sábado, 31 de dezembro de 2011

Filmes de 2011


Como prometido, aqui fica o meu top 10 de 2011. No entanto, devo dizer que os filmes aqui presentes são filmes que vi este ano. Um deles (Des Hommes et des Dieux) estreou, se bem me lembro, no final de 2010, mas eu apenas o vi em 2011. Outro (Weekend) ainda não estreou em Portugal, mas vi-o fora do país. Aqui vai.

Tinker Tailor Soldier Spy, de Tomas Alfredson
The Tree of Life, de Terrence Malick
O Tio Boonmee Que Se Lembra Das Suas Vidas Anteriores, de Apichatpong Weerasethakul
Mistérios de Lisboa, de Raúl Ruiz
Another Year, de Mike Leigh
Des Hommes et des Dieux, de Xavier Beauvois
Winter’s Bone, de Debra Granik
Weekend, de Andrew Haigh
Uma Separação, de Asghar Farhadi
Midnight in Paris, de Woody Allen
Maria Braun

domingo, 25 de dezembro de 2011

Natal '11

Este ano parece mal desejar um Feliz Natal aos nossos "leitores". Como estamos em crise, fiquem com uma canção de protesto.





Maria Braun

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Tinker Tailor Soldier Spy




Este blog anda esquecido há quase um ano. A vida real (e a falta de estímulo talvez) interfere e afecta-nos a todos. Espero sinceramente que ainda alguém cá venha. K? Sally? Estão por aí?
Que melhor razão para nos retirar deste longo dry spell do que um filme (what else?) que está para estrear? E que é um dos melhores do ano? Falo de Tinker Tailor Soldier Spy, de Tomas Alfredson. Ando a acompanhar este filme há cerca de um ano, a princípio por uma simples razão: o elenco. Acho que não houve um elenco melhor este ano. Não só é um “quem é quem” de grandes actores britânicos, como é a definição do que TVTropes chama um “All Star Cast”. Claro que ser realizado por Alfredson, autor do excelente Let The Right One In, era um bónus. Por isso, preparei-me, li o livro, segui o progresso e os timings do filme. Quando finalmente estreou tive algum receio: depois de toda esta expectativa, conseguiria o filme cumprir o que esperava dele ou seria uma desilusão?
Não me deveria ter preocupado; Tinker Tailor é excelente. As críticas que saíram de Veneza, seguidas pelos críticos britânicos quando estreou no Reino Unido em Setembro e, agora, da crítica norte-americana, são unânimes. Este é um dos filmes do ano. Gary Oldman é absolutamente fabuloso num papel que exige contenção, bem diferente da sua imagem de marca. George Smiley é frequentemente descrito como o anti-Bond, um homem de meia-idade que qualquer um de nós esqueceria imediatamente se nos cruzássemos com ele na rua. Homem de poucas palavras mas de uma inteligência fenomenal, um observador que se revela, contra todas as expectativas, como um homem perigoso e até cruel, se a situação o exigir. Só uma vez, ao longo do filme, Smiley levanta a voz e, quando o faz, surpreende-nos a todos e causa uma reacção na audiência. Oldman é fantástico neste papel, o que ele comunica com uma simples expressão (passam cerca de vinte minutos de filme até ele dizer alguma coisa) é testamento da sua qualidade enquanto actor.
Gary Oldman tinha muitas barreiras para ultrapassar. Smiley é um personagem extremamente conhecido e popular no Reino Unido; para além disso, a mini-série que adaptou este livro em finais dos anos 70 deu-nos aquela que muitos consideravam a versão definitiva deste personagem, desempenhada por Alec Guinness. O fantasma de Guinness atormentou de início Oldman, como este confessou em entrevistas. Não precisava de se ter preocupado. Guinness é um dos meus actores preferidos, mas Oldman controla este filme numa autêntica masterclass de representação.
Entre o fantástico elenco, que inclui John Hurt, Colin Firth, Tom Hardy, Toby Jones ou Ciaran Hinds, há outras duas interpretações que, para mim, sobressaem. Falo de Mark Strong como Jim Prideaux e de Benedict Cumberbatch como Peter Guillam. Prideaux é uma das personagens mais interessantes do livro e Strong faz-lhe justiça, dando todas as camadas emocionais a este homem traído e torturado. Aquele olhar final que troca com Firth durante a montagem ao som da “cheesy” versão disco de La Mer (para mim uma das sequências cinematográficas do ano) revela mais do que páginas de diálogo. Quanto a Cumberbatch, confesso que a minha opinião é suspeita, como assumida fã que sou – e quem não seria depois de o ver na versão de Frankenstein que Danny Boyle dirigiu para o National Theatre, para não falar em Sherlock, que já vi e revi mais vezes do que posso contar. No entanto, esquecendo tudo isso, digo de novo: Cumberbatch é memorável e consegue tornar-se no centro emocional do filme, naquela cena em que sacrifica a sua vida privada ao serviço do MI6. Para além disso, é nele que se centra uma das sequências mais tensas do filme, quando Guillam rouba, a pedido de Smiley, um ficheiro nos arquivos do MI6, debaixo do olhar de toda a gente.
Tinker Tailor é mais do que um whodunnit; quem leu o livro sabe que a identidade do agente duplo é relativamente óbvia desde o início. O que interessa mais a Le Carré é a arquitectura do enredo, a ligação entre todas as pequenas histórias, como elas se interligam e formam um todo, como Smiley as lentamente junta para chegar à identidade do homem que procura. O que interessa é o ambiente, a desconfiança entre se estabelece entre estes homens, a atmosfera. Isso é capturado por Alfredson, num filme tão cerebral, lento e complexo quanto o livro, que não irá agradar a quem espera ver um tradicional filme de espionagem, cheio de acção e perseguições. Como disse acima, isto não é Bond, nem é Bourne. É um filme sobre desconfiança, traições e lealdade entre um grupo de homens que, “once upon a time”, se consideravam amigos. De notar o fantástico design de produção, os cenários (como aquela sala laranja onde Control se reúne com os seus homens), o ambiente da Londres dos 70s em deprimentes tons de castanho que não são muito diferentes das cores com que é retratado o bloco de Leste. A escolha de não revelar totalmente nem Karla nem Ann Smiley é também uma boa opção, fazendo com que se sinta a presença de ambos, os dois fantasmas que atormentam Smiley (a sua némesis e o seu ponto fraco respectivamente), sempre presentes sem o verdadeiramente estarem.
Se há alguma nota negativa a apontar ao filme é a forma como a sua construção o pode tornar difícil de seguir para quem não leu o livro. Com apenas duas horas, é impossível transmitir a riqueza das personagens com as suas histórias e passado, que ocupam páginas e páginas do livro. Consequentemente, algumas personagens bem centrais como Roy Bland ou Toby Esterhase são quase marginalizadas. O filme poderia ter mais uns 15 ou 30 minutos para explicar melhor as razões por detrás da traição do agente duplo, cuja revelação é quase anti-climática. Como disse acima, essa identidade não é o mais importante mas, para quem não conhece o livro, uma explicação mais elaborada seria uma ajuda importante. O filme assume, penso eu, que se leu o livro.
Para terminar, uma observação. Quem esteve em Inglaterra desde que Tinker Tailor aí estreou sabe o impacte que ele teve. Le Carré e a trilogia de Smiley contra Karla (constituída por este livro e por The Honourable Schoolboy e Smiley’s People) voltaram a estar na moda. Estes livros estão em todas as montras de todas as livrarias, em novas edições; é comum cruzarmo-nos na rua com quem leva um Le Carré debaixo do braço. Tendo em conta que eles são testemunhos de um tempo que as gerações mais jovens não têm memória, a Guerra Fria, é interessante ver o interesse que estão a suscitar nessas mesmas gerações. Talvez o filme seja tópico nisso mesmo, um retrato de desconfiança num momento político, social e económico em que esse é o sentimento predominante. Contexto é tudo? Será que por muito longe que estejamos da Guerra Fria, esta história esteja a ter ressonância por essa razão?
Fico-me com a promessa de deixar aqui a minha lista de melhores filmes do ano dentro de dias. Até lá.
Maria Braun