quinta-feira, 23 de maio de 2013

Trouble Will Find Me


The National, Trouble Will Find Me


Forço-me a escrever sobre Trouble Will Find Me, o novo disco dos National. Foi um disco pelo qual esperei ansiosamente. Ouvi muito o High Violet, um disco pelo qual me apaixonei à primeira vista. Aquelas canções (Terrible Love, Sorrow, Anyone's Ghost, Little Faith, Bloodbuzz Ohio, Conversation 16, Vanderlyle Crybaby Geeks) foram direitas ao meu coração e ocuparam por inteiro as aurículas, os ventrículos e fizeram a grande circulação. Posso dizer que criei uma relação de intimidade com elas – eram minhas e ocupavam-me por inteiro – e reforcei o meu gosto pelos discos anteriores, onde descobri grandes canções, quando tinha passado por elas como cão em vinha vindimada (já disse que Boxer é um disco perfeito de uma ponta à outra? Que Alligator tem canções perfeitas como The Geese of Beverly Road, Lit Up, A Friend of Mine, para não falar de Mr. November, Abel e de All the Wine?). Assim, perante esta descrição, talvez se possa imaginar a minha expectativa.

Essa mesma expectativa ficou longe de ser preenchida com as primeiras audições de Trouble Will Find Me. Já ouvira antes Demons e tinha-me sabido a pouco, para alguma tristeza minha. E agora, ao ouvir o disco, não sentia nada daquela sensação de entrega a um disco como escrevi em cima. Mas os National têm destas coisas. Quando ouvi o Alligator pelas primeiras vezes, disse a amigos: “Não percebo o que é que vocês vêem nestes gajos. São genéricos e aborrecidos.” Posso dizer que engoli cada uma destas palavras com grande satisfação. Não, não são genéricos e aborrecidos. Escrevem versos como: “Hey, love, we’ll get away with it/ We’ll run like we’re awesome, totally genius/ Hey, love, we’ll get away with it / We’ll run like we’re awesome / We won’t be disappointed / We’ll fight like girls for our place at the table / Our room on the floor “ (The Geese of Beverly Road) ou: "Tip-toe through our shiny city / With our diamond slippers on / Do our gay ballet on ice / Blue birds on our shoulders” (Fake Empire) ou ainda: “I'm a confident liar / Had my head in the oven so you'd know where I'll be /I'll try to be more romantic / I want to believe in everything you believe / I was less than amazing /Do not know what all the troubles are for / Fall asleep in your branches /You're the only thing I ever want anymore” (esplendorosa Conversation 16). E compõem canções rock como Mistaken for Strangers, Secret Meeting, Mr. November, Terrible Love, Bloodbuzz Ohio ou litanias acabrunhadas como Green Gloves ou a única Slow Show - "I wanna hurry home to you /Put on a slow dumb show for you / And crack you up / So you can put a blue ribbon on my brain / God I’m very, very frightened /I’ll overdo it".

As canções de Trouble Will Find Me não são diferentes das anteriores. O novo disco é claramente um disco de National. Talvez o disco mais diferente seja mesmo High Violet. Demons é claramente descendente deste. Aquela orquestra abafada, como a pulsar no interior da nossa pele, faz lembrar Sorrow, ainda que esta, na minha opinião, tenha um efeito mais eficaz. Sea of Love também está na continuidade de algumas canções que apontei em cima, como Abel. É uma boa canção, com as guitarras a meterem-se naturalmente no nosso corpo para se suspenderem por algum tempo no nosso interior com esta verdade: "If  I stay here, trouble will find me / If I stay here, I'll never leave / If I stay here, trouble will find me / I believe". Graceless também é uma boa canção, que poderia fazer parte de um disco como Boxer, assim como Don't Swallow the Cap. A vida de Berninger parece estar sempre em cima da mesa, sem saber o que fazer com ela. O que me parece destes registos é que são mais contidos e polidos. A própria banda fala de um equilíbrio e paz na composição do disco. Mas eu encolho os ombros a isso. Lamento, rapazes. 

A canção que mais me conquistou do novo disco responde pelo nome de Pink Rabbits. É uma balada romântica. Dito assim, não soa bem. Mas o piano e a bateria marcam o passo, com a voz embargada de Berninger a embalar as sensações. É completamente imediata - cinemática - e tem estes versos maravilhosos: 

I was solid gold I was in the fight
I was coming back from what seemed like a ruin
I couldn't see you coming so far
I just turn around and there you are

I'm so surprised you want to dance with me now
I was just getting used to living life without you around
I'm so surprised you want to dance with me now
You always said I held you way too high off the ground

You didn't see me I was falling apart
I was a white girl in a crowd of white girls in the park
You didn't see me I was falling apart
I was a television version of a person with a broken heart


Há uma série de imagens recorrentes nas canções dos National. Por exemplo, os bolos são uma presença regular, assim como os pássaros e, claro, as raparigas. Isto pode ser assunto para um outro post. O que interessa agora é Trouble Will Find Me. E o que posso dizer é que é um bom disco e que o vou ouvir muitas vezes. E acredito que estas canções têm o poder de conquistar o ouvinte - não por hábito, mas por mérito próprio; por terem força e por conseguirem mostrar-se de outras maneiras ( I Should Live in Salt, a canção que abre o disco é um bom exemplo do quero dizer), levando-nos a abraçar as colunas durante horas, roubando uma imagem da minha adorada Apartment Story.

K. Douglas