O Público sempre foi o jornal lá de casa. Depois do desaparecimento do Diário de Lisboa (contaram-me, porque não tenho memória desses tempos) instalou-se uma sensação de vazio e de falta de um jornal diário de referência numa casa de ávidos leitores. O Público veio preencher este vazio e, desde que saiu o primeiro número, tornou-se uma compra diária. Lembro-me de começar a ler o jornal desde muito cedo, a princípio por causa de Calvin & Hobbes e, posteriormente, porque me tornei numa precoce entusiasta da política. No entanto, o entusiasmo com o jornal morreu um pouco com a saída de Vicente Jorge Silva e as mudanças na direcção. José Manuel Fernandes representava uma linha política diferente, na qual nenhum de nós se reconhecia. Isso não implicou uma mudança de jornal da nossa parte porque, para dizer a verdade, não havia nenhum outro diário de referência no pobre panorama jornalístico português. O Público continuou a ser o melhor porque abria espaço ao comentário, aos cronistas, para além da notícia pura e simples; porque queria ser um espaço de debate. Contudo, ao longo dos anos, a minha insatisfação cresceu. Por um lado, porque a qualidade da escrita deixa, por vezes, muito a desejar para um jornal que se quer destacar da mediania. Erros gramaticais, ignorância de alguns jornalistas (desde quando é que a época vitoriana se situa no século XVIII ou que o Império do Sol Nascente é a China?), para além da recorrente prática jornalística de copiar artigos da wikipedia ou de outros jornais ou blogs internacionais sem nunca referenciar as fontes. Sendo eu leitora assídua, por exemplo, da imprensa cinematográfica internacional e de vários sites, quantas vezes encontrei eu artigos sobre cinema que não eram mais que uma mera tradução de outros que já tinha lido online? Eu sei que isto se faz em todos os jornais mas volto a dizê-lo: o Público apresenta-se como uma referência. Nos últimos anos, tenho tido a sensação que este jornal se preocupa cada vez mais com a imagem e cada vez menos com a qualidade dos jornalistas.
O pior de tudo, no entanto, foi a viragem política na direcção. Isto tornou-se ainda mais grave no último ano e tal, depois dos problemas de Belmiro de Azevedo com o governo socialista. O “patrão” impôs claramente uma agenda que em nada colidia com a linha política do pró-PSD José Manuel Fernandes. Deixem que vos diga uma coisa: não voto no PS e não gosto de Sócrates. Até eu, contudo, que não tenho simpatia nenhuma por este governo, sou capaz de perceber (e muitas vezes discuti isto no último ano) que há uma campanha contra Sócrates, cheia de ataques pessoais ao Primeiro-Ministro. É demasiado óbvio.
Depois de tudo isto, quero apenas dizer uma coisa: não o escondam. Em Portugal, os jornais têm um grande receio de se apresentarem como defensores de uma determinada linha política, porque acham que têm de projectar uma imagem de isenção. Mas porquê? Não há mal nenhum em se ser partidário, mas sejam honestos em relação a isso. Muitos jornais de referência por esse mundo fora apresentam claramente as suas opções políticas. O New York Times sempre se alinhou com os democratas; todos nós sabemos qual é a linha política do Le Monde ou do El País. Em Inglaterra, há um perfil de leitor para cada jornal, desde um Guardian a um Daily Telegraph (ou Torygraph, como é chamado pelos seus opositores). Eu leio o Guardian e identifico-me com o perfil do típico "Guardianista". Eu sei que ninguém lê este blog, mas mesmo assim deixo um apelo: sejam transparentes. Se o Público ou qualquer outro jornal tem uma determinada linha política, admitam-no. Os leitores mais atentos sabem perfeitamente onde é que o seu jornal se situa no espectro político, para quê, então, escondê-lo? Deixem-se é de jogos sujos.
Eu continuo a ler o Público, não tão atentamente como há uns anos atrás, mas continuo. Não me identifico com a linha política, acho que tem perdido qualidade, mas mesmo assim não tem competição. Por isso mesmo acho que, se o jornal quer manter o prestígio, tem de começar a ser honesto com os leitores. Assumam-se como oposição, não tentem mostrar isenção. Apenas têm a ganhar em credibilidade. Isto aplica-se a todos os jornais portugueses.
O pior de tudo, no entanto, foi a viragem política na direcção. Isto tornou-se ainda mais grave no último ano e tal, depois dos problemas de Belmiro de Azevedo com o governo socialista. O “patrão” impôs claramente uma agenda que em nada colidia com a linha política do pró-PSD José Manuel Fernandes. Deixem que vos diga uma coisa: não voto no PS e não gosto de Sócrates. Até eu, contudo, que não tenho simpatia nenhuma por este governo, sou capaz de perceber (e muitas vezes discuti isto no último ano) que há uma campanha contra Sócrates, cheia de ataques pessoais ao Primeiro-Ministro. É demasiado óbvio.
Depois de tudo isto, quero apenas dizer uma coisa: não o escondam. Em Portugal, os jornais têm um grande receio de se apresentarem como defensores de uma determinada linha política, porque acham que têm de projectar uma imagem de isenção. Mas porquê? Não há mal nenhum em se ser partidário, mas sejam honestos em relação a isso. Muitos jornais de referência por esse mundo fora apresentam claramente as suas opções políticas. O New York Times sempre se alinhou com os democratas; todos nós sabemos qual é a linha política do Le Monde ou do El País. Em Inglaterra, há um perfil de leitor para cada jornal, desde um Guardian a um Daily Telegraph (ou Torygraph, como é chamado pelos seus opositores). Eu leio o Guardian e identifico-me com o perfil do típico "Guardianista". Eu sei que ninguém lê este blog, mas mesmo assim deixo um apelo: sejam transparentes. Se o Público ou qualquer outro jornal tem uma determinada linha política, admitam-no. Os leitores mais atentos sabem perfeitamente onde é que o seu jornal se situa no espectro político, para quê, então, escondê-lo? Deixem-se é de jogos sujos.
Eu continuo a ler o Público, não tão atentamente como há uns anos atrás, mas continuo. Não me identifico com a linha política, acho que tem perdido qualidade, mas mesmo assim não tem competição. Por isso mesmo acho que, se o jornal quer manter o prestígio, tem de começar a ser honesto com os leitores. Assumam-se como oposição, não tentem mostrar isenção. Apenas têm a ganhar em credibilidade. Isto aplica-se a todos os jornais portugueses.
Maria Braun