The Gentleman, Buffy, Hush (s04e11)
Desde há uns anos atrás, o dia das Bruxas passou a significar alguma coisa. Até então, era um dia como o outro. E também não tinha, como não tenho, qualquer familiaridade com o dia de Finados. Lembro-me de um ano, em que estava com uns amigos num ponto alto da cidade que tinha vista para o cemitério. Viam-se centenas de velas acesas, de cor vermelha, que alumiavam todo o sítio da colina. Cool! Deixemos os 14 anos e vamos ao que interessa. Depois dos textos da Sally e da Maria, ambos de horror, achei que seria engraçado refazer um texto velhote sobre a Buffy.
A
primeira coisa que reparei na Buffy, quando comecei a rever a série
numa idade já adulta, é que ela é tremendamente sexy. A segunda
coisa é o génio da série. Bem sei que os vampiros estão na moda e
consomem muitos adolescentes. Mas não acredito que tenham um quarto
do quilate de Buffy. Aliás, mesmo que Buffy seja um teen show,
escapa constantemente e instala-se naquilo a que se chama a
deselegante vida dos adultos, roubando um verso a Mistaken for
Strangers dos National. Por outro lado, e para acabar com as sagas
dos últimos anos, duvido que sejam extraordinariamente bem escritas,
duvido que tenham a capacidade de condensar humor, drama, acção,
aura mitológica e efeitos especiais baratos de forma tão eficaz.
No
início, uma das ideias que forma Buffy é a seguinte: under the High
School is hell's mouth. Haverá verdade maior do que esta na
adolescência? A sensação do corredor da escola secundária que
cresce sem qualquer respeito por leis de tempo e de movimento é
assim tão estranha? Pela minha parte, não. É certo que a boca do
inferno está mais que tapada. Os issues da nossa deselegante vida
adulta são económicos e políticos. O vilão-mor responde pelo nome
de desemprego, que transformou as ofertas existentes de emprego em
simulacros ocos. São eles que temos que enfrentar e não só neste
dia das bruxas.
A
partir desta premissa aparecem os monstros dos grupos, do que se
veste, da alienação e, claro está, os vampiros. Se os primeiros
representam episódios comuns da escola secundária e, por isso,
aproximam a heroína de nós, os vampiros acrescentam-lhe a dimensão,
o halo mítico. Afinal, "em cada geração há uma escolhida.
Sozinha, ela enfrentará os vampiros, os demónios e as forças do
mal". E com isto, o desejo de ser uma rapariga normal de
dezasseis anos e de mandar o destino à fava. Coisa que não pode
mudar: ela é a rapariga da profecia. E a profecia diz que Buffy irá
enfrentar o mestre (o vampiro-mor) e morrerá. No episódio sabemos
que isso acontecerá amanhã (o fim do mundo na Buffy é sempre hoje
à noite ou amanhã – o que tem um efeito cómico excelente,
especialmente se ela tem um date marcado para essa data).
A reacção tem o seu momento nesta line: "Gilles, I am sixteen, I don't wanna die." Este é um exemplo das muitas lines que se podem saber de cor da Buffy, como quem sabe lines de filmes clássicos de Hollywood. Esta referência não é avessa. Buffy fica muito bem na fotografia ao lado de diálogos de muitas comédias clássicas. Lines como: "I may be dead, but i'm still pretty" ou " I think I got his attention" ou ainda "Hallo lover" têm que permancer na história da televisão. Mas Buffy não se faz apenas do vigor dos diálogos. Wheedon é um grande contador de histórias, misturando géneros. Um dos episódios mais incríveis é Hush, quando os moradores da cidade, tal como numa história de encantar, são enfeitiçados e perdem a voz. The Gentleman são monstros dos contos de fadas que roubam as vozes dos habitantes de uma cidade para que não possam gritar enquanto eles roubam os corações das pessoas. Eles precisam de sete. Nada os poderá deter, a não ser o grito da princesa. Resumi a apresentação de Gilles feita em acetatos e que é um dos momentos brilhantes da série.
Outro episódio genial é quando Buffy (na segunda temporada), depois de uma reviravolta na história, tem que arranjar forças para combater o poderoso e antigo demónio que Spike e Druzila trouxeram de novo à vida e que nenhuma arma no mundo conseguiu destruir. Para problemas antigos, soluções modernas e... simples: uma bazuca. O cómico alia-se à tensão de toda a cena, à fúria, à dor e ao poder de Buffy - tão bem mostrados pelo movimento da câmara -, gerando no espectador uma sensação de grande prazer.
Um dos grandes trunfos de Buffy é o facto de mostrar pessoas a terem que enfrentar demónios que muitas vezes são a representação de issues, de problemas que têm que se resolver. Logo no princípio da segunda temporada, Buffy tem que lidar as mazelas que o mestre deixou na sua vida e fá-lo em grande, partindo os ossos do vampiro com um marretão enorme. Talvez ela seja a caçadora das caçadoras (falta-me ver a sexta e a sétima temporada), mas as suas vitórias não são fáceis. Mas mesmo nos momentos de angústia onde Buffy tem que se encontrar consigo e crescer como slayer, há espaço para os vampiros brindarem à invenção mais diabólica da humanidade: a produção em série. As suas dores de crescimento são um dos motivos da quinta temporada onde tem que lidar com a morte (num episódio que está ao nível de Six Feet Under), com uma inimiga invencível e com o seu dom como caçadora.
Termino com uma grande vontade de rever muitos destes episódios. Seria um bom programa para a noite de hoje. Mas creio que o meu horror será outro: enviar currículos para não ter resposta.
A reacção tem o seu momento nesta line: "Gilles, I am sixteen, I don't wanna die." Este é um exemplo das muitas lines que se podem saber de cor da Buffy, como quem sabe lines de filmes clássicos de Hollywood. Esta referência não é avessa. Buffy fica muito bem na fotografia ao lado de diálogos de muitas comédias clássicas. Lines como: "I may be dead, but i'm still pretty" ou " I think I got his attention" ou ainda "Hallo lover" têm que permancer na história da televisão. Mas Buffy não se faz apenas do vigor dos diálogos. Wheedon é um grande contador de histórias, misturando géneros. Um dos episódios mais incríveis é Hush, quando os moradores da cidade, tal como numa história de encantar, são enfeitiçados e perdem a voz. The Gentleman são monstros dos contos de fadas que roubam as vozes dos habitantes de uma cidade para que não possam gritar enquanto eles roubam os corações das pessoas. Eles precisam de sete. Nada os poderá deter, a não ser o grito da princesa. Resumi a apresentação de Gilles feita em acetatos e que é um dos momentos brilhantes da série.
Outro episódio genial é quando Buffy (na segunda temporada), depois de uma reviravolta na história, tem que arranjar forças para combater o poderoso e antigo demónio que Spike e Druzila trouxeram de novo à vida e que nenhuma arma no mundo conseguiu destruir. Para problemas antigos, soluções modernas e... simples: uma bazuca. O cómico alia-se à tensão de toda a cena, à fúria, à dor e ao poder de Buffy - tão bem mostrados pelo movimento da câmara -, gerando no espectador uma sensação de grande prazer.
Um dos grandes trunfos de Buffy é o facto de mostrar pessoas a terem que enfrentar demónios que muitas vezes são a representação de issues, de problemas que têm que se resolver. Logo no princípio da segunda temporada, Buffy tem que lidar as mazelas que o mestre deixou na sua vida e fá-lo em grande, partindo os ossos do vampiro com um marretão enorme. Talvez ela seja a caçadora das caçadoras (falta-me ver a sexta e a sétima temporada), mas as suas vitórias não são fáceis. Mas mesmo nos momentos de angústia onde Buffy tem que se encontrar consigo e crescer como slayer, há espaço para os vampiros brindarem à invenção mais diabólica da humanidade: a produção em série. As suas dores de crescimento são um dos motivos da quinta temporada onde tem que lidar com a morte (num episódio que está ao nível de Six Feet Under), com uma inimiga invencível e com o seu dom como caçadora.
Termino com uma grande vontade de rever muitos destes episódios. Seria um bom programa para a noite de hoje. Mas creio que o meu horror será outro: enviar currículos para não ter resposta.
K. Douglas