Já é tarde para este breve comentário, mas, verdade seja dita, a cerimónia de entrega dos Óscares é aborrecida. Vale a pena ver como os amores impossíveis da existência estão vestidas e pouco mais. Não foi um verdadeiro espectáculo: não há surpresas, arrebatamento. Os discursos dos actores são os mesmos clichés todos os anos - os filmes fazem-nos sonhar e afins... E o Óscar para melhor actor ou actriz vai sempre para o desempenho que requer uma transfiguração, é certo. Apenas dois casos, e de actores de quem gosto. Quando Nicole Kidman ganhou o Óscar pela sua interpretação nas Horas, cometeu-se uma injustiça. Quem devia ter ganho era Julianne Moore pelo seu desempenho em Longe do Paraíso, que raiava a perfeição. Bem sou suspeito: adoro o filme e há muitas cenas em que se pode sublinhar afincadamente a beleza e a perfeição de Moore. Por exemplo, quando se despede de Dennis Haysbert à porta do cinema e lhe diz: "You are so beautiful."É certo que gosto de Kidman no papel de Woolf e que há também momentos marcantes. Contudo, se se fala de graça, então deve-se apontar o plano em que Moore e Haysbert estão no bosque e esta lhe pergunta se aquilo é um caminho. Ele responde-lhe que sim e ela diz-lhe qualquer coisa como "então vamos bisbilhotar." E apesar (também) do excelente desempenho de Hoffman em Capote - uma cena brilhante é aquela em que Capote chega à apresentação do livro e é fotografado nas escadas do edifício. É a pura soberba da fama que aí é capturada - o Óscar devia ter ido - escândalo! - para Ledger. Uma das cenas mais geniais de Brokeback Moutain é lá para o final do filme, em que Ledger está repostado numa cadeira a fumar. A sua respiração é é fumo e não ar, como se tivesse perdido a naturalidade da vida. É quase como uma pequena percepção do monte de destroços que é a vida daquele homem. Acho que este comentário pode gerar alguma controvérsia. Moral da história: faça um biopic e pode contar com um Óscar - é quase certo. Por fim, para quem tem que ver a cerimónia pela TVI (no cabo deve haver outras possibilidades), está sujeito aos comentadores de serviço, que se atropelam constantemente na leitura das fichas técnicas dos filmes e dão uns bitaites sobre o que se vai passando. Solução? Ver no dia a seguir. Não há comentários, não há intervalos e a coisa fica despachada.
K. Douglas