terça-feira, 23 de outubro de 2012

Timey Wimey


Voltemos ao cinema e falemos de Looper, de Rian Johnson. Há tanto tempo que se discutia este filme nos círculos cinéfilos, com a crítica rendida (é um 84 no Metacritic, independentemente do que determinados críticos portugueses pensam) e uma recepção entusiástica em Toronto. Por isso lá fui ver um filme com Bruce Willis ao cinema (bem, ele é parte da minha infância).
Algumas observações soltas. Em primeiro lugar, aquilo que se diz é verdade: é melhor não ter muita informação sobre o filme antes de o ver. Quanto mais se sabe sobre ele, menos divertido ele se torna. Em segundo lugar: é no mínimo desconcertante a mudança completa de género cinematográfico a meio de Looper, como se fosse um 2 em 1. O que começa como um thriller de ficção científica ao estilo de Twelve Monkeys torna-se numa espécie de adaptação western de The Omen. Não que isso seja mau. Em terceiro lugar: holy plot-holes, Batman!
Dito isto, é divertido. É inteligente. É um exemplo sólido de boa ficção-científica. Em resumo: gostei do filme. O elenco, que inclui Joseph Gordon-Levitt, Bruce Willis, Emily Blunt, Jeff Daniels e Paul Dano, é excelente. Johnson continua a afirmar-se na realização após o êxito indie que foi Brick, o seu primeiro filme e primeira colaboração com Gordon-Levitt, para quem, aliás, foi escrito especialmente o papel principal de Looper. A parceria Johnson/Levitt promete tornar-se aos poucos numa das duplas realizador/actor mais interessantes dos últimos tempos, ao lado de McQueen/Fassbender, no molde das grandes colaborações históricas do cinema.
Levitt, também, dá mais um passo na sua trajectória de afirmação como uma das presenças estimulantes no cinema americano actual, desde a revelação que foi Mysterious Skin. Quem diria que o miúdo de O 3º Calhau a Contar do Sol se tornaria num dos actores mais interessantes da sua geração? A maquilhagem de Levitt, feita para que se parecesse com Willis, é uma ligeira distracção, mas a sua interpretação é boa. Por falar em Willis, ele está em grande forma, carismático como sempre, dominando as cenas.
 
Que se pode dizer mais sem revelar o enredo? Looper tem sido comparado a Matrix mas não sei se esta é a ligação mais óbvia. Quando estava a ver o filme, várias referências me vieram à mente – as já mencionadas Twelve Monkeys e The Omen, mas também Terminator ou X-Men. É quase uma espécie de colagem. A primeira parte do filme é mais conseguida que o acto final, não sendo eu a maior fã das sequências com Sid (pelo que tenho lido, até houve quem as achasse hilariantes). O enquadramento da acção numa visão distópica do futuro, com divisões sociais brutais, é interessante e certamente contemporâneo, mais do que Damien 2.0. A temática das viagens no tempo dá algumas dores de cabeça quando se tenta perceber todas as implicações das acções que vemos no ecrã, mas está, em geral, bem construída. No entanto, não sei se a história em si aguenta uma análise mais cuidada.
 
A solução? Não pensar muito, não dissecar muito a premissa do filme e, simplesmente, divertirmo-nos com um filme sólido que não nos trata como se tivéssemos 5 anos. Bons actores, boa realização, argumento conseguido. Por vezes, isso é o suficiente.
 
Maria Braun