Organizar a vida é uma grande carga de trabalhos. Como pode conciliar a voz insuportável do primeiro-ministro (estamos num nível estonteante) e uma possível intuição de vazio, quase a roçar o dito de Sileno, é um problema seu. Bem, sempre pode levar o Persona muito a sério e enclausurar-se a si próprio. É melhor não – olhe a mensalidade ao banco. Lamento se as notícias do canal quatro não dizem nada sobre a sua vida ou o deixam desarmado sem saber como afrontar as coisas. Por mais que possa custar, Sócrates faz parte de si (não faça essa cara, pense um pouco, não precisa de estudar fenomenologia). E logo a quebra nos índices de confiança de consumo, os ordenados, a inflação, numa palavra: a necessidade económica que, dizem os entendidos, nos cega. Ora, um pão é só um pão. E o sistema é tão eficaz que cria condições para nós consumirmos confortavelmente. Use o seu cartão de descontos no supermercado. É bom, não é? Pois. Se não, adira ao cartão de crédito citibank: não paga nunca a anuidade, não tem consumo obrigatório mínimo, a taxa de juro é de 1.81 % sobre o capital em dívida e ainda ganha uma noite para duas pessoas num dos hotéis Vila Galé ou uma máquina de café. Continue a respirar sem se dar conta e se, por acaso, estiver a chegar aos trinta afaste o possível pensamento de que já viu muito, de que a infância é já um amontoado de sentidos ténues. Se lhe disseram que tinha que estudar muito para ter uma vida boa (entenda-se dinheiro, poder de compra, sofás) e isso é precisamente o que não tem, então, se calhar, deve tomar uma decisão. Não há nenhum segredo: em primeiro lugar mande Sileno à fava e para o ano reduza o poder a Sócrates (se não for de esquerda, talvez a alternativa seja hmmm – voto em branco). Depois ocupe-se consigo, se souber o que é que quer.
K. Douglas