segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Top 15 de 2013

Este ano a minha lista é mais comprida, com 15 filmes em vez dos tradicionais 10. Ainda assim, não vi dois dos mais discutidos filmes do ano, 12 Years a Slave e Nebraska. Ficam como potenciais nomes da lista de 2014. Como digo todos os anos, nem todos os filmes desta lista estrearam comercialmente em Portugal durante 2013, mas vi-os este ano e considero-os elegíveis.
Se a Sally não se importar, vou copiar o formato que ela utilizou, com os cartazes e uma ordem de preferência (algo que não faço normalmente, a ordem dos filmes costuma ser aleatória). É uma questão de uniformização do blog.

15. Behind the Candelabra, de Steven Soderbergh
 












14. Blue Jasmine, de Woody Allen
 












13. Kill Your Darlings, de John Krokidas
 












12. Zero Dark Thirty, de Kathryn Bigelow
 












11. Monsieur Lazhar, de Philippe Falardeau
 












10. L'inconnu du Lac, de Alain Guiraudie


 










9. Barbara, de Christian Petzold













8. Captain Phillips, de Paul Greengrass
 












7. A Caça, de Thomas Vinterberg
 












6. The Master, de Paul Thomas Anderson
 












5. Frances Ha, de Noah Baumbach
 












4. Gravity, de Alfonso Cuarón
 












3. La Grande Bellezza, de Paolo Sorrentino
 












2. Dans la Maison, de François Ozon
 












1.Inside Llewyn Davis, de Joel e Ethan Coen
 













Maria Braun









domingo, 29 de dezembro de 2013

2013 no ouvido (XI)



James Blake - "Retrogade" (Overgrown, 2013)

2013 no ouvido (X)


My Bloody Valentine - "She Found Now (mbv, 2013)

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

2013 no ouvido (IX)



Disclosure - "Latch" (Settle, 2013)

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Winter Wonderland. O Regresso

Feliz Natal! Outro Natal, outra canção. Já é tradição neste blog.



terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Many Happy Returns

A BBC colocou hoje online o mini-episódio que antecipa a estreia da 3ª série de Sherlock, no dia 1 de Janeiro. É uma excelente prenda de Natal.




Maria Braun

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

2013 no ouvido (VIII)


2013 foi também um ano de riscos. Tal como os Arcade Fire, os Vampire Weekend também experimentaram novos caminhos... e foram bem sucedidos. Novos tempos, vampiros modernos.

Vampire Weekend - "Diane Young" (Modern Vampires of the City, 2013)

domingo, 22 de dezembro de 2013

Top 10: Melhores filmes de 2013

Aviso prévio: a lista seguinte baseia-se nos filmes estreados nas salas portuguesas em 2013.



 10. Woody Allen, Blue Jasmine


9. Cate Shortland, Lore


8. Alfonso Cuarón, Gravity


7. Roman Polanski, La Vénus à la fourrure


6. François Ozon, Dans la maison


5. Noah Baumbach, Frances Ha


4. Abbas Kiarostami, Like Someone In Love


3. Katherine Bigelow, Zero Dark Thirty


2. Paul Thomas Anderson, The Master


1. Quentin Tarantino, Django Unchained

Sally Bowles

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

2013 no ouvido (VII)


O calendário chinês está errado. 2013 foi o ano do macaco (ou dos macacos).

Artic Monkeys - "R U Mine" (AM, 2013)

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

2013 no ouvido (VI)



Como diria um velho amigo: "uma grande malha".

Cage The Elephant - "Spiderhead" (Melophobia, 2013)

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

2013 no ouvido (V)


E Fevereiro trouxe-nos de volta Nick Cave.

Nick Cave & The Bad Seeds - "Jubilee Street" (Push The Sky Away, 2013)

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Nothing is Written

Parece que ultimamente todos os meus posts neste blog são obituários. Este fim-de-semana foi triste para muitos cinéfilos por esse mundo fora. Primeiro Eleanor Parker e depois, num espaço de horas, Peter O'Toole e Joan Fontaine. Lawrence of Arabia e Rebecca foram dois dos filmes que me fizeram apaixonar pelo cinema e, assim, O'Toole e Fontaine serão sempre parte da minha memória.
Queria lembrar O'Toole em particular, para mim sempre Lawrence, naquela que é, como não me canso de dizer, uma das maiores - se não mesmo a maior - interpretações da história do cinema.
Este é um dos momentos que mais gosto no filme: "The best of them won't come for money. They'll come for me". Aqui fica, como um muito sentido adeus a um dos grandes.
 



Maria Braun

sábado, 14 de dezembro de 2013

2013 no ouvido (IV)


Sem problemas, os The National voltaram em 2013 em grande forma.

The National - "Sea Of Love" (Trouble Will Find Me, 2013)


quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

2013 no ouvido (III)


O que 2013 nos trouxe de novo.

Savages - "Husbands" (Silence Yourself, 2013)

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

2013 no ouvido (II)


O grande regresso do ano...

David Bowie - "The Next Day" (The Next Day, 2013)

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

2013 no ouvido (I)


Durante este mês de Dezembro, vamos passar em revista alguns dos melhores álbuns de 2013.
E começamos pelo novo dos Arcade Fire, Reflektor. Talvez o álbum com mais hype do ano.

Arcade Fire - "Afterlife" (Reflektor, 2013)

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Não há palavras possíveis

Todos os acontecimentos deste dia passaram para um plano secundário. Descansa em paz, Nelson Mandela. São raros homens assim.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Só mais umas semanas...

Está quase a regressar à BBC One.




 
Maria Braun

terça-feira, 12 de novembro de 2013

"There is nothing behind me and I'm already a has-been"


Nos últimos tempos, tenho ido cada vez mais buscar à minha colecção alguns discos que já não ouvia há algum tempo. Já falei disso aqui antes. São os sinais da idade, a adrenalina da descoberta de algo novo substituída pelo conforto da nostalgia. Esta é uma nostalgia de tempos não vividos, saudades não só da música que fez a minha adolescência, mas também da de outras juventudes que não a minha. Isto não é algo novo; se perguntassem ao meu eu de 15 anos quais as suas bandas preferidas, a resposta imediata seria The Beatles e The Smiths, apesar de ter nascido nos anos 80. Hoje a minha resposta seria mais ou menos igual (por falar nisso, o que achaste da autobiografia de Morrissey, K?).
Mas não é destes dois grupos que venho aqui falar. Nunca parei de os ouvir ao longo dos anos. Venho falar dos Buzzcocks e de duas gravações que voltaram a estar em rotação contínua no meu mp3, a compilação Singles Going Steady (1979) e o EP Spiral Scratch (1977). Estes dois discos representam duas fases distintas da banda, com Singles representando o alinhamento clássico, que nos deu canções como Ever Fallen in Love, e Spiral Scratch o alinhamento original, ainda com Howard Devoto.
A banda criada por Devoto e Pete Shelley quando estudantes em Bolton será sempre uma das minhas preferidas do punk inglês dos 70s. Spiral Scratch foi a única gravação de Devoto com a banda que criou (muito posteriormente recomeçou a colaborar com Shelley e em 2012 juntou-se aos Buzzcocks em concerto). Este EP é historicamente importante por ter sido a primeira auto-edição feita por uma banda, sem um contrato com uma editora discográfica. É a ideia do "do it yourself" que caracterizava o punk posta em prática, abrindo o precedente e cimentando a ideia que qualquer um pode produzir a sua própria música.
Se tivermos em conta o trabalho posterior de Devoto com a sua segunda banda, os Magazine, assim como o trabalho de Shelley com os Buzzcocks, torna-se óbvio que os dois tinham sensibilidades diferentes e que os seus percursos iriam necessariamente divergir a determinado ponto. Existe aquele lugar-comum sobre Devoto o intelectual e Shelley o trovador, e se isso diz algo sobre as suas vozes muito particulares, é um distinção algo simplista. Ambos acabariam por ter uma enorme influência sobre as gerações seguintes de músicos, cada um da sua forma. Muitas vezes, as bandas que os seguiram ou mesmo copiaram (ouçam North American Scum dos LCD Soundsystem e digam-me que não é a mais descarada cópia de Homosapien, trabalho a solo de Pete Shelley) acabaram por ter muito mais êxito comercial do que eles, o que não deixa de ser frustrante. No entanto, parafraseando Shelley, a influência dos Buzzcocks (e dos Magazine) é mais importante que qualquer fortuna milionária.
Deixo aqui duas canções. Primeiro fica Boredom de Spiral Scratch, com Devoto na voz e Shelley em backing vocals. Em segundo, I Don't Mind, single do alinhamento clássico dos Buzzcocks, já com Shelley como voz principal.





Maria Braun

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

I'm the captain now

Ou o face a face de dois capitães. Dois homens com vidas radicalmente diferentes, ambos parte de um contexto global e peões num jogo muito maior do que eles. Captain Phillips baseia-se num acontecimento real, o rapto de um capitão da marinha mercante americana por piratas somalis. A história serve de base para o novo thriller de Paul Greengrass, fiel ao estilo do realizador que ajudou a renovar a linguagem deste género cinematográfico nos últimos anos. É um dos filmes mais tensos dos últimos tempos, ainda mais do que Gravity. Estão lá as características de Greengrass, o tremer da câmara segurada à mão e, o mais importante para o sucesso do filme, a neutralidade com que observa a história. Isto leva a uma ambiguidade que permite ao espectador ter empatia quer com Richard Phillips, o raptado, quer com Muse, o líder dos raptores. Aliás, já ouvi muita gente dizer que, no fim, a sua simpatia está com os piratas.
Como diz o capitão Phillips a determinado ponto, todos têm patrões. Esse é o ponto central. Nenhum deles está verdadeiramente em controlo. Se, em termos de enredo, este é um filme sobre um homem raptado por piratas, em termos de temática é um filme sobre globalização, sobre colonialismo e domínio económico. Phillips diz a Muse que há outras opções na vida para além de ser pescador ou pirata; talvez na América, responde-lhe este. Uma das primeiras sequências do filme contextualiza a acção de Muse e dos seus homens. A aldeia onde vivem é dominada por um "senhor da guerra" que ordena os ataques e exige um saque vultuoso. O dinheiro que é obtido não vai para os piratas mas para os bolsos destes homens, muitos deles nem sequer baseados na Somália. Um acto de pirataria é um acto de sobrevivência. A América, que se vê como vítima, é uma das responsáveis pela situação; eles próprios ajudaram a criar o clima que atinge cidadãos seus, como atingiu Richard Phillips. Muse fala dos barcos que vão para a costa da Somália e lhes roubam o peixe, deixando-os sem alimentos. Esta é apenas uma das muitas formas de exploração. É impossível saber isto e não olhar para Muse que, pelas suas acções, prova constantemente ser alguém com humanidade e compaixão que teve a infelicidade de viver naquelas circunstâncias, sem o perceber. É impossível não ficar devastado quando ele fala do seu sonho de viver em Nova Iorque e comprar um carro, quando sabemos que isso nunca será possível.
Quer Tom Hanks quer o estreante Barkhad Abdi têm grandes interpretações no filme. Hanks nunca esteve melhor e Abdi não se deixa intimidar, respondendo a Hanks de igual para igual. A cena final de Hanks é fenomenal, um momento de catarse depois de toda a contenção que mantém durante o resto do filme.
Greengrass criou, com toda esta ambivalência, um dos filmes mais tensos, mais viscerais do ano. Ele estará, quase de certeza, na minha lista dos melhores de 2013.


Maria Braun

Gravity


Gravity é sobretudo uma experiência. Escrever acerca deste filme é uma tarefa algo inglória. Em primeiro lugar, a minha reacção surpreendeu-me. Pode-se dizer que tive um ataque de pânico. Costumo ficar até ao fim para ler os créditos finais mas, desta vez, tive de sair da sala o mais rapidamente possível porque não conseguia respirar. Poupo-vos os pormenores mais desagradáveis, mas posso afirmar que foi inédito e totalmente inesperado.
Este filme foi um projecto que demorou anos a ser concretizado e que era muito pessoal para Alfonso Cuarón. Isso traduziu-se no ecrã. É um daqueles filmes que têm mesmo de ser vistos numa sala de cinema. Além do mais, não sendo grande fã do formato 3D, tenho de admitir que não só resulta neste caso, como este filme pode ser um argumento usado para justificar a sua existência. No entanto, seria injusto reduzi-lo aos efeitos especiais, por muito fabulosos que sejam. A minha reacção, não sendo necessariamente universal, é uma prova que o filme resulta a um nível muito físico e emocional, que tem um impacte que vai muito para além da sua extraordinária beleza.
Sandra Bullock tem uma presença que cria empatia e que é eficaz. Tenho algumas reservas em levar os meus elogios muito mais longe do que a afirmação de que Bullock é sólida no papel, sobretudo pouco tempo depois de ter visto a extraordinária interpretação de Cate Blanchett em Blue Jasmine. O papel em si precisava de muitas mais nuances para a interpretação passar do bom para o excelente. Contudo, tem de se fazer justiça a Bullock e celebrar o facto de, depois dos 40 anos, idade fatal para as actrizes de Hollywood, ser uma da poucas mulheres que consegue fazer milhões em box office. Quem diria, nos anos 90, que ela seria a actriz da sua geração a ter esta longevidade. 
Bullock como centro deste filme é um dos seus aspectos interessantes. O papel, como está escrito, poderia ser interpretado por um homem ou por uma mulher; não há clichés de género associados a ele. Pensem Ripley em Alien. Isso é uma raridade em Hollywood. Aliás, o próprio Cuarón contou como o estúdio o pressionou para mudar o género da personagem, mas que ele insistiu em ter uma mulher no centro da história. Se ele tivesse cedido, não seriam necessárias grandes alterações. O que interessa é a competência e capacidade de sobrevivência da Dr. Ryan Stone.
No entanto, há aspectos no filme que não tiveram particular ressonância, no meu caso - toda a simbologia dos momentos finais, por exemplo, só salienta que este filme não é 2001. É algo forçado e não particularmente subtil. Poucos tocam em 2001, contudo, e esses momentos não são suficientes para ameaçar o lugar que já está reservado para Gravity na lista dos melhores filmes de 2013. 

Maria Braun

domingo, 27 de outubro de 2013

Para Lou

Neste momento tão triste.




Maria Braun

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Plus ça change...

O post anterior pede um anexo: do Reino Unido de Thatcher ao Portugal de Passos.




Maria Braun

Imagens perturbantes

 
A imagem, Sally, é perturbante. A realidade, contudo, ainda mais perturbante é. Não sinto grande vontade de satirizar o que se passa. Quando temos um governo que está a destruir direitos que levaram décadas a adquirir, a destruir a vida de tantos portugueses com uma crueldade assombrosa, com um misto de desinteresse e sobranceria, quando se vê a crise como desculpa para levar a cabo uma purga com bases ideológicas, a vontade de rir não é muita. O Primeiro-Ministro dá uma conferência de imprensa em que menciona, com um desinteressado encolher de ombros, uma inevitável perda de autonomia das instituições. O que é que ele quer dizer com isso e quem lhe deu autoridade para o fazer?
 Choca-me a falta de sentido democrático deste governo. Chocam-me os ataques à liberdade de imprensa, as tentativas (nem sempre bem sucedidas) de silenciamento de vozes incómodas, o ataque vergonhoso e perigoso ao Tribunal Constitucional, que apenas está a fazer o que lhe compete – proteger a Constituição. Choca-me ainda mais a apatia que rodeia tudo isto. Aquele fanático que usa o título de Primeiro-Ministro é um perfeito e total incompetente, um tiranete que quer condenar a maioria à miséria. De que outra forma se pode interpretar o que estão a fazer aos reformados, os brutais ataques a pessoas de 80 anos que não têm muitas defesas? Querem transformá-los em sem-abrigo, em miseráveis esfomeados? E a vendetta contra os funcionários públicos? E fazem-no com uma displicência. Fazem-no com a atitude que só é possível em pessoas que vivem numa redoma fora de qualquer tipo de realidade, sem qualquer conhecimento do que é passar por dificuldades, do que é passar por aquilo que tantos estão a viver. É maldade pura e venenosa. Não há outra forma de o expressar. E ainda se acham no direito de vir dizer que os portugueses são “piegas”, ainda se acham no direito de falar com o paternalismo de quem pensa que sabe mais que todos os outros. É o paraíso de uma certa direita, os privilégios de alguns e a pobreza de muitos, dependentes da nojenta caridadezinha que lhes é tão cara.
O governo foi legitimamente eleito, sem dúvida. Isso não lhes dá a legitimidade de destruir um país a mando da Alemanha; isso não significa que hoje, depois de tudo o que fez, ainda se pode considerar legítimo. Se tivéssemos um Presidente digno desse nome e não aquele espantalho, eles já lá não estariam. Teriam sido convocadas eleições legislativas para o dia das autárquicas. Se todos os instrumentos democráticos para afastar o governo se mostram ineficazes, pergunto-me o que nos resta. O que eu gostava que acontecesse não o digo aqui, se não ainda me bate a polícia à porta. Por aí me fico.
 
Maria Braun
 

terça-feira, 8 de outubro de 2013

E por falar em estranhos...



Este gato está confuso:
Se a entrevista de Rui Machete à Rádio Nacional de Angola foi em meados de Setembro, como é que a polémica só estalou em Portugal em Outubro?
Fusos horários? As ondas de rádio vieram de caravela?
Já agora, será que, com isto, podemos tirar alguma conclusão sobre a grande dúvida que paira no ar há meses, ou seja: como Rui "Senhor-esqueletos-no-armário" Machete chegou a Ministro dos Negócios Estrangeiros?
E, por falar nisso: Para quando Passos Coelho, pintado de dourado e montado numa vassoura, a sobrevoar nu Lisboa?
Perdoem-me a imagem.
Sally Bowles

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Regresso ao gato

Em Moscovo...


Traduzindo a placa: "Não falar com estranhos".
Sally Bowles

domingo, 29 de setembro de 2013

Já que estou aqui sozinha...

Tenho de animar o blog.




Maria Braun

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

O Verão em Revista: Dentro de Casa



Num período dominado por blockbusters estreou, de forma algo discreta, um dos mais interessantes filmes do ano. Dans la Maison foi uma das histórias de sucesso do Festival de Toronto de 2012 que chegou a Portugal este Verão. Penso que é um dos melhores filmes de Ozon. Curiosamente, o que mais se aproxima desta obra na sua filmografia anterior, em tom e enredo, é um dos que gosto menos, Swimming Pool.
 Se quisermos falar de influências, elas são tão óbvias quanto diferentes entre si. A primeira que me ocorreu foi Teorema, de Pasolini. Foi, por isso, com alguma satisfação que vi Ozon referenciar directamente esse filme. “Isto é Pasolini” comenta, a determinado momento, Germain ao seu aluno, Claude. Para além dessa referência, há algo de Woody Allen na história e nas personagens. A imagem final, por seu lado, é uma alusão clara a Rear Window de Hitchcock.
As influências não são apenas cinematográficas, mas também literárias. Para além das referências directas no próprio filme (o liceu chama-se Gustave Flaubert, por exemplo), há alusões como o nome do professor, que descobrimos a certo ponto chamar-se Germain Germain, como Humbert Humbert em Lolita. O próprio Claude tem laivos de versão moderna de Rimbaud, tendo inclusivamente a mesma idade que o poeta tinha quando conheceu Verlaine.
As referências literárias fazem sentido porque Dans la Maison é um filme sobre o processo de escrita, sobre as relações escritor/editor e escritor/leitor. É sobre dois personagens que se deixam envolver de tal forma no mundo ficcional que já não distinguem a realidade da ficção. Germain ensina francês no liceu e inicia o ano lectivo pessimista e desiludido. Os alunos são uma massa medíocre e indiferente, carneiros em uniformes escolares. Quando ele lhes pede que escrevam uma redacção sobre o que fizeram no fim-de-semana, entre os textos sobre televisão, pizza e telemóveis há um que se destaca. Pertence a Claude, que se senta na última fila e que não parece sobressair especialmente. Claude conta ao professor como se introduziu na casa de um colega, com quem travou amizade de forma a ter acesso à vida típica de uma família de classe-média. Claude descreve aquela família com ironia e desprezo e termina, numa mistura de promessa e ameaça: “Continua”.
Germain desaprova mas não consegue deixar de ficar intrigado, dando um 17 a Claude. A partir daí o seu aluno vai-lhe apresentando novos capítulos, que ele partilha com a sua mulher, Jeanne. Aluno e professor começam a encontrar-se depois das aulas para lições privadas. Germain entra de tal forma dentro da narrativa que se transforma em participante e manipulador, alterando a própria história e as relações entre as personagens. Nunca é claro, na prosa de Claude, o que é realidade e o que é ficção criada para satisfazer Germain. A mulher avisa-o: “Isto não vai acabar bem” e “ele está a manipular-te”. Obviamente, ela tem razão.
No fim fica uma questão no ar. Qual é a casa a que Claude quer, de facto, ter acesso e minar por dentro? A do seu amigo Rapha, do seu pai obcecado com a China e a mãe com o seu “odor de mulher de classe-média” (por quem Claude, aliás, desenvolve uma fixação)? Ou será que a casa de Rapha, inicialmente o objectivo, acaba por se transformar num meio para atingir um fim e esse fim é a casa de Germain? Ou ambas igualmente? É propositadamente ambíguo. No entanto, algo é óbvio: Claude (que Ozon tem o cuidado de manter com a inocência suficiente de forma a não o transformar num vilão) procura uma família, amor paternal, afecto. No fundo, é este o motor de todas as suas acções.
O filme torna-se problemático, no entanto, no seu acto final. A determinado ponto, Germain diz a Claude que o segredo de um bom final é este ser inesperado e, simultaneamente, criar a reacção “só podia ser assim” no leitor. Infelizmente, Ozon não seguiu este conselho, enfraquecendo a história na sua última meia hora (a reacção de Jeanne não me pareceu nada verosímil). No entanto, apesar deste percalço, este não só é um excelente filme na carreira de um realizador que tem os seus altos e baixos, como é entretenimento puro.

 
Maria Braun

Regresso às aulas


Ou ao blog, depois do Verão. Falemos, como não podia deixar de ser, de cinema. Não que haja muito a dizer em termos de estreias porque, com excepção de Dans la Maison e do novo de Woody Allen, foi o deserto. Há, no entanto, notícias dos festivais (Toronto, Telluride e Veneza) das quais faço um apanhado:

12 Years a Slave é fabuloso e teve ovações de pé tanto em Telluride como em Toronto. Ganhou o prémio de melhor filme neste festival. Segundo dizem, Ejiofor, Fassbender e a estreante Lupita Nyong’o são assombrosos.

Gravity também correspondeu às expectativas. É, segundo quem o viu, um dos grandes do ano e um dos melhores filmes de ficção-científica desde há muito, muito tempo.

Matthew McConaughey e Jared Leto têm interpretações notáveis em Dallas Buyers Club e podem ser dois dos nomes a anotar na próxima corrida aos Óscares.

Philomena de Stephen Frears tem sido um sucesso (embora mais entre as audiências do que entre os críticos). Foi runner-up para o prémio de Melhor Filme em Toronto e ganhou Melhor Argumento em Veneza. Judi Dench está na corrida.

O segundo runner-up em Toronto foi Prisoners, com Hugh Jackman e Jake Gyllenhaal. No ano passado, Silver Linings Playbook ganhou o festival, com Argo como runner-up.

August: Osage County é, como já se suspeitava, um filme com grandes interpretações mas mediano em qualidade cinematográfica. Precisava de um outro realizador que fosse capaz de transformar uma grande peça de teatro num grande filme, em vez de se limitar a filmar os actores. Meryl Streep domina.

Este parece ser o ano de Daniel Brühl, sobretudo com a interpretação em Rush, que tem merecido muitos e grandes elogios.

The Disappearance of Eleanor Rigby foi muito bem recebido em Toronto e foi comprado por Harvey Weinstein. A dúvida é se Weinstein o põe nos cinemas este ano ou se o guarda para o próximo. Jessica Chastain e James McAvoy têm recebido boas críticas.

Há filmes que não merecem as excelentes interpretações que contêm, i.e., o actor é melhor que o filme: Idris Elba e Naomie Harris em Mandela e Benedict Cumberbatch e Daniel Brühl em The Fifth Estate (Cumberbatch esteve presente com mais dois títulos, 12 Years e August: Osage County).

Tom Hanks está de novo em forma em Captain Phillips, de Paul Greengrass. Este é um título a que se deverá prestar atenção.

Há uma razão para o filme sobre Diana, com Naomi Watts, ter evitado o período dos festivais: ver as críticas que recebeu no Reino Unido.

Finalmente, uma pergunta. O que acontecerá ao Festival de Veneza nos próximos anos? Com os estúdios e produtores a apostar cada vez mais em Telluride e Toronto, Veneza teve uma das suas piores edições, sem conseguir conquistar as estreias em que estavam interessados. Isto coloca outra questão. Toronto e Telluride são vistos como plataformas de lançamento para os Óscares, tanto pelos produtores como pela imprensa de língua inglesa. Isso reduz muito a discussão dos filmes apresentados, quando a perspectiva pela qual são vistos é a de “será nomeado?”. Suponho que a inesperada escolha do júri de Bertolucci terá sido uma mensagem nesse sentido.


Claro que não estive em nenhum destes festivais e esta informação é em segunda-mão.
 
 
Maria Braun

 

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Veneza '13

Aqui fica o alinhamento, para os interessados. Vai ser apresentada uma curta de Miguel Gomes fora de competição, com o título de Redenção.
 
IN COMPETITION
 
Ana Arabia, Amos Gitai
Child of God, James Franco
Joe, David Gordon Green
Kaze Tachinu, Hayao Miyazaki
L’intrepido, Gianni Amelio
La Jalousie, Philippe Garrel
Miss Violence, Alexandros Avranas
Night Moves, Kelly Reichardt
Parkland, Peter Landesman
Philomena, Stephen Frears
The Police Officer’s Wife, Philip Groning
The Rooftops, Merzak Allouache
Sacro Gra, Gianfranco Rosi
Stray Dogs, Ming-liang Tsai
Tom at the Farm, Xavier Dolan
Tracks, John Curran
Under the Skin, Jonathan Glazer
The Unknown Known: The Life and Times of Donald Rumsfeld, Errol Morris
Via Castellana Bandiera, Emma Dante
The Zero Theorem, Terry Gilliam
 
 
OUT OF COMPETITION
 
Space Pirate Captain Harlock, Shinji Aramaki
Gravity, Alfonso Cuarón
Mobius, Ki-duk Kim
Locke, Steven Knight
Unforgiven, Sang-il Lee
Wolf Creek 2, Greg McLean
Home From Home – Chronicle of a Vision, Edgar Reitz
Gondola, Paul Rudish, Aaron Springer, Clay Morrow
The Canyons, Paul Schrader
Che strano chiamarsi Federico Scola racconta Fellini, Ettore Scola
Walesa. Man of Hope, Andrzej Wajda and Ewa Brodzka
 
 
OUT OF COMPETITION: DOCUMENTARIES
 
Summer 82 When Zappa Came to Sicily, Salvo Cuccia
Pine Ridge, Anna Eborn
The Armstrong Lie, Alex Gibney
Redemption, Miguel Gomes
Ukraine is not a Brothel, Kitty Green
Con il fiato sospeso, Costanza Quatriglio
Amazonia, Thierry Ragobert
La voce di Berlinguer, Mario Sesti, Teho Teardo
‘Til Madness Do Us Apart, Bing Wang
At Berkeley, Frederick Wiseman


 
Maria Braun

terça-feira, 23 de julho de 2013

TIFF '13

Foi hoje anunciada a lista dos filmes que serão apresentados no próximo Festival de Toronto. Como acontece normalmente, muitos daqueles que iremos ver na temporada de prémios que aí vem, culminando nos Óscares, estão sem dúvida nesta lista. O Festival abre com The Fifth Estate e apresentará August: Osage County, 12 Years a Slave, Mandela, Kill Your Darlings, Gravity, The Past, Philomena, The Great Beauty, assim como os novos filmes de Wajda, Tavernier e Ozon, entre outros. É, para mim, uma surpresa ver 12 Years listado como "Estreia Mundial", o que pode deixá-lo de fora de Veneza (apesar de Steve McQueen ter estado nos dois festivais com Shame).
Aqui fica a lista. O Festival decorre entre 5 e 15 de Setembro.
 
 
GALAS
"American Dreams in China" (Peter Ho-Sun Chan)
"The Art of the Steal" (Jonathan Sobol)
"August: Osage County" (John Wells)
"Cold Eyes" (Cho Ui-seok and Kim Byung-seo)
"The Fifth Estate" (Bill Condon)
"The Grand Seduction" (Don McKellar)
"Kill Your Darlings" (John Krokidas)
"Life of Crime" (Daniel Schechter)
"The Love Punch" (Joel Hopkins)
"The Lunchbox" (Ritesh Batra)
"Mandela: Long Walk to Freedom" (Justin Chadwick)
"Parkland" (Peter Landesman)
"The Railway Man" (Jonathan Teplitzky)
"The Right Kind of Wrong" (Jeremiah Chechik)
"Rush" (Ron Howard)
"Shuddh Desi Romance" (Maneesh Sharma)
"Supermensch" (Mike Myers)
 
 
SPECIAL PRESENTATIONS"12 Years a Slave" (Steve McQueen)
"All is By My Side" (John Ridley)
"Attila Marcel" (Sylvain Chomet)
"Bad Words" (Jason Bateman)
"Belle" (Amma Asante)
"Blue is the Warmest Color" (Abdellatif Kechice)
"Can a Song Save Your Life?" (John Carney)
"Cannibal" (Manual Martín Cuenca)
"Dallas Buyers Club" (Jean-Marc Vallée)
"Devil's Knot" (Atom Egoyan)
"The Disappearance of Eleanor Rigby: Him and Her" (Ned Benson)
"Dom Hemingway" (Richard Shepard)
"Don Jon" (Joseph Gordon-Levitt)
"The Double" (Richard Ayoade)
"Enough Said" (Nicole Holofcener)
"Exit Marrakech" (Caroline Link)
"Felony" (Matthew Saville)
"For Those Who Can Tell No Tales" (Jasmila Žbanić)
"Gloria" (Sebastián Lelio)
"Going Away" (Nicole Garcia)
"Gravity" (Alfonso Cuarón)
"The Great Beauty" (Paolo Sorrentino)
"Half of a Yellow Sun" (Biyi Bandele)
"Hateship Loveship" (Liza Johnson)
"Ida" (Pawel Pawlikowski)
"L'intrepido" (Gianni Amelio)
"The Invisible Woman" (Ralph Fiennes)
"Joe" (David Gordon Green)
"Labor Day" (Jason Reitman)
"Like Father, Like Son" (Hirokazu Kore-eda)
"Man of Tai Chi" (Keanu Reeves)
"MARY Queen of Scots" (Thomas Imbach)
"Night Moves" (Kelly Reichardt)
"Omar" (Hany Abu-Assad)
"One Chance" (David Frankel)
"Only Loves Left Alive" (Jim Jarmusch)
"The Past" (Asghar Farhadi)
"Philomena" (Stephen Frears)
"Pioneer" (Erik Skjoldbjærg)
"Prisoners" (Denis Villeneuve)
"Quai d'Orsay" (Bertrand Tavernier)
"REAL" (Kiyoshi Kurosawa)
"Starred Up" (David Mackenzie)
"Third Person" (Paul Haggis)
"Those Happy Years" (Daniele Luchetti)
"Tracks" (John Curran)
"Under the Skin" (Jonathan Glazer)
"Violetta" (Martin Provost)
"Visitors" (Godfrey Reggio)
"Walesa. Man of Hope." (Andrzej Wajda)
"We are the Best! (Vi är bäst!)" (Lukas Moodysson)
"Le Week-End" (Roger Michell)
"You Are Here" (Matthew Weiner)
"Young and Beautiful (Jeune & jolie)" (François Ozon)
 
Maria Braun

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Mais Trailers

Esta tem sido uma semana preenchida com a apresentação de novos trailers. Já que coloquei aqui o de 12 Years a Slave, acho que não posso ignorar estes dois. Isto porque os filmes correspondentes estão naquela lista que publiquei há uns meses (e que nunca chegou a ser terminada). Por isso, aqui ficam as primeiras imagens de The Fifth Estate e de Mandela: Long Walk to Freedom.





Maria Braun

quinta-feira, 18 de julho de 2013

12 Years a Slave

Esta semana foi apresentado o primeiro trailer de um dos filmes mais antecipados do ano. No entanto, o seu tom pode enganar. O objectivo é vender o filme ao público mais alargado, o que explica a música e o ângulo algo banal que dá à história. Confesso que se não tivesse já ouvido as opiniões dos que foram aos test screenings, ficaria algo desiludida. Lembrem-se: este é um filme de Steve McQueen, não de Spielberg. Segundo o que se diz, é brutal e não foge das realidades mais sombrias do esclavagismo. Fassbender é, também segundo quem já o viu, aterrador.
Aqui fica o trailer enquanto esperamos o alinhamento do Festival de Veneza, onde poderá ser apresentado. A data de estreia nos Estados Unidos foi antecipada para Outubro.
 



Fica também aqui o poster.

 

Maria Braun

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Dream River


No dia 17 de Setembro é editado um dos discos pelo qual mais tenho esperado. A press release da Drag City diz: "Recorded earlier this year at Cacophony, TX, (look it up!), Dream River features eight performances that are easily the most sensual and soulful of Callahan’s career, baby! " Não sei mais nada. Ainda assim, estou com uma expectativa tremenda.

K. Douglas


quinta-feira, 11 de julho de 2013

Mad Men 6 - A Thing of Beauty



I've looked at life from both sides now 
From win and lose and still somehow 
It's life's illusions I recall
I really don't know life at all
I've looked at life from both sides now 
From up and down, and still somehow 
It's life's illusions I recall
I really don't know life at all

Joni Mitchell, Both Sides Now

A sexta temporada de Mad Men foi talvez a ocasião em que vivi de forma mais intensa o acompanhamento de uma série de televisão. Isto deve-se a várias razões, entre as quais destaco o facto de esta ter sido das primeiras vezes em que segui uma série no momento em que está a ser emitida. Por outro lado, e mais importante do que o modo de acompanhamento, está o que a temporada oferece ao espectador. A início pode parecer dispersa, uma vez que a acção se dilata em várias frentes: Don, Peggy, Pete, Joan. Isto não significa que a série tenha uma falsa partida, pelo contrário. Por exemplo, a história de Betty na village, em busca da amiga de Sally, não deixa de dizer coisas sobre a sua vida, nomeadamente de como acha que poderia ter sido mais do que uma doméstica suburbana e ter construído a sua própria carreira. Também Joan não está bem com aquilo que tem. Fez um sacrifício grande, continua a ser tratada como uma secretária e Don, a uma certa altura, manda por água abaixo a possibilidade de ela recolher os frutos do seu sacrifício. Já Peggy parece estar bem no início da temporada. Completamente trabalhadora, competente, talentosa e insuportável, as coisas correm-lhe bem. O que não significa que não faça porcaria como trair a confiança de Stan na campanha da Heinz. E claro, Don. Mas Don fica para último. O que eu queria dizer há pouco é que a temporada fica mais coesa e excitante a partir do sexto episódio - For Immediate Release.

É neste episódio que se responde a uma das perguntas do final da quinta temporada. A primeira pergunta - se Don está sozinho - tem a resposta logo no episódio de estreia da temporada. Sim, está sozinho. O momento de felicidade e fidelidade com Megan acabou. Ficamos a saber que tem um caso com a vizinha de baixo, Sylvia. Mas a outra pergunta que se punha era: como vai ser a relação de Don e de Peggy? Como sempre, Mad Men não é previsível. Imaginava eu que se encontrariam num clima de competição e que cada um teria as suas vitórias e algum confronto. É isso que acontece na campanha da Heinz, da qual Peggy sabe de forma indevida. Claro que o encontro dos dois é tenso e o facto de Don ficar atrás da porta a escutar o que a sua antiga protegida está a dizer não deixa de mostrar de como Peggy o afecta. O que acontece, porém, é uma reviravolta. Em For Immediate Release, Peggy volta à Sterling Cooper, o que não a deixa muito satisfeita. O regresso de Peggy é cómico e amargo. Tal como a Maria notou, é conduzida novamente por Joan ao seu novo gabinete. E que gabinete é este? O gabinete que tem uma coluna a meio, que Pete tanto odiava. Este aspecto não deixa de fazer lembrar a fotocopiadora que Joan enfiou no gabinete de Peggy no início da segunda temporada.

Ou seja, a relação de Don e de Peggy estabelece-se no mesmo espaço, mas com novas variáveis. Nomeadamente: Ted. O novo patrão de Peggy é diferente de Don e Peggy sublinha isso constantemente. Peggy precisa de reconhecimento, Ted dá-lhe isso de modo imediato. Don não. Podemos lembrar-nos daquele que é para mim um dos episódios mais marcantes de toda a série - The Suitcase (quarta temporada) - em que Peggy grita com Don: "Mas tu nunca dizes obrigado!" "É para isso que serve o dinheiro!", responde ele. Já a cumplicidade entre Ted e Peggy é evidente, o que desagrada a Don e leva-o a procurar agitar isso, confrontando-a. e, em último caso, humilha-a ,e a Ted também, aquando da apresentação do anúncio que criaram inspirado em Rosemary's Baby. A verdade é que a vida de Peggy até certo ponto se joga na atenção destes dois homens. Mas, num momento magnífico, em que está entre o gabinete de um e de outro, olha para ambas as portas, que se fecham e percebe que nenhum deles estará lá para ela. Sozinha, acabará no gabinete de Don - "onde tudo acontece" - e onde começará a construir a sua vida. Será que a sétima temporada trará uma Peggy verdadeiramente independente (e quiçá mais insuportável para quem trabalha para ela)?

A relação Peggy-Joan é uma das minhas favoritas da série. E ambas têm um momento de verdade, em que se confrontam. As acusações são justas, especialmente as de Peggy. Vejamos, Joan sempre menorizou Peggy e não perdeu uma única oportunidade para a por no sítio que achava que era o dela. Já Peggy responde a Joan que ela nunca dormiu com Don e aquilo que conseguiu foi fruto do trabalho dela. Joan ressente-se porque sabe que, desde a campanha da Jaguar, ouvirá sempre este comentário. Ao mesmo tempo, Peggy mostra como apesar de tudo ouviu o que Joan lhe disse, chegando a dizer que nunca lhe tinha passado pela cabeça a situação em que ela diria: Joan, fizeste mal. O que também é interessante nestas duas é que elas jogam o que está instituído para conseguirem o que querem. Joan sabe que "isto não é a China, não há dinheiro na virgindade" e Peggy, a certas alturas, esforçou-se para ter a atitude de homem para conseguir singrar. Mas na situação concreta da Avon, é Joan que parece ter o golpe de asa de independência e não Peggy que acha que o negócio está perdido por Pete não estar presente. Neste episódio, o calibre de Pete mostra-se em todo o seu esplendor ao confrontar Joan, depois de ter descoberto que ela o tinha afastado do encontro.

Ninguém gosta de Pete Campbell. Não é para menos, ele é odioso. No final da quinta temporada, sovado, consegue aquilo que queria: um apartamento na city. E aí que o encontramos, sozinho, com uma amante ou outra. Mas Pete decidiu envolver-se com a vizinha e Trudy deixa as coisas bem claras, terminando com uma  ameaça : I will destroy you. Foi bom ver Trudy a tomar esta atitude e a personagem revelou-se bem mais complexa. Pete continua a suicidar-se a todo o momento. E mesmo quando tem toda a razão do mundo para confrontar Don, cai das escadas abaixo. É ultrapassado por Joan na Avon e tem que lidar com uma mãe demente que lhe diz a certa altura que ele sempre foi "unlovable". Mas há duas pessoas que gostam de Pete. A primeira é Peggy, que parece não lhe guardar ressentimento, apesar de ele a ter tratado bastante mal. A segunda é o mistério da temporada: Bob Benson. Claro que aquelas palavras e aquele toque de joelho são memoráveis. É certo que Pete parece aprender com os erros, mas a relação que poderá ter com Bob pode ter contornos nefastos para si. Até agora é Bob que está no controlo da situação. Quando Pete é convidado para experimentar o Chevy, no último episódio da temporada, o espectador exclama de imediato: mas tu não sabes conduzir! Os resultados não se fazem esperar.



Bob até então não tinha mostrado esta faceta. Até então era um tipo demasiado simpático, solícito, e espalhava bem-estar à sua volta. Tem o particular dom de controlar as situações e esse aspecto ficou muito claro com o poder que exerce sobre Pete. Este estava fora de si por causa do enfermeiro da mãe - Manolo - e Bob exige que ele se acalme e se sente. Coisas que Pete faz de imediato. O espectador não deixa de ficar surpreendido com Pete que teve sempre uma atitude de sobranceria para com os subalternos. Por outro lado, até que ponto Bob soube interpretar Pete para lhe dizer o que lhe disse e lhe tocar com o joelho? Foi um passo em falso no plano que tem para se construir a si mesmo? É certo que ele mente e tem alguém atrás de si - "Pete Campbell és un hijo de puta", grita a alguém ao telefone, quando aquele o procura  afastar. Estará Bob desgostoso com Pete e, ao mesmo tempo, receoso de que ele pode ameaçar a sua agenda? O próprio desaparecimento da mãe de Pete não deixa de ser suspeito.  E a sua relação com Joan e o desafio a Roger? E Roger deve ficar mesmo chateado porque sempre que o encontra em casa de Joan, Bob veste shorts ou um avental. Coisa que Don Draper nunca faria.

Outro grande momento da série foi na segunda temporada, quando Peggy lembra o que lhe aconteceu. No hospital, recebe a visita de Draper que lhe diz para ela seguir em frente e mais concretamente lhe diz qualquer coisa como isto: vais ficar chocada ao perceber que isto nunca aconteceu. Esta é uma das chaves para Don. Levou a vida toda a procurar outra coisa, a querer recomeçar, a querer ter paz. Gostei muito quando Sylvia lhe diz que espera que ele encontre paz. Don não mente apenas aos outros, mas mente também a si próprio, como se para curar uma dor, usasse uma outra dor mais suportável. Mas há coisas que nós não podemos anestesiar e fingir que nunca aconteceram. Por outro lado, consegue ser profundamente egoísta e isso nota-se quando ajuda o filho de Sylvia. As suas intenções não são as mais genuínas e Sally não deixa de ficar afectada com isso. Don é uma espécie de morto-vivo; não tem uma naturalidade consigo mesmo. Logo no início da temporada, o fotógrafo pede-lhe para ele posar como ele é realmente, coisa que o deixa desconcertado. O anúncio do Hawai (de que gostei muito), como a Maria escreveu, tem o sentido de Don despir as suas roupas e chegar a um lugar que é o seu e que passa por uma figura maternal. Toda a admiração que Ted tem por Don, como director criativo, é que este procura criar situações de bem-estar das pessoas consigo mesmas. Don é exímio a recriar pequenos-almoços perfeitos, a mãe que que se queima levemente na forma da tarte, mas que está feliz. O cheiro do bolo, a luz a entrar pelas vidraças da cozinha, a luta pela primeira fatia, etc. A mãe e a felicidade que ele nunca teve. É por isto que, como a Maria escreveu, a sua honestidade brutal (Don estava num ponto sem retorno) para com os homens da Hershey's foi um dos momentos mais emotivos de toda a série. Jon Hamm foi, uma vez mais, brilhante. Ou então, foi um bocado mais brilhante do que o costume.

Claro que a sua honestidade têm um preço e os "amigos", sócios, afastam-no (Joan, bitchy again). Mas Don começou aquele que parece ser o caminho de paz e o fecho da temporada tem um grande poder e beleza. Don, Dick, mostra aos filhos o sítio onde cresceu. Sally fica a saber alguma coisa do pai. O que vai acontecer na sétima temporada é uma incógnita para mim. Este é um dos toques de ouro de Mad Men, para além de todo o imenso talento com que é escrito e interpretado. Consegue ser assombroso (alguém se lembra de Draper sentado numa cadeira de dentista a pedir ao irmão morto que não o abandone, depois de ele lhe ter virado as costas?). É também por isto que acho que Mad Men é de uma beleza firme, segura, que me faz colocar esta série à frente de outras de que gosto tanto. Uma nota final: a escolha de Both Sides Now. Conheço a versão de Joni Mitchell já há alguns anos e sempre achei que era uma canção extraordinária. Mas há coisas que não se percebem bem aos vinte anos de idade. Talvez diga isto aos quarenta. Não sei. No entanto, é uma daquelas canções que não tem e não pode ter tempo.

K. Douglas






segunda-feira, 8 de julho de 2013

Os Dois Lados

But now old friends are acting strange
They shake their heads, they say I've changed
Well something's lost, but something's gained
In living every day

 
Foi esta a canção que encerrou o último episódio da sexta série de Mad Men, a versão de Judy Collins da famosa Both Sides Now, de Joni Mitchell. A parte da letra que cito acima é uma descrição perfeita da situação de Don Draper neste final. No momento em que a sua verdadeira persona começa a emergir, os seus sócios e amigos afastam-se (e afastam-no a ele). É o início da redenção mencionada no post anterior. Como escreve Joni Mitchell, perde-se algo mas também se ganha. Neste caso, o que se ganha pode ser bem mais valioso do que aquilo que se perdeu.
 
 



Maria Braun