Ao contrário do que aconteceu com o K, vi a cerimónia do princípio ao fim. Sou masoquista, eu sei. Foi tão previsível que até acertei nas categorias de som. A única surpresa da noite foi o Filme Estrangeiro: tal como a Sally, apostei em A Valsa com Bashir. A vitória de Penn não foi inesperada porque a categoria de melhor actor era uma corrida de dois cavalos, se me permitem a expressão, entre Penn e Rourke. Penn ganhou o prémio da National Society of Film Critics, do círculo de críticos de Nova Iorque, dos críticos de Los Angeles e os SAG; Rourke tinha o Globo de Ouro e o BAFTA. Até os “suspeitos do costume” nesta coisa de previsão de Óscares estavam divididos nesta categoria e, portanto, só haveria uma surpresa se nenhum deles ganhasse. Ao contrário do amigo K, porém, fiquei bastante feliz com a escolha de Penn.
Quanto à cerimónia em si, eu sei que muita gente gostou, mas eu não fiquei totalmente convencida. Hugh Jackman esforçou-se imenso, mas achei o número inicial bastante difícil de aguentar e frustrante a sucessão interminável de momentos musicais. O pior de tudo foi aquela homenagem ao filme musical – segundo a Academia estamos a assistir ao regresso do género. Corrijam-me se estiver enganada, mas não era isso o que toda a gente dizia há 8 ou 9 anos atrás? A Academia está na vanguarda, como sempre. De qualquer forma, se o musical vive, aquele número encarregou-se de o matar outra vez.
Houve, contudo, momentos excelentes na cerimónia. O meu preferido foi a apresentação dos Óscares para Argumento Original e Argumento Adaptado, a cargo de Steve Martin e Tina Fey. Cito:
Tina Fey: “It has been said that to write is to live forever”.
Steve Martin: “The man who wrote that is dead”.
Foi refrescante ver uma apresentação genuinamente divertida nos Óscares.
Odeio confessar isto, porque não gosto nada dos filmes e do estilo de humor de Judd Apatow, mas o sketch que ele escreveu, com James Franco e Seth Rogen, teve a sua piada. A parte em que os dois se riem descontroladamente de The Reader foi mais demolidor para aquele filme do que as dezenas de críticas negativas que ele recebeu. Franco a ver-se a si próprio em Milk também foi hilariante. Por outro lado, a apresentação de Ben Stiller, gozando com Joaquin Phoenix, foi um tiro ao lado, na minha modesta opinião. Quanto à apresentação dos Óscares para as melhores interpretações, a ideia de reunir antigos vencedores e prestar homenagem aos nomeados é interessante e inovadora, mas não sei se resultou verdadeiramente e acabou por arrastar a entrega dos prémios – para além transmitir a ideia que os Óscares para os actores são, de alguma forma, mais relevantes que os outros. Nota positiva para a introdução dos nomeados nas outras categorias, com boas montagens, sobretudo para o Melhor Documentário, que incluía a participação dos vários realizadores (Werner Herzog!).
No que diz respeito aos discursos, queria destacar um emocionado Dustin Lance Black e Sean Penn, ambos a marcar posição depois da Prop. 8; a simpática referência de Penélope Cruz a Almodóvar; Philippe Petit; o pai de Kate Winslet; e, por fim, um agradável Danny Boyle.
A cerimónia em si não foi má, em geral, e o aspecto mais intimista do cenário apelativo. No entanto, custou-me manter o interesse num ano em que a selecção de filmes foi medíocre. O único que merecia estar na competição para melhor filme do ano era Milk. Devo, contudo, dizer-vos que gostei de ver Danny Boyle ganhar o prémio de melhor realizador e do seu genuíno entusiasmo ao longo da noite. Só é pena que o homem que nos deu Shallow Grave, Trainspotting ou Sunshine tenha ganho por um filme menor. Por outro lado, goste-se ou não de Slumdog Millionaire, há algo de simpático na sua vitória. Este era um filme que, há menos de um ano atrás, parecia condenado a ser editado directamente em DVD por falta de apoios. É um filme que não foi feito de encomenda a pensar nos Óscares, ao contrário da filmografia completa de Ron Howard ou de Benjamin Button. O underdog venceu, batendo o “filme de prestígio” que ganha tantas vezes. Eu queria que Milk ganhasse mas fiquei sinceramente feliz por Danny Boyle.
Maria Braun