quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Cinema 00'

O balanço de final do ano é uma tradição já plenamente instituída entre nós. Chegamos à última semana de Dezembro, ainda com a ressaca do Natal, e recordamos os grandes momentos que o ano nos trouxe. Mas o final de 2009 tem um atributo especial. É verdade que não podemos falar de final de década. É senso comum que, para isso, teremos ainda de esperar pelas 24h do dia 31 de Dezembro de 2010. Porém, o facto do algarismo das dezenas passar do 0 para o 1 é digno de ser celebrado com mais uma taça de champagne e com mais algumas passas. Também é um momento digno de um balanço mais alargado.
O nosso camarada K. propôs-nos, então, a elaboração de um top 10 dos filmes que marcaram os últimos dez anos. Uma tarefa árdua, sem dúvida! Porém, aceitámos o desafio.
Confesso que não pensei muito, optei por uma escolha mais institiva. Se começasse a ponderar com maior profundidade, decerto que não conseguiria eleger apenas dez. Portanto, a lista que vou apresentar em seguida é a minha escolha no dia 30 de Dezembro, às 15.40. Daqui a uma hora teria, possivelmente, uma lista completamente diferente.
Contudo, optei por alguns critérios. Primeiro, tentei aliar as minhas escolhas pessoais a um gosto mais massificante. Segundo, esforcei-me por uma diversificação dos géneros. Terceiro, recusei dar uma ordem à lista - tal seria demasiado difícil e obrigar-me-ia a comparar obras muito diversas entre si.
Sem mais conversa, aqui fica a lista:
  • High Fidelity [Alta Fidelidade], de Stephen Frears (2000)
  • The Lord of the Rings - The Fellowship of the Rings [O Senhor dos Anéis - A Irmandade do Anel], de Peter Jackson (2001)
  • Gosford Park, de Robert Altman (2001)
  • Far from Heaven [Longe do Paraíso], de Todd Haynes (2002)
  • A Cidade de Deus, de Fernando Meirelles (2002)
  • Finding Nemo [À Procura de Nemo], de Andrew Stanton (2003)
  • Kill Bill, de Quentin Tarantino (2003-2004)
  • The New World [O Novo Mundo], de Terence Mallick (2005)
  • Persepolis, de Marjane Satrapi (2007)
  • La Graine et le Mulet [O Segredo de um Cuscuz], de Abdel Kechiche (2008)
Nos próximos dias, iremos publicar a lista final, elaborada em conjunto pelos três confusers. Por isso, aguardem com expectativa!
Sally Bowles

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Natal




Maria Braun

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Um Natal com Audrey Hepburn

As comédias românticas têm uma rainha absoluta: chama-se Ninotchka. Depois, temos o Apartamento de Billy Wilder e de seguida este filme, talvez o meu preferido com Audrey Hepburn.

K. Douglas

"The rain in Spain stays mainly in the plain" or yes, it's loverly

Audrey Hepburn, My Fair Lady, 1964.

Proponho um exercício de regresso à infância com a consciência de esta guardar um grande filme: My Fair Lady de George Cukor (1964). Vejamos pois com os olhos de quem sabe reconhecer um grande filme e, também, ao mesmo tempo, com um olhar que se abre e vê o encanto de Audrey Hepburn, que não tinha, é certo, voz para o papel - por isso a sua voz foi dobrada - mas que a reconhece como a eterna Eliza Doolitlle. Podem-se escolher uns quantos momentos em que Hepburn é perfeita. Gene Allen, director artístico do filme, diz no comentário áudio ao filme que ninguém encarnaria melhor uma princesa que Hepburn, referindo-se à prestação desta na segunda parte do filme, onde se comporta como uma senhora. De facto, Hepburn joga em casa. Basta lembrar-nos de Férias em Roma (William Wyler, 1953), onde fez de princesa Ann e das sequências do primeiro baile de Natasha em Guerra e Paz (King Vidor, 1956). Mas se nesses casos há uma naturalidade das personagens nessas circunstâncias, o mesmo não se passa no baile da embaixada em My Fair Lady. Eliza está nervosa. Fica apreensiva quando a rainha da Transilvânia olha directamente para ela e o seu rosto transparece de alívio e de alegria quando esta lhe diz que ela é encantadora. Estes breves segundos são importantes porque conferem consistência à transformação de Eliza. Ela ainda é vendedora de flores desbocada - "Garnn!"- de Covent Garden. E nesse registo "horrivelmente sujo", "deliciosamente baixo", Hepburn não é menos perfeita. É cheia de graça, quer no encanto, quer na sua comicidade. A expressão do rosto é tudo.Veja-se quando dança em cima de uma carroça cheia de folhas de couve e as lança ao ar como se fossem flores. Aliás, nenhuma mulher é mais bonita neste mundo com uma folha de couve na mão do que Audrey Hepburn. Não é a sua voz que se ouve na sequência de Wouldn't it be loverly (apesar de a ter feito com a sua voz - o processo de dobragem foi feito aquando da edição), mas o que se vê não é uma coitadinha a sonhar com uma vida melhor, mas alguém que imagina a alegria ( e mostra-a ao espectador) de sentir a cara, as mãos e os pés quentes, sem ter que fazer nada até à Primavera. A actuação é tão boa que por um momento julgamos estar nesse quente e mesmo quando sabemos que não estamos lá, quando Eliza abre os braços no ar e a carroça a desce, como que a dizer, volta para onde estás, a sua fantasia não perde a alegria. Este descer da carroça é um daqueles momentos mágicos de Hollywood que perdura na memória. E se se ouvir esta sequência com voz de Hepburn, esta descida, por assim dizer, de Eliza é ainda mais conseguida, uma vez que ela confere à palavra cantada "loverly" esse efeito de distanciamento daquilo que ela quer e não tem. Ao mesmo tempo, deve dizer-que que Eliza dificilmente teria uma voz de soprano, não desfazendo Julie Andrews e as suas quatro oitavas, que canta o papel como ninguém.
Dito isto, voltemos a acompanhar os tormentos da pobre Eliza para aprender a falar correctamente, infligidos pelo petulante e misógeno professor Higgins (o momento em que Eliza - uma das poucas oportunidades em que se pode ouvir a voz de Hepburn - imagina a execução do professor sob as suas ordens e com o assentimento do rei é soberbo), assim como o genial percurso do seu pai, um malandro com o maior carácter de sempre: a sua vida é um esforço constante para fugir à moral medíocre da classe média mas é apanhado por ela, precisamente pelo casamento. Apreciemos cada momento, desde o instante em que Eliza se rende ao professor Higgins por chocolate, caixas e caixas de chocolate - todos os dias! -, passando pela primeira prova de fogo em Ascot (produção brilhante) - "Come on Dover! Move your bloomin' arse!" -, até ao grande momento do baile na embaixada e do que daí resulta. My Fair Lady só tem um perigo: uma certa sensação reacionária. Porque é que já não se fazem filmes assim?

K. Douglas

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Umberto Eco, Superstar

Definitivamente, sou uma umbertista (ecoísta, soa mal, não acham?). Seguiria Umberto Eco pelo Mar Vermelho adentro. Algures na Estrada de Damasco da minha adolescência, o Pêndulo de Foucault abateu-se sobre a minha cabeça e ali, meus amigos, eu vi a luz. Desde então, tenho pregado o Umbergelho pelos quatro cantos da minha vã existência, por vezes sem sucesso, confesso. Mas, mesmo assim, consegui fazer alguns neófitos. O K. pode confirmar.
Porque gosto tanto de Umberto Eco? Atentem apenas neste excerto da entrevista que ele deu há um ano para a Paris Review.
"Entrevistador: Leu o Código Da Vinci?
Eco: Sim, também sou culpado por isso. [Antes, ele tinha confessado a sua obsessão por séries televisivas, em particular pelas policiais]
Entrevistador: Esse romance parece uma variação bizarra do Pêndulo de Foucault.
Eco: O autor, Dan Brown, é uma personagem do Pêndulo de Foucault! Eu inventei-o. Ele partilha as mesmas fascinações das personagens: o mundo das conspirações rosa-crucianas, maçónicas e jesuítas. O papel dos Cavaleiros do Templo. O segredo hermético. O princípio de que tudo está ligado. Eu suspeito que Dan Brown nunca deve ter existido."
Oh! Umberto Eco Superstar!
Sally Bowles

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A escritora-bruxa-boa do Sul



O dia da restauração da independência está cinzento. Tomada esta nota, devo dizer que eu nunca li Dos Passos e que, como tal, me arrisco à danação eterna. Mas talvez seja compensado por ter lido recentemente Tudo o que sobe deve convergir de Flannery O' Connor (há um pormenor na biografia de O'Connor que pode interessar os fãs de House MD: a senhora morreu mesmo de lúpus). A Sally anda por Nova York, eu andei pelo Sul conflituoso, mesquinho e assombrado. A leitura fez-me soprar muitas vezes e isso fez-me virar as páginas mais depressa. Nos embates mortais entre família, entre patrões e empregados, entre brancos e negros, entre o Sul e o Norte, entre um mundo que deixa de existir e um novo que não se reconhece, há uma brutalidade que é muito serena ou, melhor, que é habilmente contida pela autora. Em alguns momentos podemos lembrar-nos de algumas coisas do realismo sul-americano (um caso particular é o conto Greenleaf), embora a brutalidade não seja "histérica", assim como as tonalidades do céu do Sul não se prestam a metáforas exuberantes mas "apenas" a uma descrição apurada da sua cor, do tom preciso do seu branco. São dois mundos diferentes, mas tocam-se naquilo que têm de assombroso e na obstinação das personagens que vivem nele. O' Connor garantia-me uma permanência no Purgatório, mas o facto de ter lido numa assentada Lunar Park de Bret Easton Ellis leva-me de novo para a barca danada. Diga-se de passagem que é muito bom.

K.Douglas

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Saudades dos Marretas



Fica como uma espécie de prenda de anos para o blog.

Maria Braun

Segundo aniversário: felicitações, provocações carinhosas, uma saudadinha e o não-sentido do costume

Devo dizer que sim, que me lembrei do nosso aniversário. Mas as circunstâncias não me permitiram escrever nada no dia. Parabéns! São dois anos de confusão: temos posts que fariam a inveja dos primos ricos da blogoesfera e temos posts que, enfim, não lembram ao menino Jesus ( muitos dos quais se devem a mim). Nascemos em Benfica (Campo de Ourique soaria melhor, bem sei) e agora andamos entre Lisboa, Londres e uma cidade miserável no Alentejo. Julgo que isto determinará alguma da eventual peculiaridade do blog, tal como (não levem a sério o que se segue) a torta estrada de Benfica que combina lojas de móveis de gosto duvidoso com cafés com alguma pretensão, aos quais se juntam velhas lojas de brinquedos com jogos da Majora na montra, debotados pela luz dos anos, assim como as drogarias com tampas de sanita à entrada, as inúmeras marquises cinzentas da classe média que apertam o Beau Séjour e, ainda, o sol dourado branco do entardecer, quando se sobe. Duramos, de certeza, mais um ano. De resto, devo dizer que as minhas amigas são umas senhoras e que eu sou um rapaz rude que se esforça para ter maneiras, mas que ficou com boa parte do já famoso e, posso garantir-vos, maravilhoso semi-frio de maracujá (à venda no El Corte inglés). Espero também que a nova casa da Sally tenha no hall uns azulejos tão maus-bons como a casa em que o blog nasceu. Finalmente, Maria: tenho inclinação por baunilha, limão, chocolate, claro está, e se falamos de iogurtes, devo acrescentar coco.
K.Douglas

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Aniversário II

Parabéns a você, nesta data querida... lalalalala....
Estava aqui a pensar no semi-frio de maracujá que o K. levou para casa.
Mnham! Mham! Miau!
Sally Bowles

Aniversário

O nosso blog celebra dois anos de vida. Partilhemos um bolo virtual. Qual é o vosso sabor preferido?
Maria Braun

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Apenas uma sugestão de leitura

Vou falar-vos do meu último livro de cabeceira.
Perdoem-me a ignorância mas descobri John Dos Passos há pouco tempo. E acreditem que senti agora o peso dessa lacuna no meu currículo de leitora. Parafraseando alguém que eu, a Maria e o K. conhecemos em tempos passados - Sim, eu mereceria ir para o Inferno se nunca tivesse lido Dos Passos. Felizmente, acrescentei um carimbo ao meu passe para o Céu.
O livro é Manhattan Transfer, recentemente editado pela Presença com tradução e notas (não de rodapé, lamentavelmente) de João Martins. Através de cerca de quatrocentas páginas, Dos Passos leva-nos pela mão a calcorrear as ruas de Nova Iorque. Está bem que é a Nova Iorque das primeiras décadas do século XX, de Gershwin nos gramofones, dos homens de gabardina e chapéu de feltro, das senhoras que empoeiravam o nariz. Mas é essa a Nova Iorque que eu desejava conhecer e não a Big Apple dos Big Macs.
Um conselho, tire um fim-de-semana para o ler e petiscar alguma coisa entre os capítulos. Não é um livro afecto a interrupções, a uma leitura entre o Campo Grande e o Saldanha. A narrativa é fragmentada, nem sempre fácil de acompanhar. As personagens são muitas e dispersas num percurso temporal de cerca de 30 anos.
Mas, acreditem, vale o fim-de-semana. Porquê? Dos Passos explica, num instante na vida de Ellen (e que magnífica personagem, esta!):
"Recosta-se no fundo do táxi de olhos fechados. Relaxar, tem de permitir-se relaxar mais. É ridículo andar sempre por aí toda enervada até tudo se transformar em giz que chia em quadro preto. E se eu tivesse ficado horrorosamente queimada, como aquela rapariga, desfigurada para toda a vida? Provavelmente vai conseguir bom dinheiro da velha Soubrine, o começo de uma carreira. E se eu tivesse ido com aquele rapaz de gravata feia que me tentou seduzir?... Meia dúzia de larachas diante de um banana-split ao balcão de uma geladaria, cidade acima de autocarro e cidade abaixo outra vez, com o joelho dele contra o meu e o braço dele á volta da minha cintura, umas carícias mais ousadas num portal... Há vida para viver, bastava não dar importância. Importância a quê, a quê? À opinião da humanidade, ao dinheiro, ao sucesso, aos átrios do hotel, à saúde, aos guarda-chuvas, às bolachas Uneeda...? É como um brinquedo avariado esta minha cabeça sempre a fazer brrr sem parar. Espero que ainda não tenham pedido. Se não tiverem convenço-os a ir jantar a outro lado. Abre o estojo de maquilhagem e começa a pôr pó-de-arroz no nariz".
Bem-vindos a Nova Iorque!
Sally Bowles

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Um filme e duas pequenas notas

Há cerca de 3 semanas que ando para colocar este texto no blog. Eu sei, eu sei… Em primeiro lugar, quero agradecer ao K pelo vídeo. Em segundo lugar, uma menção a Mad Men, cuja terceira série terminou este fim-de-semana na televisão americana. Foi uma temporada diferente, mais centrada na vida doméstica dos Draper do que no escritório e, para mim, não tão perfeita como as duas primeiras. Preciso, no entanto, de a digerir primeiro, antes da minha opinião final. Mas deixem que vos diga uma coisa, o último episódio foi fenomenal. Um dos melhores de sempre nesta série (o que é uma meta bem difícil de atingir, diga-se de passagem). Mas vamos ao tema central deste post.
Um dos filmes que tive o prazer de ver em Outubro no London Film Festival foi a estreia de A Single Man, de Tom Ford, que deve abrir comercialmente nos finais deste ano ou inícios do próximo. Para mim, este era um filme obrigatório – uma adaptação de Isherwood com Colin Firth? Já lá estou. Tinha alguns receios, como é óbvio. Afinal, é realizado por um designer de moda. Havia uma grande probabilidade de se parecer com um anúncio a um perfume. Nada mais errado. É belíssimo, sem dúvida, mas não deixa que a estética se sobreponha à história que quer contar. A autenticidade emocional é inegável. É um filme perfeito? Nem pensar, mas o argumento e a realização de Ford são consistentes e excelentes para um estreante, de uma grande elegância. Há um certo kitsch, sobretudo no uso (óbvio) das cores, mas é um kitsch Almodóvar, que não prejudica o filme. E, por falar em Mad Men, A Single Man partilha com esta série a atenção aos pormenores mais minuciosos do estilo dos inícios de 60, desde o design de interiores ao guarda-roupa. É uma delícia visual, que consegue substituir o monólogo interior de Isherwood por uma série de imagens que transmitem a evolução no estado de espírito do personagem central, atingindo o objectivo que uma adaptação cinematográfica de um livro como este deve ter.
A âncora do filme é, no entanto, a interpretação de Firth. Desde que ganhou o prémio de melhor actor no Festival de Veneza, em Setembro, Colin Firth tem sido apontado como um dos mais fortes candidatos ao Óscar no próximo ano (os críticos já consideram a nomeação como certa). Deixem que vos diga: o hype é merecido e ainda bem. Firth é um actor notável que tem sido completamente desaproveitado pelo cinema e que não tem conseguido um papel à sua altura. Claro que uma das principais razões foi ter sido vítima de typecasting depois de Orgulho e Preconceito e de, pelo menos em Inglaterra, o seu nome ser sinónimo de Mr. Darcy. Finalmente, Firth brilha com uma grande interpretação num óptimo filme. Espero que A Single Man seja para Firth o que Victim foi para Dirk Bogarde. Todo o elenco é aliás, digno de nota, incluindo a sempre fabulosa Julianne Moore.
A Single Man conta a história de George Falconer, um professor universitário, nos anos 60, que perde o seu companheiro num acidente de automóvel. Com ele, perde também o desejo de viver (o filme segue uma direcção diferente do livro de Isherwood). A história centra-se num só dia, que Falconer pretende que seja o último. É uma preparação para o suicídio, o acompanhar dos passos finais, das visitas e dos gestos obrigatórios na despedida. No entanto, Falconer vai encontrando, ao longo do dia, imagens, pessoas e momentos que criam dúvidas sobre a validade da sua decisão. É uma trajectória transfiguradora no espaço de um dia. É uma trajectória que vale a pena seguir. Recomendado.


Maria Braun

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

In a quiet house at the top of the hill

Se a ideia de haver música sazonal for acertada - se, de facto, houver tempos, cores do céu, para determinadas bandas, então Setembro é o mês dos Fleet Foxes. As canções abraçam as folhas que dizem que vão cair, as flores que se fecham, o sol que muda no equinócio e que torna as tardes douradas. Enfim, são perfeitas.

K. Douglas

(não) correspondências

Deve ser a triste modorra do interior que me fez sorrir com o post da Sally. Lembrei-me do cheiro adocicado das pipocas do marquês de Pombal que, não sei porque razão, sempre achei confortável.

K. Douglas

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Atchim!!!

Antes de tudo, uma pequena observação estatística. Este é o post número 37 do ano 2009. Não se trata de uma efeméride mas antes de um motivo para frisar que no ano passado chegámos ao simpático número 71. Portanto, temos cerca de dois meses para escrever, pelo menos, mais 34 posts. Estou preocupada com a recessão bloguística, camaradas blogueiros!
Mas não era esta a inquietação que queria partilhar convosco.
Há uns dias atrás fui atingida por um fruto da época - uma mísera, simples e banalíssima constipação. Porém, vivemos em tempos estranhos em que cada "atchim" lança uma suspeita de perigo eminente. Neste caso, o perigo parecia residir na minha humilde pessoa.
Estar constipada é sempre desagradável, claro! A dor de garganta, o nariz a pingar, a tosse intermitente não são propriamente "some of my favorite things". Contudo, quando estes sintomas geram olhares de medo entre os desconhecidos com que nos cruzamos pela rua, acreditem que é uma situação com o seu quê de lúdico. É como se fosse Carnaval e eu me tivesse mascarado de pacote de antrax.
No metro, a situação torna-se ainda mais caricata. Não se ouve nenhum "Santinho!" ou um "Saúde!", antes um enxorrilho de expressões reprovadoras que poderiam ser traduzidas num "Quarentena!!". E eu, na plena consciência da inocuidade da minha constipaçãozinha, não resisto em fazer tábua rasa dos protocolos. Até porque espirrar para o cotovelo dá pouco jeito! E é ver a senhora da revista Maria a mudar de lugar, o senhor com os sacos do Pingo Doce a se afastar um pouco de encontro à porta. Será que se eu tocar no varão e acariciá-lo provocatoriamente como uma striper lúbrica, verei os cautelosos utentes do Metro de Lisboa a arriscarem uma fractura na tíbia na próxima curva abrupta?
Pois é, meus amigos, uma solução para conseguirem espaço no metro apinhado em hora de ponta - Atchim!!!
Sally Bowles

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Seasons

Ai, ai, há um dia de Outubro importante para a Maria e eu esqueci-me, outra vez. Fica aqui um vídeo para ela e para esse dia.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Os bons velhos tempos!

Estou num momento de listas. Não sei se está relacionado com a febre eleitoral, algo parecido com Gripe A mas em que a diarreia se manifesta verbalmente. Pensando bem, podia dar-me para pior e andar por aí a abanar bandeirinhas, enquanto gritava slogans reles em louvor de espécimes de homo camararius. Mas mantenhamos no nosso Confuse um nível de ridículo aceitável.
Sinto algo de nostálgico no ar... deve ser do regresso dos 80s em força. Até estivemos no limiar de ter uma Sra. Thatcher na cadeira do poder (isso sim, seria um momento verdadeiramente asfixiante!).
Resolvi, então, imbuir-me de um espírito conservador e fazer uma breve lista de algumas das coisas que me fazem suspirar “Ai, os bons velhos tempos!”:

  • O Agora Escolha (onde anda a Vera Roquete?)
  • Picotar (e o mundo seria melhor se todos picotássemos!)
  • Jogar ao Stop a comer pipas;
  • A Ana dos Cabelos Ruivos
  • Sandes de fiambre e lei com Cola-Cao
  • O Herman do tempo do Herman Enciclopédia (sem nuances loiras)
  • Lápis de cor e borrachas com cheiro
  • Duarte & Companhia (e a grande Joaninha, um ícone da emancipação feminina!)
  • Camisas de flanela e All Stars rompidas
Enfim, um post de portuguesinha saudade!
Sally Bowles

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Uma nota sobre o caso Público

O Público sempre foi o jornal lá de casa. Depois do desaparecimento do Diário de Lisboa (contaram-me, porque não tenho memória desses tempos) instalou-se uma sensação de vazio e de falta de um jornal diário de referência numa casa de ávidos leitores. O Público veio preencher este vazio e, desde que saiu o primeiro número, tornou-se uma compra diária. Lembro-me de começar a ler o jornal desde muito cedo, a princípio por causa de Calvin & Hobbes e, posteriormente, porque me tornei numa precoce entusiasta da política. No entanto, o entusiasmo com o jornal morreu um pouco com a saída de Vicente Jorge Silva e as mudanças na direcção. José Manuel Fernandes representava uma linha política diferente, na qual nenhum de nós se reconhecia. Isso não implicou uma mudança de jornal da nossa parte porque, para dizer a verdade, não havia nenhum outro diário de referência no pobre panorama jornalístico português. O Público continuou a ser o melhor porque abria espaço ao comentário, aos cronistas, para além da notícia pura e simples; porque queria ser um espaço de debate. Contudo, ao longo dos anos, a minha insatisfação cresceu. Por um lado, porque a qualidade da escrita deixa, por vezes, muito a desejar para um jornal que se quer destacar da mediania. Erros gramaticais, ignorância de alguns jornalistas (desde quando é que a época vitoriana se situa no século XVIII ou que o Império do Sol Nascente é a China?), para além da recorrente prática jornalística de copiar artigos da wikipedia ou de outros jornais ou blogs internacionais sem nunca referenciar as fontes. Sendo eu leitora assídua, por exemplo, da imprensa cinematográfica internacional e de vários sites, quantas vezes encontrei eu artigos sobre cinema que não eram mais que uma mera tradução de outros que já tinha lido online? Eu sei que isto se faz em todos os jornais mas volto a dizê-lo: o Público apresenta-se como uma referência. Nos últimos anos, tenho tido a sensação que este jornal se preocupa cada vez mais com a imagem e cada vez menos com a qualidade dos jornalistas.
O pior de tudo, no entanto, foi a viragem política na direcção. Isto tornou-se ainda mais grave no último ano e tal, depois dos problemas de Belmiro de Azevedo com o governo socialista. O “patrão” impôs claramente uma agenda que em nada colidia com a linha política do pró-PSD José Manuel Fernandes. Deixem que vos diga uma coisa: não voto no PS e não gosto de Sócrates. Até eu, contudo, que não tenho simpatia nenhuma por este governo, sou capaz de perceber (e muitas vezes discuti isto no último ano) que há uma campanha contra Sócrates, cheia de ataques pessoais ao Primeiro-Ministro. É demasiado óbvio.
Depois de tudo isto, quero apenas dizer uma coisa: não o escondam. Em Portugal, os jornais têm um grande receio de se apresentarem como defensores de uma determinada linha política, porque acham que têm de projectar uma imagem de isenção. Mas porquê? Não há mal nenhum em se ser partidário, mas sejam honestos em relação a isso. Muitos jornais de referência por esse mundo fora apresentam claramente as suas opções políticas. O New York Times sempre se alinhou com os democratas; todos nós sabemos qual é a linha política do Le Monde ou do El País. Em Inglaterra, há um perfil de leitor para cada jornal, desde um Guardian a um Daily Telegraph (ou Torygraph, como é chamado pelos seus opositores). Eu leio o Guardian e identifico-me com o perfil do típico "Guardianista". Eu sei que ninguém lê este blog, mas mesmo assim deixo um apelo: sejam transparentes. Se o Público ou qualquer outro jornal tem uma determinada linha política, admitam-no. Os leitores mais atentos sabem perfeitamente onde é que o seu jornal se situa no espectro político, para quê, então, escondê-lo? Deixem-se é de jogos sujos.
Eu continuo a ler o Público, não tão atentamente como há uns anos atrás, mas continuo. Não me identifico com a linha política, acho que tem perdido qualidade, mas mesmo assim não tem competição. Por isso mesmo acho que, se o jornal quer manter o prestígio, tem de começar a ser honesto com os leitores. Assumam-se como oposição, não tentem mostrar isenção. Apenas têm a ganhar em credibilidade. Isto aplica-se a todos os jornais portugueses.
Maria Braun

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Versões

Continuando dentro do mesmo tema (será este o mês dos Beatles aqui no blog?), encontram abaixo duas versões de canções dos Beatles. A primeira é uma sátira de Peter Sellers ao Ricardo III de Laurence Olivier – Sellers imita o estilo do actor mas com um twist, recitando A Hard Day's Night em vez do texto original. A segunda é retirada de uma actuação ao vivo: Rufus Wainwright, Moby e Sean Lennon interpretam Across the Universe.






Maria Braun

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

"O Absoluto que pertence à Terra"

Bem, eu passei o Verão de 2007 a ouvir Beatles e nessa altura disse que o meu disco preferido deles era o Abbey Road. Na véspera de Natal do mesmo ano comprei um poster deles e vi este vídeo. Lembrei-me que esta é a minha canção de infância dos Beatles e que cantava com grande contentamento os lalalalalala.

K. Douglas

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Revolver

A Day in the Life também é uma das minhas preferidas, Ms. Bowles. E não dei uma resposta ao repto porque esperava as vossas reacções. Para além do mais, a minha resposta é previsível, apesar de não ser nada fácil escolher um só álbum dos Beatles. A minha primeira escolha é Revolver, seguido de perto por Rubber Soul. No entanto, se me tivessem feito a mesma pergunta quando tinha 11 anos, a resposta seria A Hard Day’s Night.
Revolver porque é o primeiro álbum experimental da carreira dos Beatles, porque é arrojado, inovador e praticamente perfeito. E tem Tomorrow Never Knows. Rubber Soul porque é o primeiro passo para a essa mudança representada por Revolver – apesar de ser pop, é uma pop mais madura que a dos álbuns anteriores e é a manifestação do desejo de ultrapassar a Beatlemania. Falando de canções individuais, é difícil bater um conjunto como este: a belíssima In My Life (outra das minhas preferidas), Nowhere Man, Girl, Norwegian Wood… Lennon é excepcional neste disco.
Quem me oiça poderá pensar que eu não gosto da fase mais pop ou que a considero inferior, mas isso não é verdade. Adoro os primeiros discos dos Beatles e continuo a ouvi-los regularmente. No entanto, os Beatles tinham a necessidade de dar o salto a seguir a Help!, de forma a continuarem musicalmente relevantes. Poderia ter sido um falhanço – acabou por ser um dos momentos mais importantes na história da música popular, tal como a Beatlemania o fora escassos anos antes. Para além disso, são discos que ouço vezes sem conta sem encontrar falhas relevantes; e Revolver, sobretudo, continua a ser actual e inultrapassável.
Maria Braun

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Ah, o Sargento Pimenta!

Não posso deixar de responder ao apelo da caríssima blogueira Maria Braun. Os Beatles também fazem parte da minha infância – e não, não sou uma sexagenária. Sou antes a prova viva de que foram muitas as gerações que cresceram à procura do submarino amarelo e da Lucy dos diamantes. Se alguém souber da senhora dos diamantes, diga-me qualquer coisa porque até dava jeito.
Escolher um álbum dos Beatles é uma tarefa ingrata, Fraulein Braun... Aliás, repararam como quem lançou o repto não deu uma resposta? Pois, pois!!
Confesso que tenho um fraquinho pelo Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. Gosto do lado mais lúdico e “transformista” dos Beatles! Mas gosto sobretudo porque é o álbum que contém aquele que, ao lado do “Strawberry Fields Forever”, é possivelmente o meu tema favorito dos Fab Four, “A Day in Life”. Além do mais, o Ringo canta!! With a little help from my friends, como é claro.
Sally Bowles

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Dia dos Beatles

Não posso deixar de assinalar o dia 09/09/09, com o relançamento do catálogo dos Beatles (sobretudo sendo esta a “semana dos Beatles” na BBC, que tem passado documentários bem interessantes sobre a banda e a “invasão britânica”). Se tivesse de escolher a banda que mais me marcou, eles seriam a escolha mais óbvia, porque sempre estiveram presentes. John Lennon foi uma obsessão de infância, apesar de ter nascido alguns anos depois da sua morte. O facto de ter a discografia completa da banda (e os filmes) significa que não irei comprar tudo de novo, mas mesmo assim fica a referência.
Pois é, aqui coloco mais um vídeo – parece que é a minha especialidade neste blog. Já agora, uma pergunta aos meus caros companheiros: qual é o vosso álbum preferido dos Beatles?
Maria Braun

sábado, 5 de setembro de 2009

Por falar em Cole Porter

Night and Day de Cole Porter com Fred & Ginger
Maria Braun

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Don Draper e os alfarrabistas

Só tu, cara Sally, me fazes abandonar o estado de hibernação. Surpreendentemente, ainda ando por cá. Pois é, quando a nossa actividade é escrever, torna-se difícil manter o blog como passatempo. Aqui vai a minha lista, sem ordem de preferência:
Ouvir Cole Porter pela noite dentro. Let’s do it
Cachecóis
Cheirar folhas de chá
Ver as duas primeiras séries de Mad Men em repeat
Filmes antigos em preguiçosas tardes de Verão
Peças Art Déco
Um chocolate quente em Dezembro
Atravessar a ponte de Waterloo
Chuva no Verão e sol no Inverno
Livros com velhas encadernações (e aquele cheiro)

Maria Braun

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Os narizes, as ameixas e os tops

De facto, não me dei conta dos dois grandes narizes que estão atrás das mulheres que rodeiam o nosso primeiro. E isto compromete a minha gracinha. Pena. No que diz respeito ao top 10 da Sally, devo dizer que tenho o maior respeito por ele e que sim: Umberto Eco é sexy (embora a imagem da ameixa em calda seja perturbadora). Aqui vai o meu top 10:

1-Ver Lisboa da ponte 25 de Abril.
2-Séries de televisão.
3-Bacalhau com broa.
4-Minis.
5-Ter a secretária impecável.
6-Pullovers de Outono.
7- A minha edição do Office inglês ou David Brent e os The Corrs.
8-Doce Fino (os bolinhos com sabor a amêndoa do Algarve).
9- Já fui conquistador dos Da Vinci? Foram oceanos de amor?
10-Abrir as encomendas da Amazon.
K. Douglas

domingo, 30 de agosto de 2009

Pastéis de Belém

Antes de tudo, obrigada ao K. pela publicação do cartaz. Assim, os caríssimos leitores têm a oportunidade de ver aquilo a que eu chamo de "expressão de prisão de ventre" do nosso primeiro. Francamente, K., não considero isso muito sexy. E olha que a minha opinião tem uma mais-valia - é feminina. Só uma pequena correcção: Sócrates não está literalmente rodeado do "mulherio" - consigo contabilizar uma nuca e dois narizes masculinos. Acredita no minha autoridade de star de cabaret!
Mas o assunto que me leva a escrever estas curtas linhas é outro. Estava a ler um post no site da revista New Yorker em que o autor, cujo nome não recordo, fazia uma exaustiva lista sobre todas as coisas que eram melhores do que um cachorro-quente comprado a um vendedor de rua em Nova Iorque (isto a propósito de um comentário feito por um amigo do dito autor de que existiam poucas coisas melhores do que tal iguaria).
Pus-me a pensar - algo que faço recorrentemente enquanto aqueço a voz com um generoso copo de gin - sobre qual seria o equivalente português ao dito cachorro. Ocorre-me os pastéis de Belém, os estaladiços, quentinhos e salpicados de canela pastéis de Belém. E olhem que é difícil fazer uma lista do que há de melhor do que isso!
Proponho uma curta lista de 10 itens. Era catita se o K. e a Maria a completassem. Aqui vai:
- Dormitar depois do toque do despertador;
- Fazer zapping initerruptamente quando há tanto trabalho à nossa espera;
- Uma máquina de lavar-loiça;
- O Festival da Eurovisão;
- O cheiro a relva cortada;
- Siricaia com uma bela ameixa de Elvas;
- Umberto Eco (com ou sem a ameixa);
- A luz de Lisboa;
- A música do Dartacão (é a minha madalena!)
- O nosso blogue - juro a pés juntos que é verdade!
Sally Bowles (e não me venham dizer que não sou produtiva!)

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Este cartaz?!

Sally da minha vida! Já começava a pensar que eu estava para aqui e tu longe, num templo a orar a Confúncio ou, então, pior do que andarmos um para outro irresistivelmente, arrebetadoramente, fulgurosamente, pensei que o Diogo Infante te tivesse encontrado (andava à tua procura no verão passado, bruscamente, sem saber por onde andavas, nem o que fazias). Subscrevo tudo o que escreveste, com excepção dos juízos sobre o magnífico cartaz do PS, que está posto em cima. É que não está rodeado de gente, Sally. Está cercado de mulheres. Isso merece, à primeira vista, algum respeito - Ah! Ganda Sócrates! Ali está ele, sem casaco, camisa impecável, charmoso, no meio do mulherio mais ou menos novo. Estás a ver a diferença de estilo? O Portas poria as velhas com pêlos nos queixo ao lado dele e Louçã, se fosse mais inteligente, poria as gajas giras e sexy que o bloco, não sei como, consegue arranjar. Mas não, as meninas de Sócrates têm um ar de trabalhadoras, de possíveis funcionárias públicas, na casa dos trinta e muitos anos, com excepção da rapariga que mostra todo o rosto. Em certa medida até é um cartaz bem português, tanto mais se pensarmos nele numa outra perspectiva. Substituam-se as possíveis funcionárias públicas, ou as mulheres da classe média urbana, por trabalhadoras rurais e o efeito é imediato: quando o senhor engenheiro chega para saber como vai o trabalho, todas acorrem para ele (o capataz permite, porque assim lhe foi dito). O Senhor engenheiro congratula-se pelo trabalho feito e sublinha que o sucesso da herdade não seria nenhum sem a força delas. Nós é que agradecemos, senhor engenheiro. Tão bom que o senhor é para nós. Ora essa, podem contar sempre comigo. Mãos à obra! - Exclama o senhor engenheiro, despedindo-se, e entra para o jipe, queixando-se que tem terra nos sapatos. Mas mais do que isso, a cumplicidade entre o mulherio e o senhor engenheiro tranforma-se no que parece ser uma possível tensão erótica. O senhor engenheiro torna-se assim num sex-symbol, acalentando desejos e vontades. Não é o melhor cartaz de sempre - esse pertence a Mário Soares -, mas será o segundo melhor na história da democracia portuguesa, ainda que por razões diferentes das do primeiro.
K. Douglas

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Sally, o Regresso

Eu sou um daqueles raros casos que consegue vislumbrar algum encanto no período pré-eleitoral. Campanhas, debates, tempos de antena, cartazes, beijinhos em criancinhas ranhosas – não podemos negar o potencial cómico disto tudo. Muitos discursos parecem um verdadeiro exercício de stand-up comedy e os frente-a-frente estão ao nível de um bom sketch dos Marretas.
Sugiro apenas uma breve reflexão sobre os cartazes que despontam um pouco por todo o país. Olhando os do PSD, não posso deixar de louvar o trabalho de quem é capaz de tornar a fácies de Manuela Ferreira Leite ainda mais desagradável, com um quê de professora primária tirânica, pronta a dar umas palmadas em quem não souber a tabuada (ou o défice público). E o PS, bem... Já viram aquele cartaz em que José Sócrates aparece entre um magote de gente esfumada mas que o contempla como se fosse o novo Messias? Aquela expressão é o quê? Prisão de ventre? Será que o nosso primeiro-ministro precisa de consumir mais bifidus activo?Os dois partidos de esquerda mantêm a sua imagem de marca – o PCP sempre a tocar a mesma cassete (citando Brüno, “Isso é tão Álvaro Cunhal!”) e o Bloco com a sua política-combate, um autêntico “Fight Party”. O PP não desilude. Repararam nos novos cartazes? Não me refiro àqueles reaccionário-populistas do tipo “Concorda com o rendimento mínimo para quem não quer trabalhar?”, ou “Acha bem um governo que protege os ladrões e condena os polícias?”, ou “Não considera uma falta de gosto sapatos que não combinam com a ponchete?”. Estou a pensar antes num outro cartaz em que Paulo Portas aparece com o ar ameaçador do género “Vou-te comer!” (e não no sentido divertido do termo, embora tal também fosse uma opção de marketing viável...) ao lado do slogan “Há cada vez mais gente a pensar como nós”. É um facto... assustador.
Sally Bowles

terça-feira, 28 de julho de 2009

"You were Marlon Brando, I was Steve McQueen"


Vi há poucos dias o filme The Great Escape (John Sturges, 1963) e fiquei sem saber o que pensar. No entanto, ao ver como ando sozinho no blog, decidi forçar-me a escrever qualquer coisa. Tenho o chamariz perfeito e com isso a ocasião perfeita para utilizar o título perfeito - um verso da Is This What You Wanted, canção que abre New Skin for the Old Ceremony de Leonard Cohen. Feitas as contas, The Great Escape é um filme aceitável com alguns momentos cool McQueen - precisamente, The Cooler King - e com uma mão de lines com um certo humor Wilder (isto é um grande elogio). Um grupo de tropas aliadas encontra-se detido num campo prisional nazi. Os homens serão tratados com decência (dispõem de actividades, de uma biblioteca, etc.). A única coisa que não é permitida são fugas. Bem, o título do filme diz tudo. E tudo porque não se trata de uma fuga isolada, mas qualquer coisa como a fuga de 250 homens. Como? Escavando um longo túnel que os levará à liberdade e cujo processo está à altura dum Michael Scofield. Bem, há uma comicidade no filme, sublinhada ou até mesmo exagerada pela música, que não deixa de resultar numa espécie de placidez que, por um lado, deixa quase intacto qualquer domínio de desespero (também não é essa a intenção do filme), mas que, por outro, não deixa de lhes fazer frente. Um bocadinho Hollywood tricky, mas good enough. Pode assim compreender-se a cool thing de McQueen na solitária, lançando a bola de baseball contra a parede. Promissora.


P.S - A foto não é do filme, nomeadamente da sequência da fuga de mota de McQueen. Mas meninas, veículos motorizados são a imagem de marca da carreira e da vida de McQueen. Por outro lado, parece que o modelo usado no filme é dos anos 60.
K. Douglas

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Devoção
















hands over your eyes
recalling your size
is it the right time
for the game we play
in all kinds of weather

Beach House

Há dois discos perfeitos para certas noites de Verão: Devotion dos Beach House e A River Ain't too Much to Love de Smog. A altura ideal para os ouvir é quando a noite começa a ficar alta, quando se faz sentir um pequeno, mas não desagradável, frio, quando o único vestígio cronológico no céu são duas luzes pequenas que andam e piscam lá no alto e que se identificam como pertencentes a um avião que vai para um sítio que não se consegue imaginar. Claro que não é preciso este estado de coisas para ouvir os discos, mas a minha vontade de o descrever deve-se ao poder destas canções e, por extensão, ao poder da música. É que se há uma dificuldade em expressar como as canções nos tocam, sendo aquilo que possamos dizer muito reduzido - normalmente ao simples e verdadeiro "é lindo" - , é também verdade que esse toque tem uma força que, por uma hora ou duas, nos coloca numa sensação de afinidade com as coisas (ainda que não seja completa) na qual as frases inacabas fazem sentido e a necessidade de dizer qualquer coisa fica saciada. Talvez pela comoção despertada por estas canções (não se consegue ser indiferente a Astronaut ou a Say Valley Maker), talvez porque o pensamento forme e fixe imagens.
K. Douglas

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Abismo

Esta promo de Six Feet Under fez-me escrever uma coisa ou outra há já bastante tempo atrás. Recentemente, e por acaso, um amigo leu a folha e disse que era muito arrogante e injusto com a banda. Teve necessidade de os defender. Ainda assim, o que estava escrito tinha alguma piada. Essa pequena concessão, acompanhada de incerteza, fez-me deixar aqui o texto.
Os Coldplay, no máximo, eram aquela banda que serviria para respirar numa daquelas saídas à noite em que se está com pessoas novas e cujo gosto musical é mais que duvidoso (e tudo aquilo que possam dizer). Enfim, seria aquela banda que passaria no carro de um dos novos colegas de trabalho, quando se sai de um bar para outro sítio e que até se enquadra com a ideia de diversão, de distracção e de momento pseudo-profundo da noite. Muito provavelmente, o condutor nem teria o disco. Deveria ser o que estaria a passar na RFM. Uma pessoa até acharia piada à coisa e sorriria condescendente. Podia ser bem pior, ou não. Mas pode ser que uma promo de Six Feet Under mude tudo isto ou que, pelo menos, durante um minuto, os Coldplay pareçam perfeitos. Mas não. Passado algum tempo, sabe-se que o mérito é dos actores e de quem realizou e montou a promo.

K. Douglas

quarta-feira, 17 de junho de 2009

"It's a wicked life"

Pensei que seria boa ideia escrever qualquer coisa séria para o blog. Qualquer coisa com conteúdo, com opinião. Sim, seria bom esforçar-me. Por exemplo, seria porreiro falar das muitas vezes que tenho ouvido Dylan nestes tempos e de como isso me tem deixado contente. Que leio as letras com uma grande satisfação, que adoro a Simple Twist of Fate, que fico comovido a um ponto constrangedor com a Desolation Row, que pego com delicadeza exagerada na minha cópia do Blonde on Blonde e que ouço em repeat a Visions of Johanna. Mas não dá.
K. Douglas

terça-feira, 16 de junho de 2009

"O rio que é verdade"

Sempre que ouço Evaporar dos Little Joy lembro-me do Tejo. Não sei se por saber que a ideia do projecto nasceu em Lisboa. Bem, a letra ajuda bastante: "o rio fica lá, a água que correu chega na maré, ele vira mar." Não consigo deixar de ter uma espécie de evasão de rapaz de classe média - como se estivesse no Cais de Sodré à espera do barco para Cacilhas ou para o Seixal. Parado, deixo que os golpes de luz branca da água me entrem nos olhos e façam crescer qualquer coisa.
K. Douglas

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Ir à bola!

Eu sei que a nossa especialista em cinema é a Menina Braun mas hoje vou entrar de leve no campo da nossa "Mata-Hari do milagre económico".
No passado fim-de-semana fui ver o filme comemorativo dos 60 anos do Festival de Cannes, Cada um o seu cinema (Chacun son Cinéma). Para os mais distraídos aqui fica uma breve sinopse: foi pedido a 33 realizadores que fizessem um filme de 3 minutos sobre o cinema, o seu público e o seu espaço, as salas. O resultado foi uma mescla de curtas (ou melhor, de curtíssimas) muito díspares e que conferiram uma grande heterogeneidade ao produto final que não deixa de ser interessante.
Como é costume neste tipo de produção, há fragmentos melhores que outros (não compreendi que raio de obsessão era aquela pela cegueira!!) mas todos perfeitamente reconhecíveis no estilo de cada um dos realizadores. Por exemplo, a curta de David Lynch é identificada logo no primeiro segundo, como não podia deixar de ser. Mas o mesmo acontece com Cronenberg, Van Sant ou mesmo com o nosso Oliveirinha e a sua bem disposta contribuição (Ah! A barriguinha do camarada papa!).
Apesar de todas as sequências merecerem um post, hoje apenas queria falar da curta-metragem de Ken Loach que surge no final. Um pai e um filho numa fila para a bilheteira tentam decidir que filme irão ver, perante a impaciência das outras pessoas que também esperam pelo seu bilhete. As sugestões do pai para o filho adolescente não deixam de ser curiosas - uma caricatural tendência para o cine-lixo. Os que esperam na fila também dão as suas sugestões. Ficamos com a ideia de que nós não poríamos os pés naquele cinema, de certezinha absoluta! Quando chegam ao final da fila, perante a impaciência da rapariga da bilheteira, o pai toma uma decisão que é imediatamente aplaudida pelo filho - vamos mas é ao futebol!
Pois é, meus caros, hoje troquem a sala de cinema pelo Barcelona-Manchester (Barça! Barça!). Então se estão a pensar ir ver os Anjos e Demónios, é mesmo o melhor que têm a fazer. Embora a ideia do Ewan McGregor a fazer de padre não deixar de ser... enfim... falta-me a palavra... passo a bola à Maria Braun que percebe melhor disso do que eu!
Sally Bowles

sábado, 25 de abril de 2009

Aniversário da revolução


Foi com alguma tristeza que a meio da tarde me dei conta que ainda não tinha feito nada que dedicasse a este dia. Celebremos Abril e combatamos a pequenez dos dias e da vida.
K. Douglas

segunda-feira, 23 de março de 2009

Ainda Jools

Resolvi continuar com o que se pode chamar “homenagem a Later”. Mais três actuações retiradas do programa de Jools Holland, agora só com vozes femininas. A primeira é Bjork, com Hyperballad, em 1996.



Segue-se Tori Amos, com Suede, em 1999.



Por fim, a primeira actuação das três, em termos cronológicos. São os Portishead, com Glory Box, em 1994.



Enjoy!

Maria Braun

quarta-feira, 18 de março de 2009

Ao vivo com Mr. Holland


Pulp, I Spy (1995)

Por falar em programas televisivos que vemos religiosamente, acho que é tempo de mencionar Later with Jools Holland. Durante toda a segunda metade dos anos 90 e primeiros anos desta década não perdi uma única emissão. Quando penso na televisão que via na altura, esta é uma das minhas referências. Na década de 90, quando muitos programas de música apostavam nos videoclips e deixavam transparecer a influência MTV, era um alívio ver Later. Não era, nem por sombras, perfeito, mas conseguia ser ecléctico, misturando os sabores do momento com “clássicos” ou com algumas escolhas pessoais de Holland (muitas no campo da “world music”). Juntava-se cinco ou seis bandas ou músicos num único espaço, tocando alternadamente, e Holland servia de mestre-de-cerimónias. Later acabava por ser mais intimista que a maior parte dos outros programas de divulgação musical – o que deu o seu resultado, já que está no ar desde 1992. Nos últimos quatro ou cinco anos, no entanto, deixei de seguir o programa tão de perto.
Sempre que penso em Later – e na televisão que via nessa época, em geral – há um momento que me vem à mente instantaneamente. Falo da última canção que os Pulp tocaram na sua aparição em 1995, I Spy, que encerrou a emissão. Durante seis minutos não fui capaz de desviar os olhos do ecrã e de Jarvis. Às vezes não há uma explicação racional para as nossas preferências, mas a verdade é que, para mim, foi um momento hipnótico. Um daqueles momentos que definem um programa.
Junto outra actuação, esta de 1996: eram os Suede, com Trash.


Suede, Trash (1996)


Maria Braun

domingo, 15 de março de 2009

Stewart vs. Cramer

Há cerca de 9 anos que vejo fielmente o Daily Show e que ouço atentamente Jon Stewart. As últimas semanas relembraram-me porque o faço. A batalha de palavras entre Stewart e a CNBC – que o comentador financeiro Jim Cramer resolveu levar a peito, expondo-se desnecessariamente à fúria de Stewart – culminou na 5ª feira passada, com o apresentador do Daily Show a esmagar toda a credibilidade de Cramer. Esta história está por todo o lado, domina os blogs de opinião, os jornais e, segundo se diz, chegou à Casa Branca. Mas, mais que tudo, esta tomada de posição de Jon Stewart leva a uma pequena reflexão. Porque é que o trabalho dos jornalistas está a ser feito por um humorista? O apresentador de um programa satírico é, citando o New York Times, “the most trusted man in America”. Ele fez as perguntas difíceis que nenhum jornalista ousava fazer durante os anos Bush; agora, em altura de crise financeira, é Stewart que pergunta porque é que os comentadores e jornalistas financeiros não só não viram a crise a chegar, mas ainda a desvalorizaram enquanto puderam. Stewart aponta o dedo e diz que aqueles que tinham a responsabilidade de fazer jornalismo de investigação e de descobrir o que se estava a passar fugiram a essa responsabilidade e continuaram a servir os interesses das empresas. Todos nós sabemos quão confortáveis esses dois mundos estão um com o outro, ao ponto de já não se distinguirem – e isto também se aplica ao jornalismo político. Quando os jornalistas estão mais preocupados em fazer parte de um grupo e em defender os interesses desse grupo, a investigação acaba por ficar a cargo daqueles que não tem essa função. Jornalistas financeiros? Não, profetas do mercado livre. Parabéns a Jon Stewart. Porque ele prova que é melhor jornalista do que muitos que usam esse título.
Maria Braun

sexta-feira, 13 de março de 2009

Dreaming about Acapulco and having fun

Air France, No Excuses.

K.Douglas

«Push the barman to "heal" old wounds»

Devo dizer que já ando há algum tempo para fazer referência aos dois seguidores oficiais deste blogue. Em vez de ter ficado contente quando os vi, devia ter ficado preocupado e pensar nas parvoíces que vou escrevendo. Mas sofro de algumas patologias, nomeadamente de egoísmo lógico - se tal coisa existir - e não me preocupei. Pelo contrário, fiquei completamente rendido ao blogue de um dos nossos seguidores: um blogue de cocktails. The perfect blog! Não vou dizer que este blogue é o verdadeiro, o genuíno, o autêntico, serviço público, isso apareceria noutros sítios, ou que devia espezinhar os blogues de receitas para a bimby (o que deveria acontecer), mas uma coisa tão simples como: para além de todo o possível estilo que a coisa tem, este blogue, como os possíveis congéneres, é verdadeiramente útil, eficaz, no combate contra o tédio. O mesmo é dizer que é o remédio para o mal da existência, para um dos seus maiores (qualitativamente) pecados. Ah! o gelo escandinavo! Um Epicuro shot, por favor.
K. Douglas

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

No autocarro

Eu não conduzo. Costumo dizer que é uma opção ecológica, afinal, pertenço à “geração verde” (em todos os sentidos de “verde”). Não é verdade mas isso também não vem agora à baila. Fica sempre bem parecermos eco-responsáveis!
Como não conduzo, tenho um meio de transporte de eleição, o verdadeiro carro do povo, o autocarro. Não vos vou falar novamente dos autocarros da Carris. Caso contrário, pareceria que eu tenho uma obsessão estranha pelos amarelinhos (os autocarros, não os post-its, odeio post-its mas isso fica para outro post, sem it). Refiro-me ao autocarro no qual, perto de duas vezes por mês, corto o país do centro ao extremo sul. EVA-Mundialturismo, com serviço de mini-bar incluído. Olho com pena para os clientes da Rede Expressos. Seria justo fazer-se uma acção de solidariedade em prol desses miseráveis, desses abandonados da sorte, vítimas da má suspensão e de percursos alternativos.
O autocarro é um espaço que justifica qualquer tipo de comportamento. Podemos ressonar, dormir de boca escancarada, tombar para cima do desconhecido ao lado. Podemos ver filmes do Adam Sandler sem parecermos completamente parvos – Está a dar num ecrã mesmo em frente dos nossos olhos! Como podemos deixar de ver?! Furamos as órbitas?! E acreditem que ao fim dos primeiros 15 minutos, esta hipótese não parece assim tão absurda.
Ou seja, o autocarro é uma espécie de Suiça dos juízos de valor. Até podemos ler a Happy Woman, K.! É verdade, ultimamente tornou-se leitura oficial dos autocarros da EVA, deixada nos lugares à espera dos próximos viajantes. Ou melhor, das próximas viajantes. Discriminatório, sem dúvida! Os homens não andam de autocarro? Autocarro é “coisa de gaja”? E de “gaja” que lê a Happy Woman!
Eu já a desfolhei. Tem um bom grafismo. E no meio, uns sapatos da Louis Vitton que custam dois meses dos meus rendimentos. Frustada, fechei a revista e fiquei-me pela paisagem da janela.
Sally Bowles

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Óscares 2009. Opiniões


Ao contrário do que aconteceu com o K, vi a cerimónia do princípio ao fim. Sou masoquista, eu sei. Foi tão previsível que até acertei nas categorias de som. A única surpresa da noite foi o Filme Estrangeiro: tal como a Sally, apostei em A Valsa com Bashir. A vitória de Penn não foi inesperada porque a categoria de melhor actor era uma corrida de dois cavalos, se me permitem a expressão, entre Penn e Rourke. Penn ganhou o prémio da National Society of Film Critics, do círculo de críticos de Nova Iorque, dos críticos de Los Angeles e os SAG; Rourke tinha o Globo de Ouro e o BAFTA. Até os “suspeitos do costume” nesta coisa de previsão de Óscares estavam divididos nesta categoria e, portanto, só haveria uma surpresa se nenhum deles ganhasse. Ao contrário do amigo K, porém, fiquei bastante feliz com a escolha de Penn.
Quanto à cerimónia em si, eu sei que muita gente gostou, mas eu não fiquei totalmente convencida. Hugh Jackman esforçou-se imenso, mas achei o número inicial bastante difícil de aguentar e frustrante a sucessão interminável de momentos musicais. O pior de tudo foi aquela homenagem ao filme musical – segundo a Academia estamos a assistir ao regresso do género. Corrijam-me se estiver enganada, mas não era isso o que toda a gente dizia há 8 ou 9 anos atrás? A Academia está na vanguarda, como sempre. De qualquer forma, se o musical vive, aquele número encarregou-se de o matar outra vez.
Houve, contudo, momentos excelentes na cerimónia. O meu preferido foi a apresentação dos Óscares para Argumento Original e Argumento Adaptado, a cargo de Steve Martin e Tina Fey. Cito:

Tina Fey: “It has been said that to write is to live forever”.
Steve Martin: “The man who wrote that is dead”.

Foi refrescante ver uma apresentação genuinamente divertida nos Óscares.
Odeio confessar isto, porque não gosto nada dos filmes e do estilo de humor de Judd Apatow, mas o sketch que ele escreveu, com James Franco e Seth Rogen, teve a sua piada. A parte em que os dois se riem descontroladamente de The Reader foi mais demolidor para aquele filme do que as dezenas de críticas negativas que ele recebeu. Franco a ver-se a si próprio em Milk também foi hilariante. Por outro lado, a apresentação de Ben Stiller, gozando com Joaquin Phoenix, foi um tiro ao lado, na minha modesta opinião. Quanto à apresentação dos Óscares para as melhores interpretações, a ideia de reunir antigos vencedores e prestar homenagem aos nomeados é interessante e inovadora, mas não sei se resultou verdadeiramente e acabou por arrastar a entrega dos prémios – para além transmitir a ideia que os Óscares para os actores são, de alguma forma, mais relevantes que os outros. Nota positiva para a introdução dos nomeados nas outras categorias, com boas montagens, sobretudo para o Melhor Documentário, que incluía a participação dos vários realizadores (Werner Herzog!).
No que diz respeito aos discursos, queria destacar um emocionado Dustin Lance Black e Sean Penn, ambos a marcar posição depois da Prop. 8; a simpática referência de Penélope Cruz a Almodóvar; Philippe Petit; o pai de Kate Winslet; e, por fim, um agradável Danny Boyle.
A cerimónia em si não foi má, em geral, e o aspecto mais intimista do cenário apelativo. No entanto, custou-me manter o interesse num ano em que a selecção de filmes foi medíocre. O único que merecia estar na competição para melhor filme do ano era Milk. Devo, contudo, dizer-vos que gostei de ver Danny Boyle ganhar o prémio de melhor realizador e do seu genuíno entusiasmo ao longo da noite. Só é pena que o homem que nos deu Shallow Grave, Trainspotting ou Sunshine tenha ganho por um filme menor. Por outro lado, goste-se ou não de Slumdog Millionaire, há algo de simpático na sua vitória. Este era um filme que, há menos de um ano atrás, parecia condenado a ser editado directamente em DVD por falta de apoios. É um filme que não foi feito de encomenda a pensar nos Óscares, ao contrário da filmografia completa de Ron Howard ou de Benjamin Button. O underdog venceu, batendo o “filme de prestígio” que ganha tantas vezes. Eu queria que Milk ganhasse mas fiquei sinceramente feliz por Danny Boyle.
Maria Braun

"para tudo se acabar na quarta-feira"

Por minha parte, devo dizer que adormeci a meio da cerimónia. Justamente no ano em que foi interessante e, mais do que isso, foi um verdadeiro espectáculo. Jackman foi enorme. Quanto ao demais, como me encontro nas margens do rio da Babilónia, devo dizer que só tive um prognóstico. Foi em Dezembro quando vi o trailer de Milk no cinema (preparava-me para ver Blindness, que não é tão mau como dizem). Voltei-me para o lado e disse: já sabes quem vai ganhar o óscar para melhor actor. Não sei se este comentário é injusto ou não. Digam-me vocês, raparigas urbanas, cosmopolitas, que não compram a happy woman.
K. Douglas

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Canções de Carnaval ou Chiquinho da minha alma


Noite dos Mascarados


Quem é você?
- Adivinha se gosta de mim
Hoje os dois mascarados procuram os seus namorados perguntando assim:
- Quem é você, diga logo...
- ...que eu quero saber o seu jogo
- ...que eu quero morrer no seu bloco...
- ...que eu quero me arder no seu fogo
- Eu sou seresteiro, poeta e cantor
- O meu tempo inteiro, só zombo do amor
- Eu tenho um pandeiro
- Só quero um violão
- Eu nado em dinheiro
- Não tenho um tostão...
Fui porta-estandarte, não sei mais dançar
- Eu, modéstia à parte, nasci prá sambar
- Eu sou tão menina
- Meu tempo passou
- Eu sou colombina
- Eu sou pierrô
Mas é carnaval, não me diga mais quem é você
Amanhã tudo volta ao normal
Deixa a festa acabar, deixa o barco correr, deixa o dia raiar
Que hoje eu sou da maneira que você me quer
O que você pedir eu lhe dou
Seja você quem for, seja o que Deus quiser
Seja você quem for, seja o que Deus quiser

K. Douglas

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Óscares 2009

Eu sei que os Óscares são uma chatice! Os números musicais medonhos, os discursos soporíferos, os intervalos de minuto a minuto. Mas acaba por ser um ritual – Domingo, noitada no sofá. E chega-se a esta altura e começamos com as bolsas de apostas. Talvez fosse melhor tentar os cavalos ou os galgos. Mais selecto!
Enquanto não mudo isso, aqui ficam os meus prognósticos (estes, antes do jogo):
- Melhor Filme: Slumdogg Millionaire. Preferia Milk. (Mas a academia nunca foi gay friendly!).
- Melhor Realizador: Danny Boyle. Preferia Gus Van Sant (Idem!)
- Melhor Actor Principal: Brad Pitt?! Pela make-up?! Já sabem, eu escolheria Sean Penn (Idem!)
- Melhor Actriz Principal: Kate Winslet, como é claro! A equação perfeita: Nacional-Socialismo + Nudez + Maquilhagem de envelhecimento = Óscar.
- Melhor Actor Secundário: Heath Ledger. Mas o meu coração bate pelo Philip Seymor Hoffman! (O K. disse uma vez algo parecido...)
- Melhor Actriz Secundária: A freira, a stripper ou a louca? Eu aposto na louca. Viva la España!
- Melhor Filme Estrangeiro: Valsa com Bashir.
- Melhor Filme de Animação: Wall-E, obviamente!
Quanto às categorias mais técnicas, não me pronuncio. Espero um repto da Maria e do K.
Segunda-feira faço ponte!
Sally Bowles

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Publicidade justificada ou o Malvolio de Jacobi

Derek Jacobi nos ensaios de Noite de Reis

Segundo a imprensa britânica, esta temporada tem sido uma das mais bem sucedidas do West End. Para isso têm contribuído os musicais e as peças que apostam tudo na “estrela” que encabeça o elenco – e os reality shows que, anualmente, Andrew Lloyd Weber apresenta na BBC para promover a sua última produção. Este ano é Oliver! e as filas nas bilheteiras dão voltas ao quarteirão. É o que dá ter-se Rowan Atkinson como Fagin, Burn Gorman como Bill Sykes e a escolhida do público britânico a dar corpo à trágica Nancy. Os musicais são sempre uma aposta segura, nem que seja por captarem os turistas que não querem deixar de ir ao teatro no West End, mas que não têm o domínio necessário do inglês para ver uma peça “a sério” – ou aqueles espectadores que, pura e simplesmente, apenas querem entretenimento sem grande complexidade. Mas, para quem não gosta de teatro musical – como eu – este ano também não tem sido nada mau. Houve as três peças que formam The Norman Conquests de Ayckbourn no Old Vic, Édipo no National Theatre, houve Ivanov no Wyndham’s ou No Man’s Land, de Pinter, no Duke of York’s. E, neste momento, há Noite de Reis, que ficará para sempre na minha memória.
O Donmar West End entrou no jogo do star power como atractivo de bilheteira, sem dúvida. Já se provou que é algo que resulta – as estrelas de cinema (e televisão) atraem audiências que não vão habitualmente ao teatro (claro que o caso britânico é algo peculiar porque muitas dessas “estrelas” têm o seu background no teatro, o que explica as excelentes interpretações que se podem encontrar em muitas séries da televisão britânica). Veja-se a versão que a Royal Shakespeare Company apresentou de Hamlet no início da temporada e que esgotou em poucas horas, graças a David Tennant. Ou, na temporada passada, o sucesso de Otelo, com Chiwetel Ejiofor no papel principal e Ewan McGregor como Iago. Ambas foram muito bem recebidas pela crítica, mas não foi essa a razão do seu sucesso.
Na sua temporada no Wyndham’s, o Donmar apresenta apenas rostos nos seus cartazes publicitários, que cobrem a fachada do belíssimo teatro da Charing Cross Road. Um rosto por peça – Kenneth Branagh para Ivanov, Derek Jacobi por Noite de Reis, Judi Dench por Madame de Sade e Jude Law para Hamlet. Mas nada disso interessa quando a peça vale mesmo a pena. Ivanov e Noite de Reis foram gloriosos – e asseguraram a minha fidelidade e a minha decisão de estar presente quando estrear Madame de Sade, em Março. O rosto de Jacobi nos cartazes é mais do que justificado. O seu Malvolio é uma experiência única. Ver esta versão de Noite de Reis do Donmar é como assistir à história do teatro a fazer-se perante os nossos olhos. É saber que aquele Malvolio vai ser recordado por muitos e bons anos como um dos melhores do West End e que as fotografias de Jacobi adornarão as paredes do Wyndham’s num futuro próximo.
Jacobi afirmou, numa entrevista, recear este papel porque tantos grandes actores o interpretaram. Mas ele nada tem a temer – só aquele momento em que Malvolio tenta sorrir para agradar (pensa ele) Olívia, ensaiando uma série de grotescas máscaras, até conseguir algo que remotamente se pareça a um sorriso, vale o bilhete de entrada. O seu Malvolio é um Jeeves rígido e puritano, hilariante tanto na sua deferência para com Olívia, no início da peça, quanto nos momentos em que a corteja, depois da enganadora carta de Maria. E, no entanto, a perfeição de Jacobi não nos pode fazer esquecer que a peça tem outras belas actuações, como a de Orsino, lânguido como nunca, numa interpretação que sublinha a sua ambiguidade – e a ambiguidade da sua atracção por Viola/Cesário. Para além do mais, a Olívia de Indira Varma deve ser uma das mais belas criaturas que já adornou os palcos do West End.
Uma sublime peça para um sublime teatro – um teatro onde vale a pena subir às galerias superiores, como costumo fazer no Old Vic, só para percorrer os corredores e as escadarias cobertos de fotografias de velhos êxitos, com um jovem John Gielgud ou um não tão jovem Alec Guinness, para roçar as salas onde gerações e gerações de amantes de teatro viram peças que hoje fazem parte da história do West End. É o fascínio destes velhos teatros carregados de memórias e aplausos, teatros que merecem que o seu legado seja honrado por novas produções que possam rivalizar com as velhas glórias. Noite de Reis honra essa história e prolonga-a da melhor maneira possível.

Maria Braun

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Dia Histórico


Contagem decrescente para a tomada de posse. Finalmente Obama!


Maria Braun

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Say Goodbye to Norma Desmond

Entro no ano novo com muita coisa velha e com uma ou outra coisita nova. Apesar disso, e não sei porque razão, às vezes acho-me cheio de um óptimismo tonto, verdadeiramente cândido. É verdade que isto resulta de ter recuperado o hábito de ouvir canções em repeat. Não se pode ser indiferente à Walcott dos Vampire Weekend: fica-se com vontade de partir o quarto - o que é histérico e inútil - e com vontade de aprender a tocar bateria, violoncelo, sintetizadores. Se nada disso acontecer, pelo menos serve para pular, para perceber que se engordou a olhos vistos - o novo pullover verde não mente, não senhor - e, talvez, para notar que esta canção pode ser prima da Bar Itália dos Pulp.
K.