quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

I don't wanna be a contra




Aqui fica o segundo single de Contra, o segundo disco dos Vampire Weekend. 

K. Douglas

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O melhor dos mundos possíveis

Antes de tudo, começo este meu post com uma sugestão. Ide ver o novo filme dos Cohen, meus irmãos. A Serious Man é, como diria o K., delicioso e transborda daquele humor desconfortável, com um quê de culpa, propenso mais a esgares de lábios do que a gargalhadas sonoras, a que os dois manos já nos habituaram. Rabis, Jefferson Airplane, gato de Schrödinger, marijuana e bar mitzvah, tudo reunido no Minnesota dos anos 60. Os Cohen ter-se-ão inspirado no Livro de Job para compôr a história de um homem sério sobre o qual o mundo desaba, sendo na sua desgraça que o filme colhe a sua dose de humor.
O Livro de Job é, possivelmente, um dos meus livros bíblicos de eleição e julgo que muitos partilharão dessa minha preferência. Além do interesse literário e da beleza poética, a minha atenção recai no facto deste ser o exemplo mais marcante em toda a Bíblia do senso de humor tipicamente judaico.
Senão, recordemos: Job vivia feliz na sua terrinha, com as suas ovelhas, bois, camelos e burras, com os seus sete filhos e três filhas [sim, e era feliz apesar disso... outros tempos!]. Além do mais, Job era um tipo piedoso, que sacrificava animaizinhos a Deus e tudo. Mas, como em tudo na vida, lá em cima a história era outra. Deus e Satanás encontram-se:
Deus - Donde vens agora?
Satanás - Fui dar umas voltas pela terra.
D. - Não reparaste no meu servo Job? Não há outro como ele no mundo! É um homem bom e honesto, muito religioso e não faz nada de mal!
S. - Achas que os seus sentimentos religiosos são desinteressados? Blá... blá... blá... Experimenta levantar a mão contra aquilo que é seu e verás se ele não te amaldiçoa, mesmo na tua frente.
D. - Tudo o que lhe pertence está à tua disposição, mas nele mesmo não podes tocar.
O resto da história já se sabe. Todas as desgraças desabam sobre o pobre Job e ele limita-se a lamentar. Um belíssimo lamento, admitemos. O final é feliz, como não podia deixar de ser. Ou não fosse este o melhor dos mundos possíveis, como diria Pangloss.
Deus ri. E tem um humor muito negro.
Sally Bowles

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Quando o telefone toca...

O meu avô nunca quis ter telefone em casa. E os filhos bem insistiam, zelosos pelos seus velhos. Mas nisso, ele era irredutível. Por telefone, as notícias ruins chegam mais rápido, dizia. Passados muitos anos, tenho de dar razão ao avô - os três, quatro dias que a carta demorava a chegar eram dias roubados à desgraça.
Não é esse o motivo porque não gosto de telefones. Embora admita que poucas coisas são mais perturbadoras do que um telefonema a meio da madrugada. Cheira a tragédia a cada toque.
Há algo de impessoal quando uma voz não é acompanhada por um corpo. Ouvimos alguém do outro lado da linha e tentamos imaginar a expressão que acompanha cada frase, tentamos interpretar a entoação e o som de fundo. Já repararam que numa chamada telefónica não há lugar para silêncios. Cada segundo que demoramos a responder é acompanhado por um "estás a ouvir?" do outro lado. Somos obrigados a uma rapidez de resposta que vai contra a nossa necessidade básica de ponderação. O diálogo torna-se pobre. Pelo menos para mim, que não sou particularmente dotada no campo da oratória e resumo as minhas deixas a um "Estou bem", "Choveu" e "Novidades?"
Essa é uma das razões porque, à falta do tete-a-tete, privilegio a comunicação escrita. O e-mail é uma boa opção e socialmente bem aceite visto que a velhinha carta tornou-se num objecto aparentemente inadequado ao ritmo do nosso quotidiano e à tirânica velocidade de circulação da informação.
Contudo, continuo a gostar de cartas, desde que não sejam da EDP, da EPAL ou de outra sigla qualquer. Não que as escreva com frequência. Bem pelo contrário. Mas existe um prazer secreto em abrir um envelope fechado a saliva (e há algo de mais pessoal do que isso?) e encontrar uma folha de papel dobrada em três com perfeição e arte. Desdobro-a e leio "Querida Sally". E espero pela boa nova na próxima linha.
Sally Bowles

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Go David! You're the best!

I’d do the Corrs’ drummer, the lead singer and that one who plays the violin

Há cerca de um ano atrás encontrei consolo em David Brent (salvo seja). A história não merece ser contada, até porque este não é o espaço para ela. No entanto, há que fazer o elogio dessa magnífica categoria que responde pelo nome de necessidade. É ela que nos faz conviver horas e horas com pessoas que não interessam nem ao menino Jesus. É por isto que as palavras de Tim, no final da série, são extraordinárias (conseguem um misto de redenção e de resignação) : The people you work with are just people you were thrown together with. Y'know, you don't know them, it wasn't your choice. And yet you spend more time with them thanyou do your friends or your family. But probably all you've got in common is the fact that you walk round on the same bit of carpet for eight hours a day. And so, obviously, when someone comes in who you have a connection with - yeah, and Dawn was a ray of sunshine in my life - it can mean a lot. But if I'm really being honest, I never really thought it would have a happy ending. I don't know what a happy ending is. Life isn't about endings, is it? It's a series of moments. And um, if you turn the camera off, it's not an ending is it? I'm still here. My life is not over. Come back here in ten years. See how I'm doing then. 'Cause I could be married with children, you don't know. Life just goes on.

E porque a vida continua, o bla di, o bla da, aqui fica referenciado um dos meus momentos preferidos do Office inglês (sim, Maria, tinhas toda a razão): quando David diz como trataria da saúde (!) às meninas dos The Corrs. Deve ser dos mais óbvios, but I really don't care. Além do grande momento de David - veja-se como ele tenta reverter a situação constrangedora - , gosto particularmente do momento em que Tim parece olhar directamente para nós. Brilhante.
K. Douglas