É
difícil escrever um post seguinte que faça justiça ao do K. É só um aparte que
ando a ruminar há algum tempo.
Não
podia deixar passar a morte de Eric Hobsbawm (com duas semanas de atraso), nem
que seja porque tenho a estante cheia de livros seus, incluindo a sua interessante
autobiografia. Hobsbawm foi um dos grandes da historiografia, assim como um dos
mais populares historiadores, conseguindo chegar ao grande público, e um dos
poucos (raros!) que conseguiam fugir à secura da escrita científica, dando de
volta à História enquanto ciência a qualidade literária que nunca devia ter
perdido. Acreditem, um historiador que escreve bem é cada vez mais uma
raridade. Foi também um dos poucos que se mantiveram fiéis aos seus princípios
políticos até ao fim, independentemente de “modas” ideológicas – conseguindo,
no entanto, ser visto como mais do que um “historiador comunista”. O seu
estatuto e seriedade intelectual garantiram que fosse mais do que isso.
O
último livro de Hobsbawm que comprei foi uma colecção de ensaios intitulada How To Change The World: Tales of Marx and
Marxism. Esta edição saiu em 2011 e inclui vários ensaios escritos entre os
anos 50 e 2009, sendo uma análise das origens, contexto e evolução das teorias marxistas,
assim como uma avaliação da sua influência e impacte intelectual nas últimas
décadas. Os capítulos sobre Gramsci, por exemplo, são excelentes. Num momento
em que a discussão sobre a luta de classes ameaça regressar em força, livros
como este são importantes. Tal como houve um regresso a Keynes em 2008/09, com
o início da crise, as suas consequências podem ressuscitar Marx aos poucos, com
novas leituras e apropriações do marxismo. Hobsbawm chama a atenção para a
riqueza, profundidade e história da tradição marxista, que não pode ser posta
de lado num momento de crise do capitalismo. É uma leitura interessante para
todos os que se interessam por História das Ideias e para todos os que procuram
inspiração na situação actual, independentemente de inclinações políticas.
Morreu
um dos grandes. Em Inglaterra, os estudantes de História Contemporânea podem
dar como garantida a sua presença em todas as bibliografias básicas da matéria,
prova do respeito que os historiadores britânicos de hoje lhe têm,
independentemente da forma como vêem a sua análise historiográfica. Não
interessa se se concorda ou discorda de Hobsbawm, qual o valor que se dá à sua
análise – deve ser sempre lido e debatido. Para acabar com um cliché: foi-se o
homem, fica a obra. E que fascinante que ela é.
Maria Braun