Landau que empresta a sua voz a uma das personagens.
No fundo, Frankenweenie é uma história de amizade entre um rapaz, Victor, e o seu cão, Sparky. Quando Sparky morre, Victor tem tantas saudades dele que resolve trazê-lo de volta à vida, tal como em Frankenstein. É em tudo um conto de Burton, a história do “misfit” que não se enquadra totalmente na sociedade que o rodeia, que parece determinada em não o compreender. Para aquele que não se enquadra são os outros que parecem estranhos (veja-se os colegas de turma de Victor). Neste contexto, Burton faz uma sátira à sociedade americana e ao medo que alguns parecem ter da ciência; o medo daquilo que não se compreende. É uma história que funciona tanto para adultos como para os mais jovens (apesar de ser para maiores de 12 anos em Portugal, graças a uma ou duas cenas mais perturbantes). Nesse aspecto está enquadrado numa vaga de filmes de animação que têm surgido nos últimos meses, que se movem no mundo do fantástico e das “criaturas”, como Paranorman e Hotel Transilvânia. É uma forma interessante de recuperar o cinema de horror clássico para um público mais jovem depois de tanto tempo com o detestável domínio do torture porn.
O 3D não me incomodou particularmente, apesar de não ser grande fã do formato. Talvez porque o filme é a preto e branco e, também, porque o 3D pode ser visto como uma referência retro a uma época cinematográfica a que este filme presta homenagem. Tal como em Hugo, o 3D pode fazer sentido num filme que é um tributo ao cinema em si. Quanto à animação, ela tem os traços característicos de Burton, as figuras esguias e pálidas de sempre, e é em tudo um produto do universo tão particular do realizador.
É uma obra revolucionária ou inovadora na cinematografia de Burton? Não. É melhor que Corpse Bride? Também não. Entrará no panteão dos clássicos do género? Provavelmente não. Contudo, Frankenweenie é uma óptima visita ao cinema, misto de entretenimento e de homenagem à história do cinema que, sem dúvida, apelará a muitos cinéfilos.
 
Maria Braun