Sally da minha vida! Já começava a pensar que eu estava para aqui e tu longe, num templo a orar a Confúncio ou, então, pior do que andarmos um para outro irresistivelmente, arrebetadoramente, fulgurosamente, pensei que o Diogo Infante te tivesse encontrado (andava à tua procura no verão passado, bruscamente, sem saber por onde andavas, nem o que fazias). Subscrevo tudo o que escreveste, com excepção dos juízos sobre o magnífico cartaz do PS, que está posto em cima. É que não está rodeado de gente, Sally. Está cercado de mulheres. Isso merece, à primeira vista, algum respeito - Ah! Ganda Sócrates! Ali está ele, sem casaco, camisa impecável, charmoso, no meio do mulherio mais ou menos novo. Estás a ver a diferença de estilo? O Portas poria as velhas com pêlos nos queixo ao lado dele e Louçã, se fosse mais inteligente, poria as gajas giras e sexy que o bloco, não sei como, consegue arranjar. Mas não, as meninas de Sócrates têm um ar de trabalhadoras, de possíveis funcionárias públicas, na casa dos trinta e muitos anos, com excepção da rapariga que mostra todo o rosto. Em certa medida até é um cartaz bem português, tanto mais se pensarmos nele numa outra perspectiva. Substituam-se as possíveis funcionárias públicas, ou as mulheres da classe média urbana, por trabalhadoras rurais e o efeito é imediato: quando o senhor engenheiro chega para saber como vai o trabalho, todas acorrem para ele (o capataz permite, porque assim lhe foi dito). O Senhor engenheiro congratula-se pelo trabalho feito e sublinha que o sucesso da herdade não seria nenhum sem a força delas. Nós é que agradecemos, senhor engenheiro. Tão bom que o senhor é para nós. Ora essa, podem contar sempre comigo. Mãos à obra! - Exclama o senhor engenheiro, despedindo-se, e entra para o jipe, queixando-se que tem terra nos sapatos. Mas mais do que isso, a cumplicidade entre o mulherio e o senhor engenheiro tranforma-se no que parece ser uma possível tensão erótica. O senhor engenheiro torna-se assim num sex-symbol, acalentando desejos e vontades. Não é o melhor cartaz de sempre - esse pertence a Mário Soares -, mas será o segundo melhor na história da democracia portuguesa, ainda que por razões diferentes das do primeiro.
K. Douglas