Todd Haynes. Quem já leu outras entradas deste blog sabe como eu gosto dos seus filmes. Tenho, por isso, que assinalar o lançamento de I’m Not There em DVD. Depois de cinco anos de espera por um filme de Haynes e de outros tantos de muita expectativa em relação a I’m Not There, o desejo de ver e gostar deste filme era muito forte. Haynes produziu mais um dos seus puzzles, um dos seus filmes que, não sendo biopics, o são. Porque este filme, mesmo fugindo a todos os clichés das biografias musicais como Ray ou Walk the Line, não é, por isso, menos biografia. Escondido por detrás dos jogos de Haynes está o trajecto pessoal de um músico – as suas influências, as suas tomadas de posição artísticas, as crises de identidade, os problemas pessoais e familiares – como em qualquer outro biopic. É fácil descobrir pedaços de Dylan por detrás de cada uma daquelas facetas – no entanto, o que marca a diferença em relação a outros biopics é a necessidade de já se conhecer as histórias em redor do biografado para se conseguir compreender uma parte importante do filme.
Haynes mantém essa sua complexidade de referências que fez dele um dos nomes mais interessantes de um cinema pós-moderno americano, com a bagagem de citações pop, a construção de algo novo a partir de retalhos do passado. I’m Not There é um típico Haynes e, sobretudo o segmento sobre Jack Rollins, faz-nos recordar Velvet Goldmine, numa certa continuidade estilística. Haynes é um mestre na manipulação da imagem cinematográfica, é de uma inventividade visual única, criando imagens de grande beleza. Só que, aqui, por vezes, Haynes perde-se nessa imagem, sem conseguir que o seu filme seja aquela lufada de ar fresco que foram os seus esforços anteriores. Os segmentos estão desnivelados, nem todos são conseguidos. Jack Rollins não resulta particularmente bem (apesar do notável esforço de Bale) e cria essa sensação de déjà vu em relação à obra anterior de Haynes; Billy the Kid é um alien no meio de tudo isto – e uma incógnita para quem não conheça as Basement Tapes de Dylan nem Pat Garrett & Billy The Kid de Peckinpah – e Heath Ledger consegue destoar completamente do resto do filme. No entanto, pode-se argumentar que este segmento nos remete para um Dylan privado, que nos é desconhecido porque é o Dylan que se mantém longe dos olhos do público e que, portanto, a estranheza e o distanciamento que causa é uma consequência natural e uma prova de que o filme está a resultar. Para além do mais, é impossível não gostar de Ledger e Charlotte Gainsbourg.
Haynes mantém essa sua complexidade de referências que fez dele um dos nomes mais interessantes de um cinema pós-moderno americano, com a bagagem de citações pop, a construção de algo novo a partir de retalhos do passado. I’m Not There é um típico Haynes e, sobretudo o segmento sobre Jack Rollins, faz-nos recordar Velvet Goldmine, numa certa continuidade estilística. Haynes é um mestre na manipulação da imagem cinematográfica, é de uma inventividade visual única, criando imagens de grande beleza. Só que, aqui, por vezes, Haynes perde-se nessa imagem, sem conseguir que o seu filme seja aquela lufada de ar fresco que foram os seus esforços anteriores. Os segmentos estão desnivelados, nem todos são conseguidos. Jack Rollins não resulta particularmente bem (apesar do notável esforço de Bale) e cria essa sensação de déjà vu em relação à obra anterior de Haynes; Billy the Kid é um alien no meio de tudo isto – e uma incógnita para quem não conheça as Basement Tapes de Dylan nem Pat Garrett & Billy The Kid de Peckinpah – e Heath Ledger consegue destoar completamente do resto do filme. No entanto, pode-se argumentar que este segmento nos remete para um Dylan privado, que nos é desconhecido porque é o Dylan que se mantém longe dos olhos do público e que, portanto, a estranheza e o distanciamento que causa é uma consequência natural e uma prova de que o filme está a resultar. Para além do mais, é impossível não gostar de Ledger e Charlotte Gainsbourg.
Com efeito, uma das mais-valias do filme é a qualidade das interpretações. E são elas que ancoram dois dos meus segmentos preferidos: o de Jude Quinn e o de Woody Guthrie. O primeiro, visualmente, é puro cinema europeu dos anos 60 – sobretudo Fellini com pitadas de Antonioni – e é onde se nota a preferência de Haynes pelo Dylan eléctrico, considerando-o o mais inovador e musicalmente relevante de todos. Apesar de, no meu caso pessoal, ter chegado a Dylan através da sua fase folk e ainda hoje nutrir uma particular preferência pelos primeiros discos, penso que este segmento é um dos mais fortes do filme. A parte Guthrie beneficia sobretudo de uma excelente interpretação, de grande maturidade, para além de captar com grande perfeição visual e, sobretudo, cromática, aquele mundo dos blues, o sul da América, das plantações, dos conflitos raciais.
Nota positiva para este filme que, como sempre, não desaponta enquanto imagem, mas que demonstra algumas fragilidades narrativas e que nem sempre é bem sucedido na integração dos vários segmentos, eles próprios de sucesso variável. No entanto, espero que o intervalo entre este e o próximo filme de Haynes seja bem mais curto, porque acho que não conseguirei aguentar outros cinco anos sem um dos seus filmes.
Nota positiva para este filme que, como sempre, não desaponta enquanto imagem, mas que demonstra algumas fragilidades narrativas e que nem sempre é bem sucedido na integração dos vários segmentos, eles próprios de sucesso variável. No entanto, espero que o intervalo entre este e o próximo filme de Haynes seja bem mais curto, porque acho que não conseguirei aguentar outros cinco anos sem um dos seus filmes.
Maria Braun