O meu primeiro pensamento quando li este fait-divers foi completamente ao lado. Pensei no chef como uma personagem saída de um livro de Calvino. Imaginei-o um leitor voraz, mas com um handicap: não conseguia lidar com o fim. Então, passava de livro para livro sem nunca acabar nenhum. Ao invés do não-leitor de Se numa noite de Inverno um viajante, seria um meio-leitor.
É embaraçoso, mas vocês têm de me dar um desconto. Estão 34º lá fora. Só passados alguns minutos perdida neste raciocínio, concluí que o cerne da questão era mesmo a baixa literacia do chef, curiosamente, autor de um número infindável de livros de culinária. Mas o que interessa? Nem que nunca tivesse escrito uma linha, além da lista de compras para o restaurante! O homem sabe fazer um risotto perfeito (ou, pelo menos, assim parece, que eu nunca lhe senti o gosto). Eu não.
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Sally Bowles