Quando,
no início do ano, vi a lista de filmes previstos para 2012, um aspecto saltava
à vista. Este seria outro ano forte em blockbusters, após o ano do super-herói
em 2011 (com X-Men, Thor, Capitão América, Green Lantern). Entre The Hunger Games,
Prometheus, The Avengers, The Dark Knight Rises, The Amazing Spider-Man e,
daqui a uns meses, The Hobbit, este género é de novo dominante. Estão, em 2012,
a bater-se recordes de bilheteira num período de crise económica, tanto em 3D
(The Avengers) como em 2D (TDKR). Não sendo fã de “popcorn movies”, isto
torna-se uma desilusão a nível pessoal (por aquilo que parece indicar para os
próximos anos) e, simultaneamente, algo de positivo, por dar lucros aos
estúdios – lucros que poderão ajudar a financiar outros projectos mais
interessantes (sou optimista, eu sei).
Dito
isto, confesso que fui ver dois dos blockbusters deste ano, Prometheus e The
Dark Knight Rises, e que planeio ver The Hobbit em Dezembro. Os outros têm-me
passado ao lado. Prometheus foi uma desilusão porque foi um filme muito
antecipado. Parecia um projecto interessante e como fã de Blade Runner (de
Alien nem tanto, para ser sincera), o regresso de Ridley Scott ao género,
sobretudo após uma série de filmes medíocres, não podia deixar de ser motivo de
interesse. Quando saiu o vídeo de apresentação de David 8, em Abril, as
expectativas aumentaram. Fassbender parecia canalizar Peter O’Toole em Lawrence
of Arabia (o que foi posteriormente explicado no filme) de forma bem-sucedida e
encontravam-se ecos de AI, 2001 e do próprio Blade Runner. Mas o filme, apesar
de não ser mau e de ser talvez o mais visualmente extraordinário desde há
muito, não cumpriu as expectativas, com personagens descartáveis e mal
delineadas, ao mesmo tempo previsível e confuso (e, por vezes,
inintencionalmente hilariante). Tem sequências muito bem conseguidas – os minutos
iniciais com David sozinho na nave e, posteriormente, quando David projecta o
mapa com o caminho para a Terra são fantásticas. E a “cirurgia” quase vale o
preço do bilhete. No entanto, Prometheus mais parece uma paragem num percurso
muito maior do que um filme em si mesmo (Rapace e Fassbender estão contratados
para a sequela). Foi, sobretudo, vítima do seu hype. David é o personagem mais
interessante do filme e aquele que parece interessar mais a Scott. Este filme
seria talvez mais conseguido se Scott tivesse optado por retomar o universo de
Blade Runner, com Fassbender no centro, do que por fazer uma prequela algo
formulaica de Alien.
The
Dark Knight Rises foi uma experiência mais positiva, por estranho que pareça.
Digo que é estranho porque já expressei aqui, há uns anos, os meus sentimentos
em relação ao Batman de Christopher Nolan. Sinto-me contracorrente, quando leio
as críticas fantásticas que esses filmes têm recebido e fico a perguntar-me o
que é que me estará a passar ao lado. Talvez por isso, o filme que tem causado
mais divisões (e desilusões) entre os fãs da série tenha sido o mais
divertido, na minha opinião. O meu problema com Nolan sempre foi o resultado da
minha incapacidade em levar adaptações de comic books a sério. O “realismo” deste
realizador e a sua falta de sentido de humor e ironia foram sempre um obstáculo
para mim. Como é que uma história como a de Batman pode ser “realista”? É o
mesmo problema que tenho com Inception. Gostei imenso de Inception e é, com
Memento, o meu filme preferido de Nolan. No entanto, o aspecto que sempre me
desilude (e eu já o revi várias vezes) é o mesmo de sempre. Por
muito que goste do filme, Nolan é demasiado literal e o seu auto-proclamado
“realismo” acaba por limitá-lo ao ponto de, por vezes, me perguntar se não será
falta de imaginação. Num filme sobre sonhos, o onírico está estranhamente
ausente (eu sei que isso é uma escolha deliberada do realizador). Quando vejo o
filme não consigo evitar uma pergunta constante: o que faria, por exemplo,
David Lynch com este material? No fundo, acaba por ser mais uma questão de
gosto pessoal, do que uma falha de Nolan enquanto realizador, mas é algo que
afecta necessariamente a forma como vejo os seus filmes.
Isto
tudo para dizer algo muito simples: gostei (não adorei, mas achei que não era
mau para o que era) de TDKR exactamente pela razão que desiludiu alguns fãs.
Porque de todos os seus Batman é o que retém mais o espírito do comic book. É o
filme mais banda-desenhada desta trilogia. Ir para além do realismo, para acontecimentos
mais extraordinários e caricaturais, não o afectou negativamente. O meu
problema com este filme em particular deve-se ao subtexto político que nem me
parece particularmente subtil. Já havia ecos disso em The Dark Knight
(lembro-me de dizer isso exactamente neste blog), mas agora torna-se mais
central na história. TDKR é um filme politicamente conservador, aparentemente com um
sentimento anti-Occupy. A isto junta-se a natureza da história, o herói central
como um “vigilante”, de quem Gotham precisa para manter o equilíbrio da cidade,
perante uma polícia (e um aparelho estatal) corrupta. Bruce Wayne é o 1%, o
multimilionário que defende os 99% do pequeno e grande crime. Fantasia
conservadora, sem dúvida, mas que se torna mais ofensiva (para quem não é de
direita) nesta particular conjuntura.
A
boa notícia é que com o fim do Verão começam a estrear os filmes da nova
temporada. E esta promete, com Django Unchained de Tarantino, The Master de PT
Anderson, Lincoln de Spielberg ou Amour de Haneke. Veneza e Toronto vão marcar
o início da estação agora em Setembro. Mas, como muitos destes blockbusters têm
sequelas previstas para os próximos anos, esperam-nos muitos mais Verões como
este, talvez até com vários novos recordes de bilheteira como se viu em 2012.
Maria Braun