segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Regresso ao gato

Em Moscovo...


Traduzindo a placa: "Não falar com estranhos".
Sally Bowles

domingo, 29 de setembro de 2013

Já que estou aqui sozinha...

Tenho de animar o blog.




Maria Braun

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

O Verão em Revista: Dentro de Casa



Num período dominado por blockbusters estreou, de forma algo discreta, um dos mais interessantes filmes do ano. Dans la Maison foi uma das histórias de sucesso do Festival de Toronto de 2012 que chegou a Portugal este Verão. Penso que é um dos melhores filmes de Ozon. Curiosamente, o que mais se aproxima desta obra na sua filmografia anterior, em tom e enredo, é um dos que gosto menos, Swimming Pool.
 Se quisermos falar de influências, elas são tão óbvias quanto diferentes entre si. A primeira que me ocorreu foi Teorema, de Pasolini. Foi, por isso, com alguma satisfação que vi Ozon referenciar directamente esse filme. “Isto é Pasolini” comenta, a determinado momento, Germain ao seu aluno, Claude. Para além dessa referência, há algo de Woody Allen na história e nas personagens. A imagem final, por seu lado, é uma alusão clara a Rear Window de Hitchcock.
As influências não são apenas cinematográficas, mas também literárias. Para além das referências directas no próprio filme (o liceu chama-se Gustave Flaubert, por exemplo), há alusões como o nome do professor, que descobrimos a certo ponto chamar-se Germain Germain, como Humbert Humbert em Lolita. O próprio Claude tem laivos de versão moderna de Rimbaud, tendo inclusivamente a mesma idade que o poeta tinha quando conheceu Verlaine.
As referências literárias fazem sentido porque Dans la Maison é um filme sobre o processo de escrita, sobre as relações escritor/editor e escritor/leitor. É sobre dois personagens que se deixam envolver de tal forma no mundo ficcional que já não distinguem a realidade da ficção. Germain ensina francês no liceu e inicia o ano lectivo pessimista e desiludido. Os alunos são uma massa medíocre e indiferente, carneiros em uniformes escolares. Quando ele lhes pede que escrevam uma redacção sobre o que fizeram no fim-de-semana, entre os textos sobre televisão, pizza e telemóveis há um que se destaca. Pertence a Claude, que se senta na última fila e que não parece sobressair especialmente. Claude conta ao professor como se introduziu na casa de um colega, com quem travou amizade de forma a ter acesso à vida típica de uma família de classe-média. Claude descreve aquela família com ironia e desprezo e termina, numa mistura de promessa e ameaça: “Continua”.
Germain desaprova mas não consegue deixar de ficar intrigado, dando um 17 a Claude. A partir daí o seu aluno vai-lhe apresentando novos capítulos, que ele partilha com a sua mulher, Jeanne. Aluno e professor começam a encontrar-se depois das aulas para lições privadas. Germain entra de tal forma dentro da narrativa que se transforma em participante e manipulador, alterando a própria história e as relações entre as personagens. Nunca é claro, na prosa de Claude, o que é realidade e o que é ficção criada para satisfazer Germain. A mulher avisa-o: “Isto não vai acabar bem” e “ele está a manipular-te”. Obviamente, ela tem razão.
No fim fica uma questão no ar. Qual é a casa a que Claude quer, de facto, ter acesso e minar por dentro? A do seu amigo Rapha, do seu pai obcecado com a China e a mãe com o seu “odor de mulher de classe-média” (por quem Claude, aliás, desenvolve uma fixação)? Ou será que a casa de Rapha, inicialmente o objectivo, acaba por se transformar num meio para atingir um fim e esse fim é a casa de Germain? Ou ambas igualmente? É propositadamente ambíguo. No entanto, algo é óbvio: Claude (que Ozon tem o cuidado de manter com a inocência suficiente de forma a não o transformar num vilão) procura uma família, amor paternal, afecto. No fundo, é este o motor de todas as suas acções.
O filme torna-se problemático, no entanto, no seu acto final. A determinado ponto, Germain diz a Claude que o segredo de um bom final é este ser inesperado e, simultaneamente, criar a reacção “só podia ser assim” no leitor. Infelizmente, Ozon não seguiu este conselho, enfraquecendo a história na sua última meia hora (a reacção de Jeanne não me pareceu nada verosímil). No entanto, apesar deste percalço, este não só é um excelente filme na carreira de um realizador que tem os seus altos e baixos, como é entretenimento puro.

 
Maria Braun

Regresso às aulas


Ou ao blog, depois do Verão. Falemos, como não podia deixar de ser, de cinema. Não que haja muito a dizer em termos de estreias porque, com excepção de Dans la Maison e do novo de Woody Allen, foi o deserto. Há, no entanto, notícias dos festivais (Toronto, Telluride e Veneza) das quais faço um apanhado:

12 Years a Slave é fabuloso e teve ovações de pé tanto em Telluride como em Toronto. Ganhou o prémio de melhor filme neste festival. Segundo dizem, Ejiofor, Fassbender e a estreante Lupita Nyong’o são assombrosos.

Gravity também correspondeu às expectativas. É, segundo quem o viu, um dos grandes do ano e um dos melhores filmes de ficção-científica desde há muito, muito tempo.

Matthew McConaughey e Jared Leto têm interpretações notáveis em Dallas Buyers Club e podem ser dois dos nomes a anotar na próxima corrida aos Óscares.

Philomena de Stephen Frears tem sido um sucesso (embora mais entre as audiências do que entre os críticos). Foi runner-up para o prémio de Melhor Filme em Toronto e ganhou Melhor Argumento em Veneza. Judi Dench está na corrida.

O segundo runner-up em Toronto foi Prisoners, com Hugh Jackman e Jake Gyllenhaal. No ano passado, Silver Linings Playbook ganhou o festival, com Argo como runner-up.

August: Osage County é, como já se suspeitava, um filme com grandes interpretações mas mediano em qualidade cinematográfica. Precisava de um outro realizador que fosse capaz de transformar uma grande peça de teatro num grande filme, em vez de se limitar a filmar os actores. Meryl Streep domina.

Este parece ser o ano de Daniel Brühl, sobretudo com a interpretação em Rush, que tem merecido muitos e grandes elogios.

The Disappearance of Eleanor Rigby foi muito bem recebido em Toronto e foi comprado por Harvey Weinstein. A dúvida é se Weinstein o põe nos cinemas este ano ou se o guarda para o próximo. Jessica Chastain e James McAvoy têm recebido boas críticas.

Há filmes que não merecem as excelentes interpretações que contêm, i.e., o actor é melhor que o filme: Idris Elba e Naomie Harris em Mandela e Benedict Cumberbatch e Daniel Brühl em The Fifth Estate (Cumberbatch esteve presente com mais dois títulos, 12 Years e August: Osage County).

Tom Hanks está de novo em forma em Captain Phillips, de Paul Greengrass. Este é um título a que se deverá prestar atenção.

Há uma razão para o filme sobre Diana, com Naomi Watts, ter evitado o período dos festivais: ver as críticas que recebeu no Reino Unido.

Finalmente, uma pergunta. O que acontecerá ao Festival de Veneza nos próximos anos? Com os estúdios e produtores a apostar cada vez mais em Telluride e Toronto, Veneza teve uma das suas piores edições, sem conseguir conquistar as estreias em que estavam interessados. Isto coloca outra questão. Toronto e Telluride são vistos como plataformas de lançamento para os Óscares, tanto pelos produtores como pela imprensa de língua inglesa. Isso reduz muito a discussão dos filmes apresentados, quando a perspectiva pela qual são vistos é a de “será nomeado?”. Suponho que a inesperada escolha do júri de Bertolucci terá sido uma mensagem nesse sentido.


Claro que não estive em nenhum destes festivais e esta informação é em segunda-mão.
 
 
Maria Braun