sexta-feira, 26 de julho de 2013

Veneza '13

Aqui fica o alinhamento, para os interessados. Vai ser apresentada uma curta de Miguel Gomes fora de competição, com o título de Redenção.
 
IN COMPETITION
 
Ana Arabia, Amos Gitai
Child of God, James Franco
Joe, David Gordon Green
Kaze Tachinu, Hayao Miyazaki
L’intrepido, Gianni Amelio
La Jalousie, Philippe Garrel
Miss Violence, Alexandros Avranas
Night Moves, Kelly Reichardt
Parkland, Peter Landesman
Philomena, Stephen Frears
The Police Officer’s Wife, Philip Groning
The Rooftops, Merzak Allouache
Sacro Gra, Gianfranco Rosi
Stray Dogs, Ming-liang Tsai
Tom at the Farm, Xavier Dolan
Tracks, John Curran
Under the Skin, Jonathan Glazer
The Unknown Known: The Life and Times of Donald Rumsfeld, Errol Morris
Via Castellana Bandiera, Emma Dante
The Zero Theorem, Terry Gilliam
 
 
OUT OF COMPETITION
 
Space Pirate Captain Harlock, Shinji Aramaki
Gravity, Alfonso Cuarón
Mobius, Ki-duk Kim
Locke, Steven Knight
Unforgiven, Sang-il Lee
Wolf Creek 2, Greg McLean
Home From Home – Chronicle of a Vision, Edgar Reitz
Gondola, Paul Rudish, Aaron Springer, Clay Morrow
The Canyons, Paul Schrader
Che strano chiamarsi Federico Scola racconta Fellini, Ettore Scola
Walesa. Man of Hope, Andrzej Wajda and Ewa Brodzka
 
 
OUT OF COMPETITION: DOCUMENTARIES
 
Summer 82 When Zappa Came to Sicily, Salvo Cuccia
Pine Ridge, Anna Eborn
The Armstrong Lie, Alex Gibney
Redemption, Miguel Gomes
Ukraine is not a Brothel, Kitty Green
Con il fiato sospeso, Costanza Quatriglio
Amazonia, Thierry Ragobert
La voce di Berlinguer, Mario Sesti, Teho Teardo
‘Til Madness Do Us Apart, Bing Wang
At Berkeley, Frederick Wiseman


 
Maria Braun

terça-feira, 23 de julho de 2013

TIFF '13

Foi hoje anunciada a lista dos filmes que serão apresentados no próximo Festival de Toronto. Como acontece normalmente, muitos daqueles que iremos ver na temporada de prémios que aí vem, culminando nos Óscares, estão sem dúvida nesta lista. O Festival abre com The Fifth Estate e apresentará August: Osage County, 12 Years a Slave, Mandela, Kill Your Darlings, Gravity, The Past, Philomena, The Great Beauty, assim como os novos filmes de Wajda, Tavernier e Ozon, entre outros. É, para mim, uma surpresa ver 12 Years listado como "Estreia Mundial", o que pode deixá-lo de fora de Veneza (apesar de Steve McQueen ter estado nos dois festivais com Shame).
Aqui fica a lista. O Festival decorre entre 5 e 15 de Setembro.
 
 
GALAS
"American Dreams in China" (Peter Ho-Sun Chan)
"The Art of the Steal" (Jonathan Sobol)
"August: Osage County" (John Wells)
"Cold Eyes" (Cho Ui-seok and Kim Byung-seo)
"The Fifth Estate" (Bill Condon)
"The Grand Seduction" (Don McKellar)
"Kill Your Darlings" (John Krokidas)
"Life of Crime" (Daniel Schechter)
"The Love Punch" (Joel Hopkins)
"The Lunchbox" (Ritesh Batra)
"Mandela: Long Walk to Freedom" (Justin Chadwick)
"Parkland" (Peter Landesman)
"The Railway Man" (Jonathan Teplitzky)
"The Right Kind of Wrong" (Jeremiah Chechik)
"Rush" (Ron Howard)
"Shuddh Desi Romance" (Maneesh Sharma)
"Supermensch" (Mike Myers)
 
 
SPECIAL PRESENTATIONS"12 Years a Slave" (Steve McQueen)
"All is By My Side" (John Ridley)
"Attila Marcel" (Sylvain Chomet)
"Bad Words" (Jason Bateman)
"Belle" (Amma Asante)
"Blue is the Warmest Color" (Abdellatif Kechice)
"Can a Song Save Your Life?" (John Carney)
"Cannibal" (Manual Martín Cuenca)
"Dallas Buyers Club" (Jean-Marc Vallée)
"Devil's Knot" (Atom Egoyan)
"The Disappearance of Eleanor Rigby: Him and Her" (Ned Benson)
"Dom Hemingway" (Richard Shepard)
"Don Jon" (Joseph Gordon-Levitt)
"The Double" (Richard Ayoade)
"Enough Said" (Nicole Holofcener)
"Exit Marrakech" (Caroline Link)
"Felony" (Matthew Saville)
"For Those Who Can Tell No Tales" (Jasmila Žbanić)
"Gloria" (Sebastián Lelio)
"Going Away" (Nicole Garcia)
"Gravity" (Alfonso Cuarón)
"The Great Beauty" (Paolo Sorrentino)
"Half of a Yellow Sun" (Biyi Bandele)
"Hateship Loveship" (Liza Johnson)
"Ida" (Pawel Pawlikowski)
"L'intrepido" (Gianni Amelio)
"The Invisible Woman" (Ralph Fiennes)
"Joe" (David Gordon Green)
"Labor Day" (Jason Reitman)
"Like Father, Like Son" (Hirokazu Kore-eda)
"Man of Tai Chi" (Keanu Reeves)
"MARY Queen of Scots" (Thomas Imbach)
"Night Moves" (Kelly Reichardt)
"Omar" (Hany Abu-Assad)
"One Chance" (David Frankel)
"Only Loves Left Alive" (Jim Jarmusch)
"The Past" (Asghar Farhadi)
"Philomena" (Stephen Frears)
"Pioneer" (Erik Skjoldbjærg)
"Prisoners" (Denis Villeneuve)
"Quai d'Orsay" (Bertrand Tavernier)
"REAL" (Kiyoshi Kurosawa)
"Starred Up" (David Mackenzie)
"Third Person" (Paul Haggis)
"Those Happy Years" (Daniele Luchetti)
"Tracks" (John Curran)
"Under the Skin" (Jonathan Glazer)
"Violetta" (Martin Provost)
"Visitors" (Godfrey Reggio)
"Walesa. Man of Hope." (Andrzej Wajda)
"We are the Best! (Vi är bäst!)" (Lukas Moodysson)
"Le Week-End" (Roger Michell)
"You Are Here" (Matthew Weiner)
"Young and Beautiful (Jeune & jolie)" (François Ozon)
 
Maria Braun

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Mais Trailers

Esta tem sido uma semana preenchida com a apresentação de novos trailers. Já que coloquei aqui o de 12 Years a Slave, acho que não posso ignorar estes dois. Isto porque os filmes correspondentes estão naquela lista que publiquei há uns meses (e que nunca chegou a ser terminada). Por isso, aqui ficam as primeiras imagens de The Fifth Estate e de Mandela: Long Walk to Freedom.





Maria Braun

quinta-feira, 18 de julho de 2013

12 Years a Slave

Esta semana foi apresentado o primeiro trailer de um dos filmes mais antecipados do ano. No entanto, o seu tom pode enganar. O objectivo é vender o filme ao público mais alargado, o que explica a música e o ângulo algo banal que dá à história. Confesso que se não tivesse já ouvido as opiniões dos que foram aos test screenings, ficaria algo desiludida. Lembrem-se: este é um filme de Steve McQueen, não de Spielberg. Segundo o que se diz, é brutal e não foge das realidades mais sombrias do esclavagismo. Fassbender é, também segundo quem já o viu, aterrador.
Aqui fica o trailer enquanto esperamos o alinhamento do Festival de Veneza, onde poderá ser apresentado. A data de estreia nos Estados Unidos foi antecipada para Outubro.
 



Fica também aqui o poster.

 

Maria Braun

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Dream River


No dia 17 de Setembro é editado um dos discos pelo qual mais tenho esperado. A press release da Drag City diz: "Recorded earlier this year at Cacophony, TX, (look it up!), Dream River features eight performances that are easily the most sensual and soulful of Callahan’s career, baby! " Não sei mais nada. Ainda assim, estou com uma expectativa tremenda.

K. Douglas


quinta-feira, 11 de julho de 2013

Mad Men 6 - A Thing of Beauty



I've looked at life from both sides now 
From win and lose and still somehow 
It's life's illusions I recall
I really don't know life at all
I've looked at life from both sides now 
From up and down, and still somehow 
It's life's illusions I recall
I really don't know life at all

Joni Mitchell, Both Sides Now

A sexta temporada de Mad Men foi talvez a ocasião em que vivi de forma mais intensa o acompanhamento de uma série de televisão. Isto deve-se a várias razões, entre as quais destaco o facto de esta ter sido das primeiras vezes em que segui uma série no momento em que está a ser emitida. Por outro lado, e mais importante do que o modo de acompanhamento, está o que a temporada oferece ao espectador. A início pode parecer dispersa, uma vez que a acção se dilata em várias frentes: Don, Peggy, Pete, Joan. Isto não significa que a série tenha uma falsa partida, pelo contrário. Por exemplo, a história de Betty na village, em busca da amiga de Sally, não deixa de dizer coisas sobre a sua vida, nomeadamente de como acha que poderia ter sido mais do que uma doméstica suburbana e ter construído a sua própria carreira. Também Joan não está bem com aquilo que tem. Fez um sacrifício grande, continua a ser tratada como uma secretária e Don, a uma certa altura, manda por água abaixo a possibilidade de ela recolher os frutos do seu sacrifício. Já Peggy parece estar bem no início da temporada. Completamente trabalhadora, competente, talentosa e insuportável, as coisas correm-lhe bem. O que não significa que não faça porcaria como trair a confiança de Stan na campanha da Heinz. E claro, Don. Mas Don fica para último. O que eu queria dizer há pouco é que a temporada fica mais coesa e excitante a partir do sexto episódio - For Immediate Release.

É neste episódio que se responde a uma das perguntas do final da quinta temporada. A primeira pergunta - se Don está sozinho - tem a resposta logo no episódio de estreia da temporada. Sim, está sozinho. O momento de felicidade e fidelidade com Megan acabou. Ficamos a saber que tem um caso com a vizinha de baixo, Sylvia. Mas a outra pergunta que se punha era: como vai ser a relação de Don e de Peggy? Como sempre, Mad Men não é previsível. Imaginava eu que se encontrariam num clima de competição e que cada um teria as suas vitórias e algum confronto. É isso que acontece na campanha da Heinz, da qual Peggy sabe de forma indevida. Claro que o encontro dos dois é tenso e o facto de Don ficar atrás da porta a escutar o que a sua antiga protegida está a dizer não deixa de mostrar de como Peggy o afecta. O que acontece, porém, é uma reviravolta. Em For Immediate Release, Peggy volta à Sterling Cooper, o que não a deixa muito satisfeita. O regresso de Peggy é cómico e amargo. Tal como a Maria notou, é conduzida novamente por Joan ao seu novo gabinete. E que gabinete é este? O gabinete que tem uma coluna a meio, que Pete tanto odiava. Este aspecto não deixa de fazer lembrar a fotocopiadora que Joan enfiou no gabinete de Peggy no início da segunda temporada.

Ou seja, a relação de Don e de Peggy estabelece-se no mesmo espaço, mas com novas variáveis. Nomeadamente: Ted. O novo patrão de Peggy é diferente de Don e Peggy sublinha isso constantemente. Peggy precisa de reconhecimento, Ted dá-lhe isso de modo imediato. Don não. Podemos lembrar-nos daquele que é para mim um dos episódios mais marcantes de toda a série - The Suitcase (quarta temporada) - em que Peggy grita com Don: "Mas tu nunca dizes obrigado!" "É para isso que serve o dinheiro!", responde ele. Já a cumplicidade entre Ted e Peggy é evidente, o que desagrada a Don e leva-o a procurar agitar isso, confrontando-a. e, em último caso, humilha-a ,e a Ted também, aquando da apresentação do anúncio que criaram inspirado em Rosemary's Baby. A verdade é que a vida de Peggy até certo ponto se joga na atenção destes dois homens. Mas, num momento magnífico, em que está entre o gabinete de um e de outro, olha para ambas as portas, que se fecham e percebe que nenhum deles estará lá para ela. Sozinha, acabará no gabinete de Don - "onde tudo acontece" - e onde começará a construir a sua vida. Será que a sétima temporada trará uma Peggy verdadeiramente independente (e quiçá mais insuportável para quem trabalha para ela)?

A relação Peggy-Joan é uma das minhas favoritas da série. E ambas têm um momento de verdade, em que se confrontam. As acusações são justas, especialmente as de Peggy. Vejamos, Joan sempre menorizou Peggy e não perdeu uma única oportunidade para a por no sítio que achava que era o dela. Já Peggy responde a Joan que ela nunca dormiu com Don e aquilo que conseguiu foi fruto do trabalho dela. Joan ressente-se porque sabe que, desde a campanha da Jaguar, ouvirá sempre este comentário. Ao mesmo tempo, Peggy mostra como apesar de tudo ouviu o que Joan lhe disse, chegando a dizer que nunca lhe tinha passado pela cabeça a situação em que ela diria: Joan, fizeste mal. O que também é interessante nestas duas é que elas jogam o que está instituído para conseguirem o que querem. Joan sabe que "isto não é a China, não há dinheiro na virgindade" e Peggy, a certas alturas, esforçou-se para ter a atitude de homem para conseguir singrar. Mas na situação concreta da Avon, é Joan que parece ter o golpe de asa de independência e não Peggy que acha que o negócio está perdido por Pete não estar presente. Neste episódio, o calibre de Pete mostra-se em todo o seu esplendor ao confrontar Joan, depois de ter descoberto que ela o tinha afastado do encontro.

Ninguém gosta de Pete Campbell. Não é para menos, ele é odioso. No final da quinta temporada, sovado, consegue aquilo que queria: um apartamento na city. E aí que o encontramos, sozinho, com uma amante ou outra. Mas Pete decidiu envolver-se com a vizinha e Trudy deixa as coisas bem claras, terminando com uma  ameaça : I will destroy you. Foi bom ver Trudy a tomar esta atitude e a personagem revelou-se bem mais complexa. Pete continua a suicidar-se a todo o momento. E mesmo quando tem toda a razão do mundo para confrontar Don, cai das escadas abaixo. É ultrapassado por Joan na Avon e tem que lidar com uma mãe demente que lhe diz a certa altura que ele sempre foi "unlovable". Mas há duas pessoas que gostam de Pete. A primeira é Peggy, que parece não lhe guardar ressentimento, apesar de ele a ter tratado bastante mal. A segunda é o mistério da temporada: Bob Benson. Claro que aquelas palavras e aquele toque de joelho são memoráveis. É certo que Pete parece aprender com os erros, mas a relação que poderá ter com Bob pode ter contornos nefastos para si. Até agora é Bob que está no controlo da situação. Quando Pete é convidado para experimentar o Chevy, no último episódio da temporada, o espectador exclama de imediato: mas tu não sabes conduzir! Os resultados não se fazem esperar.



Bob até então não tinha mostrado esta faceta. Até então era um tipo demasiado simpático, solícito, e espalhava bem-estar à sua volta. Tem o particular dom de controlar as situações e esse aspecto ficou muito claro com o poder que exerce sobre Pete. Este estava fora de si por causa do enfermeiro da mãe - Manolo - e Bob exige que ele se acalme e se sente. Coisas que Pete faz de imediato. O espectador não deixa de ficar surpreendido com Pete que teve sempre uma atitude de sobranceria para com os subalternos. Por outro lado, até que ponto Bob soube interpretar Pete para lhe dizer o que lhe disse e lhe tocar com o joelho? Foi um passo em falso no plano que tem para se construir a si mesmo? É certo que ele mente e tem alguém atrás de si - "Pete Campbell és un hijo de puta", grita a alguém ao telefone, quando aquele o procura  afastar. Estará Bob desgostoso com Pete e, ao mesmo tempo, receoso de que ele pode ameaçar a sua agenda? O próprio desaparecimento da mãe de Pete não deixa de ser suspeito.  E a sua relação com Joan e o desafio a Roger? E Roger deve ficar mesmo chateado porque sempre que o encontra em casa de Joan, Bob veste shorts ou um avental. Coisa que Don Draper nunca faria.

Outro grande momento da série foi na segunda temporada, quando Peggy lembra o que lhe aconteceu. No hospital, recebe a visita de Draper que lhe diz para ela seguir em frente e mais concretamente lhe diz qualquer coisa como isto: vais ficar chocada ao perceber que isto nunca aconteceu. Esta é uma das chaves para Don. Levou a vida toda a procurar outra coisa, a querer recomeçar, a querer ter paz. Gostei muito quando Sylvia lhe diz que espera que ele encontre paz. Don não mente apenas aos outros, mas mente também a si próprio, como se para curar uma dor, usasse uma outra dor mais suportável. Mas há coisas que nós não podemos anestesiar e fingir que nunca aconteceram. Por outro lado, consegue ser profundamente egoísta e isso nota-se quando ajuda o filho de Sylvia. As suas intenções não são as mais genuínas e Sally não deixa de ficar afectada com isso. Don é uma espécie de morto-vivo; não tem uma naturalidade consigo mesmo. Logo no início da temporada, o fotógrafo pede-lhe para ele posar como ele é realmente, coisa que o deixa desconcertado. O anúncio do Hawai (de que gostei muito), como a Maria escreveu, tem o sentido de Don despir as suas roupas e chegar a um lugar que é o seu e que passa por uma figura maternal. Toda a admiração que Ted tem por Don, como director criativo, é que este procura criar situações de bem-estar das pessoas consigo mesmas. Don é exímio a recriar pequenos-almoços perfeitos, a mãe que que se queima levemente na forma da tarte, mas que está feliz. O cheiro do bolo, a luz a entrar pelas vidraças da cozinha, a luta pela primeira fatia, etc. A mãe e a felicidade que ele nunca teve. É por isto que, como a Maria escreveu, a sua honestidade brutal (Don estava num ponto sem retorno) para com os homens da Hershey's foi um dos momentos mais emotivos de toda a série. Jon Hamm foi, uma vez mais, brilhante. Ou então, foi um bocado mais brilhante do que o costume.

Claro que a sua honestidade têm um preço e os "amigos", sócios, afastam-no (Joan, bitchy again). Mas Don começou aquele que parece ser o caminho de paz e o fecho da temporada tem um grande poder e beleza. Don, Dick, mostra aos filhos o sítio onde cresceu. Sally fica a saber alguma coisa do pai. O que vai acontecer na sétima temporada é uma incógnita para mim. Este é um dos toques de ouro de Mad Men, para além de todo o imenso talento com que é escrito e interpretado. Consegue ser assombroso (alguém se lembra de Draper sentado numa cadeira de dentista a pedir ao irmão morto que não o abandone, depois de ele lhe ter virado as costas?). É também por isto que acho que Mad Men é de uma beleza firme, segura, que me faz colocar esta série à frente de outras de que gosto tanto. Uma nota final: a escolha de Both Sides Now. Conheço a versão de Joni Mitchell já há alguns anos e sempre achei que era uma canção extraordinária. Mas há coisas que não se percebem bem aos vinte anos de idade. Talvez diga isto aos quarenta. Não sei. No entanto, é uma daquelas canções que não tem e não pode ter tempo.

K. Douglas






segunda-feira, 8 de julho de 2013

Os Dois Lados

But now old friends are acting strange
They shake their heads, they say I've changed
Well something's lost, but something's gained
In living every day

 
Foi esta a canção que encerrou o último episódio da sexta série de Mad Men, a versão de Judy Collins da famosa Both Sides Now, de Joni Mitchell. A parte da letra que cito acima é uma descrição perfeita da situação de Don Draper neste final. No momento em que a sua verdadeira persona começa a emergir, os seus sócios e amigos afastam-se (e afastam-no a ele). É o início da redenção mencionada no post anterior. Como escreve Joni Mitchell, perde-se algo mas também se ganha. Neste caso, o que se ganha pode ser bem mais valioso do que aquilo que se perdeu.
 
 



Maria Braun

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Quebrar o ciclo – Mad Men S6


Este post contém spoilers para a sexta temporada de Mad Men, ainda não exibida em Portugal. Não leiam se não querem saber o que vai acontecer.
 
A sexta temporada de Mad Men, se não particularmente subtil nas suas temáticas, teve um final surpreendentemente eficaz. Depois de tantos anos a seguir Don Draper, vê-lo quebrar frente aos homens da Hershey’s foi um dos momentos mais emocionais de toda a série. Mas já lá vamos. Algumas temáticas estiveram presentes durante os 13 episódios, alguns motivos foram-se repetindo. Alguns dos mais evidentes são:

1) Os duplos/doppelgängers
 
 
Este é um tema constante ao longo dos episódios, em vários arcos centrais da temporada. Os mais óbvios são Ted e Bob como duplos de Don, embora de formas diferentes. Bob é Don 2.0 (também já baptizado online como “Gay Don Draper”), mostrando-nos talvez como seria Don 15 anos antes. É uma espécie de repetição distorcida de uma história que conhecemos bem. Já Ted, apesar dos protestos de Peggy em contrário, é o seu gémeo. Contudo, ele procura redenção (sobretudo com a decisão final de ir para a Califórnia) e quer desesperadamente salvar a sua vida familiar e a sua integridade. Podemos dizer que é uma espécie de “gémeo bom” de Don.
Temos ainda Sylvia e Aimée (assim como a imagem da mãe no anúncio que Don procura em The Crash);
 
 
 
Ou Megan, que interpreta gémeas na sua novela (a morena e a loira, tal como Betty nos primeiros episódios). Até Sally cria um paralelo com Don no último episódio, com a falsa identidade e a bebida e, finalmente, com a punição que ambos sofrem.
 
2) A vida como um círculo infinito. O primeiro ponto é, no fundo, um reflexo deste: os acontecimentos que se repetem vezes sem conta, embora sempre de formas ligeiramente diferentes. Quando Robert Kennedy é assassinado, a mãe (demente) de Pete acorda o filho para lhe dizer que mataram Kennedy; Pete, acreditando que a mãe estava confusa e que se referia a JFK, diz-lhe “Isso aconteceu há anos”. Nesta linha, semelhante ao que Betty diz no seu reencontro com Don, está sintetizado um dos temas centrais da sexta série. Imagens que já vimos são-nos apresentadas de novo mas não exactamente da mesma forma. O episódio Man With a Plan é quase todo ele baseado nesta ideia: Joan leva Peggy ao seu novo escritório, como na primeira série; também Joan se encontra de novo na sala de espera de um hospital, como na terceira série, desta vez não com Don mas com o seu duplo Bob.

 
 
 
 
Esta repetição de acontecimentos e imagens aponta para algo maior: a repetição de comportamentos, ou como cometemos os mesmos erros vezes sem conta e estamos numa espécie de círculo perpétuo onde tudo está destinado a ser repetido. Peggy é um excelente exemplo, quer de moto próprio (as suas relações com os homens que marcam a sua vida) ou de forma involuntária (o regresso à sombra de Don). Também Don regressa aos seus velhos hábitos e aos erros que cometeu com Betty, parecendo estar a viver a segunda versão do primeiro casamento. No entanto, será Don, tal como Pete (e talvez Joan), uma das personagens que acabam por quebrar o ciclo.
Pete parece ser dos poucos que aprende com os próprios erros. A forma como lida com Bob, quando descobre a verdade sobre o seu passado, é sinal disso. Ele já viu aquela história antes, na pessoa de Don e, ao contrário do que aconteceu da primeira vez, não vai “espicaçar” o animal, por assim dizer, mas usá-lo a seu favor (resolução que dura pouco tempo). No fim, tal como Ted, deseja começar de novo, indo também para a Califórnia. Quanto a Joan, ainda não se sabe bem, mas a sua tomada de posição com a Avon parece indicar uma tentativa de mudança de rumo.
 
3) O Inferno
 
 
No fundo, este símbolo acaba por estar relacionado com o anterior. O primeiro episódio começa com Megan e Don no Havai, relaxando na praia. Don está a ler O Inferno de Dante (que, descobriremos mais tarde, pertence a Sylvia). E assim é introduzido todo o arco de Don Draper na sexta série. Don desce ao Inferno e, no fim, vira as costas ao demónio. Será o início da redenção?
 
4) A simbologia da morte como renascimento. Se houve uma constante nesta série foram as múltiplas referências a actos violentos e à morte. Não foram só referências históricas ao Vietname, ao aumento da criminalidade em Nova Iorque, à morte de Martin Luther King e Robert Kennedy, mas também actos de violência no ecrã – os repetidos ferimentos de Abe, Ginsberg a atingir Stan na mão, o sangue da ratazana no apartamento de Peggy, os sons das sirenes que se tornam cada vez mais audíveis ao longo dos episódios. Faz sentido num ano como 1968, um dos mais violentos da história recente dos Estados Unidos. Quem segue o Mad Style de Tom & Lorenzo, com a análise da série a partir do guarda-roupa, sabe que isso se reflectiu na palete de cores do vestuário, com as mulheres de negro, uma cor que apareceu e reapareceu constantemente na roupa feminina. No entanto, ao contrário das teorias alucinantes que foram surgindo online (como “Megan é Sharon Tate”, por exemplo), as referências à morte não eram indicação do desaparecimento literal de uma das personagens centrais, como aconteceu na série 5, com o suicídio de Lane. A morte é um símbolo de renascimento. É o potencial início da redenção de Dick Whitman que, pela primeira vez, admite aquilo que é, contando a sua verdadeira história perante a Hershey’s e, posteriormente, mostrando a casa onde cresceu aos seus filhos. Dick afasta-se de Don, deixa para trás a sua roupagem – como no anúncio ao hotel havaiano que apresenta no primeiro episódio – e assume a sua verdadeira identidade. Veremos, na próxima série, se este é o início do fim de Don Draper (a morte anunciada seria assim uma morte simbólica) e o regresso de Dick Whitman ao mundo dos vivos.
 
Posso dizer sem hesitação que a sexta temporada foi uma das minhas preferidas desta série. Começou de forma lenta e hesitante, mas toda a segunda metade foi magnífica. Justificou todos aqueles primeiros episódios que pareciam repetitivos, com o regresso a temas já repisados, mostrando que tudo isso era propositado e tinha um objectivo. Aliás, esta era a história que estava a ser contada – o ciclo infernal que Don quebra. Colocou Don numa situação interessante e revitalizou a sua história para a última série em 2014.
Quanto às outras personagens, Bob Benson foi uma das mais interessantes adições dos últimos tempos (espero que regresse para a sétima série) e Pete teve um dos arcos mais entusiasmantes do ano. Confesso, no entanto, que senti a falta de Joan e de Ginsberg. Espero que Matthew Weiner lhes dê mais material para o ano.
2014 será o último ano de vida de Mad Men. O que significa que só faltam 13 episódios para o fim. Espero, nos próximos tempos, voltar a esta discussão, mas queria muito que o K participasse nela, já que também viu a sexta série. Fazes isso, K?


Maria Braun