sábado, 18 de dezembro de 2010

Nem carne, nem peixe

É conhecida a aptidão dos escritores portugueses para o sexo foleiro. Digo-o literariamente (não literalmente, atenção!). Penso não ser um caso identitário, ao contrário da mini (e não vou voltar a falar dela, juro). Afinal, até nem é em Portugal que são atribuídos os Bad Sex Awards. Mas há algo que é muito nosso. Falo das já correntes analogias entre dois conceitos cuja relação não é evidente à primeira vista: sexo e peixe. Faço agora uma pequena pausa para pensarmos sobre o assunto. Cá vai parágrafo.
Ora bem, todos conhecemos exemplos, não é verdade? Lembro-me de, há já algum tempo, neste preciso local, ter citado um. Não vou continuar a bater no ceguinho. Procurem, se quiserem.
Não sei se será da nossa tradição pesqueira, ou por Portugal ser o tal "jardim à beira-mar plantado", ou por outros clichés do género. Em minha opinião, não é a melhor das metáforas. Não consigo descortinar a dimensão sensual do peixe. Pensando bem, a carne, essa sim, tem um je ne sais quoi. É bíblico, meus amigos! Fala-se dos prazeres da carne, não dos prazeres do peixe (salvo, se nos estivermos a referir a uma caldeirada bem apurada).
E o meu homem do talho bem o sabe. Ele que, por detrás de um suculento lombo e com um sorriso cheio de segundas, terceiras, quartas intenções, ou se calhar até mais, lança maliciosamente o seu melhor slogan: "Oh freguesa, olhe que a minha carninha é que é boa!". Extraordinária a quantidade e originalidade de novos significados que ele consegue atribuir a substantivos tão simples quanto "perú" ou "bife". "Olhe, podia dar-me um quilo de febras?". Resposta: "Com que então, umas febrinhas?!". Não será preciso dizer que nunca ousei comprar-lhe salsichas.
Quem faz analogias sexuais com peixe definitivamente não conhece o meu homem do talho. E é uma pena!
Sally Bowles