quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Saudades dos Marretas



Fica como uma espécie de prenda de anos para o blog.

Maria Braun

Segundo aniversário: felicitações, provocações carinhosas, uma saudadinha e o não-sentido do costume

Devo dizer que sim, que me lembrei do nosso aniversário. Mas as circunstâncias não me permitiram escrever nada no dia. Parabéns! São dois anos de confusão: temos posts que fariam a inveja dos primos ricos da blogoesfera e temos posts que, enfim, não lembram ao menino Jesus ( muitos dos quais se devem a mim). Nascemos em Benfica (Campo de Ourique soaria melhor, bem sei) e agora andamos entre Lisboa, Londres e uma cidade miserável no Alentejo. Julgo que isto determinará alguma da eventual peculiaridade do blog, tal como (não levem a sério o que se segue) a torta estrada de Benfica que combina lojas de móveis de gosto duvidoso com cafés com alguma pretensão, aos quais se juntam velhas lojas de brinquedos com jogos da Majora na montra, debotados pela luz dos anos, assim como as drogarias com tampas de sanita à entrada, as inúmeras marquises cinzentas da classe média que apertam o Beau Séjour e, ainda, o sol dourado branco do entardecer, quando se sobe. Duramos, de certeza, mais um ano. De resto, devo dizer que as minhas amigas são umas senhoras e que eu sou um rapaz rude que se esforça para ter maneiras, mas que ficou com boa parte do já famoso e, posso garantir-vos, maravilhoso semi-frio de maracujá (à venda no El Corte inglés). Espero também que a nova casa da Sally tenha no hall uns azulejos tão maus-bons como a casa em que o blog nasceu. Finalmente, Maria: tenho inclinação por baunilha, limão, chocolate, claro está, e se falamos de iogurtes, devo acrescentar coco.
K.Douglas

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Aniversário II

Parabéns a você, nesta data querida... lalalalala....
Estava aqui a pensar no semi-frio de maracujá que o K. levou para casa.
Mnham! Mham! Miau!
Sally Bowles

Aniversário

O nosso blog celebra dois anos de vida. Partilhemos um bolo virtual. Qual é o vosso sabor preferido?
Maria Braun

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Apenas uma sugestão de leitura

Vou falar-vos do meu último livro de cabeceira.
Perdoem-me a ignorância mas descobri John Dos Passos há pouco tempo. E acreditem que senti agora o peso dessa lacuna no meu currículo de leitora. Parafraseando alguém que eu, a Maria e o K. conhecemos em tempos passados - Sim, eu mereceria ir para o Inferno se nunca tivesse lido Dos Passos. Felizmente, acrescentei um carimbo ao meu passe para o Céu.
O livro é Manhattan Transfer, recentemente editado pela Presença com tradução e notas (não de rodapé, lamentavelmente) de João Martins. Através de cerca de quatrocentas páginas, Dos Passos leva-nos pela mão a calcorrear as ruas de Nova Iorque. Está bem que é a Nova Iorque das primeiras décadas do século XX, de Gershwin nos gramofones, dos homens de gabardina e chapéu de feltro, das senhoras que empoeiravam o nariz. Mas é essa a Nova Iorque que eu desejava conhecer e não a Big Apple dos Big Macs.
Um conselho, tire um fim-de-semana para o ler e petiscar alguma coisa entre os capítulos. Não é um livro afecto a interrupções, a uma leitura entre o Campo Grande e o Saldanha. A narrativa é fragmentada, nem sempre fácil de acompanhar. As personagens são muitas e dispersas num percurso temporal de cerca de 30 anos.
Mas, acreditem, vale o fim-de-semana. Porquê? Dos Passos explica, num instante na vida de Ellen (e que magnífica personagem, esta!):
"Recosta-se no fundo do táxi de olhos fechados. Relaxar, tem de permitir-se relaxar mais. É ridículo andar sempre por aí toda enervada até tudo se transformar em giz que chia em quadro preto. E se eu tivesse ficado horrorosamente queimada, como aquela rapariga, desfigurada para toda a vida? Provavelmente vai conseguir bom dinheiro da velha Soubrine, o começo de uma carreira. E se eu tivesse ido com aquele rapaz de gravata feia que me tentou seduzir?... Meia dúzia de larachas diante de um banana-split ao balcão de uma geladaria, cidade acima de autocarro e cidade abaixo outra vez, com o joelho dele contra o meu e o braço dele á volta da minha cintura, umas carícias mais ousadas num portal... Há vida para viver, bastava não dar importância. Importância a quê, a quê? À opinião da humanidade, ao dinheiro, ao sucesso, aos átrios do hotel, à saúde, aos guarda-chuvas, às bolachas Uneeda...? É como um brinquedo avariado esta minha cabeça sempre a fazer brrr sem parar. Espero que ainda não tenham pedido. Se não tiverem convenço-os a ir jantar a outro lado. Abre o estojo de maquilhagem e começa a pôr pó-de-arroz no nariz".
Bem-vindos a Nova Iorque!
Sally Bowles

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Um filme e duas pequenas notas

Há cerca de 3 semanas que ando para colocar este texto no blog. Eu sei, eu sei… Em primeiro lugar, quero agradecer ao K pelo vídeo. Em segundo lugar, uma menção a Mad Men, cuja terceira série terminou este fim-de-semana na televisão americana. Foi uma temporada diferente, mais centrada na vida doméstica dos Draper do que no escritório e, para mim, não tão perfeita como as duas primeiras. Preciso, no entanto, de a digerir primeiro, antes da minha opinião final. Mas deixem que vos diga uma coisa, o último episódio foi fenomenal. Um dos melhores de sempre nesta série (o que é uma meta bem difícil de atingir, diga-se de passagem). Mas vamos ao tema central deste post.
Um dos filmes que tive o prazer de ver em Outubro no London Film Festival foi a estreia de A Single Man, de Tom Ford, que deve abrir comercialmente nos finais deste ano ou inícios do próximo. Para mim, este era um filme obrigatório – uma adaptação de Isherwood com Colin Firth? Já lá estou. Tinha alguns receios, como é óbvio. Afinal, é realizado por um designer de moda. Havia uma grande probabilidade de se parecer com um anúncio a um perfume. Nada mais errado. É belíssimo, sem dúvida, mas não deixa que a estética se sobreponha à história que quer contar. A autenticidade emocional é inegável. É um filme perfeito? Nem pensar, mas o argumento e a realização de Ford são consistentes e excelentes para um estreante, de uma grande elegância. Há um certo kitsch, sobretudo no uso (óbvio) das cores, mas é um kitsch Almodóvar, que não prejudica o filme. E, por falar em Mad Men, A Single Man partilha com esta série a atenção aos pormenores mais minuciosos do estilo dos inícios de 60, desde o design de interiores ao guarda-roupa. É uma delícia visual, que consegue substituir o monólogo interior de Isherwood por uma série de imagens que transmitem a evolução no estado de espírito do personagem central, atingindo o objectivo que uma adaptação cinematográfica de um livro como este deve ter.
A âncora do filme é, no entanto, a interpretação de Firth. Desde que ganhou o prémio de melhor actor no Festival de Veneza, em Setembro, Colin Firth tem sido apontado como um dos mais fortes candidatos ao Óscar no próximo ano (os críticos já consideram a nomeação como certa). Deixem que vos diga: o hype é merecido e ainda bem. Firth é um actor notável que tem sido completamente desaproveitado pelo cinema e que não tem conseguido um papel à sua altura. Claro que uma das principais razões foi ter sido vítima de typecasting depois de Orgulho e Preconceito e de, pelo menos em Inglaterra, o seu nome ser sinónimo de Mr. Darcy. Finalmente, Firth brilha com uma grande interpretação num óptimo filme. Espero que A Single Man seja para Firth o que Victim foi para Dirk Bogarde. Todo o elenco é aliás, digno de nota, incluindo a sempre fabulosa Julianne Moore.
A Single Man conta a história de George Falconer, um professor universitário, nos anos 60, que perde o seu companheiro num acidente de automóvel. Com ele, perde também o desejo de viver (o filme segue uma direcção diferente do livro de Isherwood). A história centra-se num só dia, que Falconer pretende que seja o último. É uma preparação para o suicídio, o acompanhar dos passos finais, das visitas e dos gestos obrigatórios na despedida. No entanto, Falconer vai encontrando, ao longo do dia, imagens, pessoas e momentos que criam dúvidas sobre a validade da sua decisão. É uma trajectória transfiguradora no espaço de um dia. É uma trajectória que vale a pena seguir. Recomendado.


Maria Braun

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

In a quiet house at the top of the hill

Se a ideia de haver música sazonal for acertada - se, de facto, houver tempos, cores do céu, para determinadas bandas, então Setembro é o mês dos Fleet Foxes. As canções abraçam as folhas que dizem que vão cair, as flores que se fecham, o sol que muda no equinócio e que torna as tardes douradas. Enfim, são perfeitas.

K. Douglas

(não) correspondências

Deve ser a triste modorra do interior que me fez sorrir com o post da Sally. Lembrei-me do cheiro adocicado das pipocas do marquês de Pombal que, não sei porque razão, sempre achei confortável.

K. Douglas