Há cerca de 9 anos que vejo fielmente o Daily Show e que ouço atentamente Jon Stewart. As últimas semanas relembraram-me porque o faço. A batalha de palavras entre Stewart e a CNBC – que o comentador financeiro Jim Cramer resolveu levar a peito, expondo-se desnecessariamente à fúria de Stewart – culminou na 5ª feira passada, com o apresentador do Daily Show a esmagar toda a credibilidade de Cramer. Esta história está por todo o lado, domina os blogs de opinião, os jornais e, segundo se diz, chegou à Casa Branca. Mas, mais que tudo, esta tomada de posição de Jon Stewart leva a uma pequena reflexão. Porque é que o trabalho dos jornalistas está a ser feito por um humorista? O apresentador de um programa satírico é, citando o New York Times, “the most trusted man in America”. Ele fez as perguntas difíceis que nenhum jornalista ousava fazer durante os anos Bush; agora, em altura de crise financeira, é Stewart que pergunta porque é que os comentadores e jornalistas financeiros não só não viram a crise a chegar, mas ainda a desvalorizaram enquanto puderam. Stewart aponta o dedo e diz que aqueles que tinham a responsabilidade de fazer jornalismo de investigação e de descobrir o que se estava a passar fugiram a essa responsabilidade e continuaram a servir os interesses das empresas. Todos nós sabemos quão confortáveis esses dois mundos estão um com o outro, ao ponto de já não se distinguirem – e isto também se aplica ao jornalismo político. Quando os jornalistas estão mais preocupados em fazer parte de um grupo e em defender os interesses desse grupo, a investigação acaba por ficar a cargo daqueles que não tem essa função. Jornalistas financeiros? Não, profetas do mercado livre. Parabéns a Jon Stewart. Porque ele prova que é melhor jornalista do que muitos que usam esse título.
Maria Braun