The National, Trouble Will Find Me |
Forço-me a escrever
sobre Trouble Will Find Me, o novo disco dos National. Foi um disco
pelo qual esperei ansiosamente. Ouvi muito o High Violet, um disco
pelo qual me apaixonei à primeira vista. Aquelas canções (Terrible
Love, Sorrow, Anyone's Ghost, Little Faith, Bloodbuzz Ohio,
Conversation 16, Vanderlyle Crybaby Geeks) foram direitas ao meu
coração e ocuparam por inteiro as aurículas, os ventrículos e
fizeram a grande circulação. Posso dizer que criei uma relação de
intimidade com elas – eram minhas e ocupavam-me por inteiro – e
reforcei o meu gosto pelos discos anteriores, onde descobri grandes
canções, quando tinha passado por elas como cão em vinha vindimada
(já disse que Boxer é um disco perfeito de uma ponta à outra? Que
Alligator tem canções perfeitas como The Geese of Beverly Road, Lit
Up, A Friend of Mine, para não falar de Mr. November, Abel e de All
the Wine?). Assim, perante esta descrição, talvez se possa imaginar
a minha expectativa.
Essa mesma expectativa
ficou longe de ser preenchida com as primeiras audições de Trouble
Will Find Me. Já ouvira antes Demons e tinha-me sabido a pouco, para
alguma tristeza minha. E agora, ao ouvir o disco, não sentia nada
daquela sensação de entrega a um disco como escrevi em cima. Mas os
National têm destas coisas. Quando ouvi o Alligator pelas primeiras
vezes, disse a amigos: “Não percebo o que é que vocês vêem
nestes gajos. São genéricos e aborrecidos.” Posso dizer que
engoli cada uma destas palavras com grande satisfação. Não, não
são genéricos e aborrecidos. Escrevem versos como: “Hey, love,
we’ll get away with it/ We’ll run like we’re awesome, totally
genius/ Hey, love, we’ll get away with it / We’ll run like we’re
awesome / We won’t be disappointed / We’ll fight like girls for
our place at the table / Our room on the floor “ (The Geese of Beverly Road) ou: "Tip-toe through our shiny city / With our diamond
slippers on / Do our gay ballet on ice / Blue birds on our shoulders”
(Fake Empire) ou ainda: “I'm a confident liar / Had my head in the
oven so you'd know where I'll be /I'll try to be more romantic / I
want to believe in everything you believe / I was less than amazing
/Do not know what all the troubles are for / Fall asleep in your
branches /You're the only thing I ever want anymore” (esplendorosa
Conversation 16). E compõem canções rock como Mistaken for
Strangers, Secret Meeting, Mr. November, Terrible Love, Bloodbuzz
Ohio ou litanias acabrunhadas como Green Gloves ou a única Slow Show
- "I wanna hurry home to you /Put on a slow dumb show for you / And
crack you up / So you can put a blue ribbon on my brain / God I’m
very, very frightened /I’ll overdo it".
As canções de Trouble
Will Find Me não são diferentes das anteriores. O novo disco é
claramente um disco de National. Talvez o disco mais diferente seja
mesmo High Violet. Demons é claramente descendente deste. Aquela
orquestra abafada, como a pulsar no interior da nossa pele, faz
lembrar Sorrow, ainda que esta, na minha opinião, tenha um efeito mais eficaz. Sea of Love também está na continuidade de algumas canções que apontei em cima, como Abel. É uma boa canção, com as guitarras a meterem-se naturalmente no nosso corpo para se suspenderem por algum tempo no nosso interior com esta verdade: "If I stay here, trouble will find me / If I stay here, I'll never leave / If I stay here, trouble will find me / I believe". Graceless também é uma boa canção, que poderia fazer parte de um disco como Boxer, assim como Don't Swallow the Cap. A vida de Berninger parece estar sempre em cima da mesa, sem saber o que fazer com ela. O que me parece destes registos é que são mais contidos e polidos. A própria banda fala de um equilíbrio e paz na composição do disco. Mas eu encolho os ombros a isso. Lamento, rapazes.
A canção que mais me conquistou do novo disco responde pelo nome de Pink Rabbits. É uma balada romântica. Dito assim, não soa bem. Mas o piano e a bateria marcam o passo, com a voz embargada de Berninger a embalar as sensações. É completamente imediata - cinemática - e tem estes versos maravilhosos:
I was solid gold I was in the fight
I was coming back from what seemed like a ruin
I couldn't see you coming so far
I just turn around and there you are
I'm so surprised you want to dance with me now
I was just getting used to living life without you around
I'm so surprised you want to dance with me now
You always said I held you way too high off the ground
You didn't see me I was falling apart
I was a white girl in a crowd of white girls in the park
You didn't see me I was falling apart
I was a television version of a person with a broken heart
Há uma série de imagens recorrentes nas canções dos National. Por exemplo, os bolos são uma presença regular, assim como os pássaros e, claro, as raparigas. Isto pode ser assunto para um outro post. O que interessa agora é Trouble Will Find Me. E o que posso dizer é que é um bom disco e que o vou ouvir muitas vezes. E acredito que estas canções têm o poder de conquistar o ouvinte - não por hábito, mas por mérito próprio; por terem força e por conseguirem mostrar-se de outras maneiras ( I Should Live in Salt, a canção que abre o disco é um bom exemplo do quero dizer), levando-nos a abraçar as colunas durante horas, roubando uma imagem da minha adorada Apartment Story.
K. Douglas