quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Um filme e duas pequenas notas

Há cerca de 3 semanas que ando para colocar este texto no blog. Eu sei, eu sei… Em primeiro lugar, quero agradecer ao K pelo vídeo. Em segundo lugar, uma menção a Mad Men, cuja terceira série terminou este fim-de-semana na televisão americana. Foi uma temporada diferente, mais centrada na vida doméstica dos Draper do que no escritório e, para mim, não tão perfeita como as duas primeiras. Preciso, no entanto, de a digerir primeiro, antes da minha opinião final. Mas deixem que vos diga uma coisa, o último episódio foi fenomenal. Um dos melhores de sempre nesta série (o que é uma meta bem difícil de atingir, diga-se de passagem). Mas vamos ao tema central deste post.
Um dos filmes que tive o prazer de ver em Outubro no London Film Festival foi a estreia de A Single Man, de Tom Ford, que deve abrir comercialmente nos finais deste ano ou inícios do próximo. Para mim, este era um filme obrigatório – uma adaptação de Isherwood com Colin Firth? Já lá estou. Tinha alguns receios, como é óbvio. Afinal, é realizado por um designer de moda. Havia uma grande probabilidade de se parecer com um anúncio a um perfume. Nada mais errado. É belíssimo, sem dúvida, mas não deixa que a estética se sobreponha à história que quer contar. A autenticidade emocional é inegável. É um filme perfeito? Nem pensar, mas o argumento e a realização de Ford são consistentes e excelentes para um estreante, de uma grande elegância. Há um certo kitsch, sobretudo no uso (óbvio) das cores, mas é um kitsch Almodóvar, que não prejudica o filme. E, por falar em Mad Men, A Single Man partilha com esta série a atenção aos pormenores mais minuciosos do estilo dos inícios de 60, desde o design de interiores ao guarda-roupa. É uma delícia visual, que consegue substituir o monólogo interior de Isherwood por uma série de imagens que transmitem a evolução no estado de espírito do personagem central, atingindo o objectivo que uma adaptação cinematográfica de um livro como este deve ter.
A âncora do filme é, no entanto, a interpretação de Firth. Desde que ganhou o prémio de melhor actor no Festival de Veneza, em Setembro, Colin Firth tem sido apontado como um dos mais fortes candidatos ao Óscar no próximo ano (os críticos já consideram a nomeação como certa). Deixem que vos diga: o hype é merecido e ainda bem. Firth é um actor notável que tem sido completamente desaproveitado pelo cinema e que não tem conseguido um papel à sua altura. Claro que uma das principais razões foi ter sido vítima de typecasting depois de Orgulho e Preconceito e de, pelo menos em Inglaterra, o seu nome ser sinónimo de Mr. Darcy. Finalmente, Firth brilha com uma grande interpretação num óptimo filme. Espero que A Single Man seja para Firth o que Victim foi para Dirk Bogarde. Todo o elenco é aliás, digno de nota, incluindo a sempre fabulosa Julianne Moore.
A Single Man conta a história de George Falconer, um professor universitário, nos anos 60, que perde o seu companheiro num acidente de automóvel. Com ele, perde também o desejo de viver (o filme segue uma direcção diferente do livro de Isherwood). A história centra-se num só dia, que Falconer pretende que seja o último. É uma preparação para o suicídio, o acompanhar dos passos finais, das visitas e dos gestos obrigatórios na despedida. No entanto, Falconer vai encontrando, ao longo do dia, imagens, pessoas e momentos que criam dúvidas sobre a validade da sua decisão. É uma trajectória transfiguradora no espaço de um dia. É uma trajectória que vale a pena seguir. Recomendado.


Maria Braun