terça-feira, 26 de novembro de 2013

Só mais umas semanas...

Está quase a regressar à BBC One.




 
Maria Braun

terça-feira, 12 de novembro de 2013

"There is nothing behind me and I'm already a has-been"


Nos últimos tempos, tenho ido cada vez mais buscar à minha colecção alguns discos que já não ouvia há algum tempo. Já falei disso aqui antes. São os sinais da idade, a adrenalina da descoberta de algo novo substituída pelo conforto da nostalgia. Esta é uma nostalgia de tempos não vividos, saudades não só da música que fez a minha adolescência, mas também da de outras juventudes que não a minha. Isto não é algo novo; se perguntassem ao meu eu de 15 anos quais as suas bandas preferidas, a resposta imediata seria The Beatles e The Smiths, apesar de ter nascido nos anos 80. Hoje a minha resposta seria mais ou menos igual (por falar nisso, o que achaste da autobiografia de Morrissey, K?).
Mas não é destes dois grupos que venho aqui falar. Nunca parei de os ouvir ao longo dos anos. Venho falar dos Buzzcocks e de duas gravações que voltaram a estar em rotação contínua no meu mp3, a compilação Singles Going Steady (1979) e o EP Spiral Scratch (1977). Estes dois discos representam duas fases distintas da banda, com Singles representando o alinhamento clássico, que nos deu canções como Ever Fallen in Love, e Spiral Scratch o alinhamento original, ainda com Howard Devoto.
A banda criada por Devoto e Pete Shelley quando estudantes em Bolton será sempre uma das minhas preferidas do punk inglês dos 70s. Spiral Scratch foi a única gravação de Devoto com a banda que criou (muito posteriormente recomeçou a colaborar com Shelley e em 2012 juntou-se aos Buzzcocks em concerto). Este EP é historicamente importante por ter sido a primeira auto-edição feita por uma banda, sem um contrato com uma editora discográfica. É a ideia do "do it yourself" que caracterizava o punk posta em prática, abrindo o precedente e cimentando a ideia que qualquer um pode produzir a sua própria música.
Se tivermos em conta o trabalho posterior de Devoto com a sua segunda banda, os Magazine, assim como o trabalho de Shelley com os Buzzcocks, torna-se óbvio que os dois tinham sensibilidades diferentes e que os seus percursos iriam necessariamente divergir a determinado ponto. Existe aquele lugar-comum sobre Devoto o intelectual e Shelley o trovador, e se isso diz algo sobre as suas vozes muito particulares, é um distinção algo simplista. Ambos acabariam por ter uma enorme influência sobre as gerações seguintes de músicos, cada um da sua forma. Muitas vezes, as bandas que os seguiram ou mesmo copiaram (ouçam North American Scum dos LCD Soundsystem e digam-me que não é a mais descarada cópia de Homosapien, trabalho a solo de Pete Shelley) acabaram por ter muito mais êxito comercial do que eles, o que não deixa de ser frustrante. No entanto, parafraseando Shelley, a influência dos Buzzcocks (e dos Magazine) é mais importante que qualquer fortuna milionária.
Deixo aqui duas canções. Primeiro fica Boredom de Spiral Scratch, com Devoto na voz e Shelley em backing vocals. Em segundo, I Don't Mind, single do alinhamento clássico dos Buzzcocks, já com Shelley como voz principal.





Maria Braun

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

I'm the captain now

Ou o face a face de dois capitães. Dois homens com vidas radicalmente diferentes, ambos parte de um contexto global e peões num jogo muito maior do que eles. Captain Phillips baseia-se num acontecimento real, o rapto de um capitão da marinha mercante americana por piratas somalis. A história serve de base para o novo thriller de Paul Greengrass, fiel ao estilo do realizador que ajudou a renovar a linguagem deste género cinematográfico nos últimos anos. É um dos filmes mais tensos dos últimos tempos, ainda mais do que Gravity. Estão lá as características de Greengrass, o tremer da câmara segurada à mão e, o mais importante para o sucesso do filme, a neutralidade com que observa a história. Isto leva a uma ambiguidade que permite ao espectador ter empatia quer com Richard Phillips, o raptado, quer com Muse, o líder dos raptores. Aliás, já ouvi muita gente dizer que, no fim, a sua simpatia está com os piratas.
Como diz o capitão Phillips a determinado ponto, todos têm patrões. Esse é o ponto central. Nenhum deles está verdadeiramente em controlo. Se, em termos de enredo, este é um filme sobre um homem raptado por piratas, em termos de temática é um filme sobre globalização, sobre colonialismo e domínio económico. Phillips diz a Muse que há outras opções na vida para além de ser pescador ou pirata; talvez na América, responde-lhe este. Uma das primeiras sequências do filme contextualiza a acção de Muse e dos seus homens. A aldeia onde vivem é dominada por um "senhor da guerra" que ordena os ataques e exige um saque vultuoso. O dinheiro que é obtido não vai para os piratas mas para os bolsos destes homens, muitos deles nem sequer baseados na Somália. Um acto de pirataria é um acto de sobrevivência. A América, que se vê como vítima, é uma das responsáveis pela situação; eles próprios ajudaram a criar o clima que atinge cidadãos seus, como atingiu Richard Phillips. Muse fala dos barcos que vão para a costa da Somália e lhes roubam o peixe, deixando-os sem alimentos. Esta é apenas uma das muitas formas de exploração. É impossível saber isto e não olhar para Muse que, pelas suas acções, prova constantemente ser alguém com humanidade e compaixão que teve a infelicidade de viver naquelas circunstâncias, sem o perceber. É impossível não ficar devastado quando ele fala do seu sonho de viver em Nova Iorque e comprar um carro, quando sabemos que isso nunca será possível.
Quer Tom Hanks quer o estreante Barkhad Abdi têm grandes interpretações no filme. Hanks nunca esteve melhor e Abdi não se deixa intimidar, respondendo a Hanks de igual para igual. A cena final de Hanks é fenomenal, um momento de catarse depois de toda a contenção que mantém durante o resto do filme.
Greengrass criou, com toda esta ambivalência, um dos filmes mais tensos, mais viscerais do ano. Ele estará, quase de certeza, na minha lista dos melhores de 2013.


Maria Braun

Gravity


Gravity é sobretudo uma experiência. Escrever acerca deste filme é uma tarefa algo inglória. Em primeiro lugar, a minha reacção surpreendeu-me. Pode-se dizer que tive um ataque de pânico. Costumo ficar até ao fim para ler os créditos finais mas, desta vez, tive de sair da sala o mais rapidamente possível porque não conseguia respirar. Poupo-vos os pormenores mais desagradáveis, mas posso afirmar que foi inédito e totalmente inesperado.
Este filme foi um projecto que demorou anos a ser concretizado e que era muito pessoal para Alfonso Cuarón. Isso traduziu-se no ecrã. É um daqueles filmes que têm mesmo de ser vistos numa sala de cinema. Além do mais, não sendo grande fã do formato 3D, tenho de admitir que não só resulta neste caso, como este filme pode ser um argumento usado para justificar a sua existência. No entanto, seria injusto reduzi-lo aos efeitos especiais, por muito fabulosos que sejam. A minha reacção, não sendo necessariamente universal, é uma prova que o filme resulta a um nível muito físico e emocional, que tem um impacte que vai muito para além da sua extraordinária beleza.
Sandra Bullock tem uma presença que cria empatia e que é eficaz. Tenho algumas reservas em levar os meus elogios muito mais longe do que a afirmação de que Bullock é sólida no papel, sobretudo pouco tempo depois de ter visto a extraordinária interpretação de Cate Blanchett em Blue Jasmine. O papel em si precisava de muitas mais nuances para a interpretação passar do bom para o excelente. Contudo, tem de se fazer justiça a Bullock e celebrar o facto de, depois dos 40 anos, idade fatal para as actrizes de Hollywood, ser uma da poucas mulheres que consegue fazer milhões em box office. Quem diria, nos anos 90, que ela seria a actriz da sua geração a ter esta longevidade. 
Bullock como centro deste filme é um dos seus aspectos interessantes. O papel, como está escrito, poderia ser interpretado por um homem ou por uma mulher; não há clichés de género associados a ele. Pensem Ripley em Alien. Isso é uma raridade em Hollywood. Aliás, o próprio Cuarón contou como o estúdio o pressionou para mudar o género da personagem, mas que ele insistiu em ter uma mulher no centro da história. Se ele tivesse cedido, não seriam necessárias grandes alterações. O que interessa é a competência e capacidade de sobrevivência da Dr. Ryan Stone.
No entanto, há aspectos no filme que não tiveram particular ressonância, no meu caso - toda a simbologia dos momentos finais, por exemplo, só salienta que este filme não é 2001. É algo forçado e não particularmente subtil. Poucos tocam em 2001, contudo, e esses momentos não são suficientes para ameaçar o lugar que já está reservado para Gravity na lista dos melhores filmes de 2013. 

Maria Braun