terça-feira, 12 de novembro de 2013

"There is nothing behind me and I'm already a has-been"


Nos últimos tempos, tenho ido cada vez mais buscar à minha colecção alguns discos que já não ouvia há algum tempo. Já falei disso aqui antes. São os sinais da idade, a adrenalina da descoberta de algo novo substituída pelo conforto da nostalgia. Esta é uma nostalgia de tempos não vividos, saudades não só da música que fez a minha adolescência, mas também da de outras juventudes que não a minha. Isto não é algo novo; se perguntassem ao meu eu de 15 anos quais as suas bandas preferidas, a resposta imediata seria The Beatles e The Smiths, apesar de ter nascido nos anos 80. Hoje a minha resposta seria mais ou menos igual (por falar nisso, o que achaste da autobiografia de Morrissey, K?).
Mas não é destes dois grupos que venho aqui falar. Nunca parei de os ouvir ao longo dos anos. Venho falar dos Buzzcocks e de duas gravações que voltaram a estar em rotação contínua no meu mp3, a compilação Singles Going Steady (1979) e o EP Spiral Scratch (1977). Estes dois discos representam duas fases distintas da banda, com Singles representando o alinhamento clássico, que nos deu canções como Ever Fallen in Love, e Spiral Scratch o alinhamento original, ainda com Howard Devoto.
A banda criada por Devoto e Pete Shelley quando estudantes em Bolton será sempre uma das minhas preferidas do punk inglês dos 70s. Spiral Scratch foi a única gravação de Devoto com a banda que criou (muito posteriormente recomeçou a colaborar com Shelley e em 2012 juntou-se aos Buzzcocks em concerto). Este EP é historicamente importante por ter sido a primeira auto-edição feita por uma banda, sem um contrato com uma editora discográfica. É a ideia do "do it yourself" que caracterizava o punk posta em prática, abrindo o precedente e cimentando a ideia que qualquer um pode produzir a sua própria música.
Se tivermos em conta o trabalho posterior de Devoto com a sua segunda banda, os Magazine, assim como o trabalho de Shelley com os Buzzcocks, torna-se óbvio que os dois tinham sensibilidades diferentes e que os seus percursos iriam necessariamente divergir a determinado ponto. Existe aquele lugar-comum sobre Devoto o intelectual e Shelley o trovador, e se isso diz algo sobre as suas vozes muito particulares, é um distinção algo simplista. Ambos acabariam por ter uma enorme influência sobre as gerações seguintes de músicos, cada um da sua forma. Muitas vezes, as bandas que os seguiram ou mesmo copiaram (ouçam North American Scum dos LCD Soundsystem e digam-me que não é a mais descarada cópia de Homosapien, trabalho a solo de Pete Shelley) acabaram por ter muito mais êxito comercial do que eles, o que não deixa de ser frustrante. No entanto, parafraseando Shelley, a influência dos Buzzcocks (e dos Magazine) é mais importante que qualquer fortuna milionária.
Deixo aqui duas canções. Primeiro fica Boredom de Spiral Scratch, com Devoto na voz e Shelley em backing vocals. Em segundo, I Don't Mind, single do alinhamento clássico dos Buzzcocks, já com Shelley como voz principal.





Maria Braun