sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Este cartaz?!

Sally da minha vida! Já começava a pensar que eu estava para aqui e tu longe, num templo a orar a Confúncio ou, então, pior do que andarmos um para outro irresistivelmente, arrebetadoramente, fulgurosamente, pensei que o Diogo Infante te tivesse encontrado (andava à tua procura no verão passado, bruscamente, sem saber por onde andavas, nem o que fazias). Subscrevo tudo o que escreveste, com excepção dos juízos sobre o magnífico cartaz do PS, que está posto em cima. É que não está rodeado de gente, Sally. Está cercado de mulheres. Isso merece, à primeira vista, algum respeito - Ah! Ganda Sócrates! Ali está ele, sem casaco, camisa impecável, charmoso, no meio do mulherio mais ou menos novo. Estás a ver a diferença de estilo? O Portas poria as velhas com pêlos nos queixo ao lado dele e Louçã, se fosse mais inteligente, poria as gajas giras e sexy que o bloco, não sei como, consegue arranjar. Mas não, as meninas de Sócrates têm um ar de trabalhadoras, de possíveis funcionárias públicas, na casa dos trinta e muitos anos, com excepção da rapariga que mostra todo o rosto. Em certa medida até é um cartaz bem português, tanto mais se pensarmos nele numa outra perspectiva. Substituam-se as possíveis funcionárias públicas, ou as mulheres da classe média urbana, por trabalhadoras rurais e o efeito é imediato: quando o senhor engenheiro chega para saber como vai o trabalho, todas acorrem para ele (o capataz permite, porque assim lhe foi dito). O Senhor engenheiro congratula-se pelo trabalho feito e sublinha que o sucesso da herdade não seria nenhum sem a força delas. Nós é que agradecemos, senhor engenheiro. Tão bom que o senhor é para nós. Ora essa, podem contar sempre comigo. Mãos à obra! - Exclama o senhor engenheiro, despedindo-se, e entra para o jipe, queixando-se que tem terra nos sapatos. Mas mais do que isso, a cumplicidade entre o mulherio e o senhor engenheiro tranforma-se no que parece ser uma possível tensão erótica. O senhor engenheiro torna-se assim num sex-symbol, acalentando desejos e vontades. Não é o melhor cartaz de sempre - esse pertence a Mário Soares -, mas será o segundo melhor na história da democracia portuguesa, ainda que por razões diferentes das do primeiro.
K. Douglas

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Sally, o Regresso

Eu sou um daqueles raros casos que consegue vislumbrar algum encanto no período pré-eleitoral. Campanhas, debates, tempos de antena, cartazes, beijinhos em criancinhas ranhosas – não podemos negar o potencial cómico disto tudo. Muitos discursos parecem um verdadeiro exercício de stand-up comedy e os frente-a-frente estão ao nível de um bom sketch dos Marretas.
Sugiro apenas uma breve reflexão sobre os cartazes que despontam um pouco por todo o país. Olhando os do PSD, não posso deixar de louvar o trabalho de quem é capaz de tornar a fácies de Manuela Ferreira Leite ainda mais desagradável, com um quê de professora primária tirânica, pronta a dar umas palmadas em quem não souber a tabuada (ou o défice público). E o PS, bem... Já viram aquele cartaz em que José Sócrates aparece entre um magote de gente esfumada mas que o contempla como se fosse o novo Messias? Aquela expressão é o quê? Prisão de ventre? Será que o nosso primeiro-ministro precisa de consumir mais bifidus activo?Os dois partidos de esquerda mantêm a sua imagem de marca – o PCP sempre a tocar a mesma cassete (citando Brüno, “Isso é tão Álvaro Cunhal!”) e o Bloco com a sua política-combate, um autêntico “Fight Party”. O PP não desilude. Repararam nos novos cartazes? Não me refiro àqueles reaccionário-populistas do tipo “Concorda com o rendimento mínimo para quem não quer trabalhar?”, ou “Acha bem um governo que protege os ladrões e condena os polícias?”, ou “Não considera uma falta de gosto sapatos que não combinam com a ponchete?”. Estou a pensar antes num outro cartaz em que Paulo Portas aparece com o ar ameaçador do género “Vou-te comer!” (e não no sentido divertido do termo, embora tal também fosse uma opção de marketing viável...) ao lado do slogan “Há cada vez mais gente a pensar como nós”. É um facto... assustador.
Sally Bowles

terça-feira, 28 de julho de 2009

"You were Marlon Brando, I was Steve McQueen"


Vi há poucos dias o filme The Great Escape (John Sturges, 1963) e fiquei sem saber o que pensar. No entanto, ao ver como ando sozinho no blog, decidi forçar-me a escrever qualquer coisa. Tenho o chamariz perfeito e com isso a ocasião perfeita para utilizar o título perfeito - um verso da Is This What You Wanted, canção que abre New Skin for the Old Ceremony de Leonard Cohen. Feitas as contas, The Great Escape é um filme aceitável com alguns momentos cool McQueen - precisamente, The Cooler King - e com uma mão de lines com um certo humor Wilder (isto é um grande elogio). Um grupo de tropas aliadas encontra-se detido num campo prisional nazi. Os homens serão tratados com decência (dispõem de actividades, de uma biblioteca, etc.). A única coisa que não é permitida são fugas. Bem, o título do filme diz tudo. E tudo porque não se trata de uma fuga isolada, mas qualquer coisa como a fuga de 250 homens. Como? Escavando um longo túnel que os levará à liberdade e cujo processo está à altura dum Michael Scofield. Bem, há uma comicidade no filme, sublinhada ou até mesmo exagerada pela música, que não deixa de resultar numa espécie de placidez que, por um lado, deixa quase intacto qualquer domínio de desespero (também não é essa a intenção do filme), mas que, por outro, não deixa de lhes fazer frente. Um bocadinho Hollywood tricky, mas good enough. Pode assim compreender-se a cool thing de McQueen na solitária, lançando a bola de baseball contra a parede. Promissora.


P.S - A foto não é do filme, nomeadamente da sequência da fuga de mota de McQueen. Mas meninas, veículos motorizados são a imagem de marca da carreira e da vida de McQueen. Por outro lado, parece que o modelo usado no filme é dos anos 60.
K. Douglas

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Devoção
















hands over your eyes
recalling your size
is it the right time
for the game we play
in all kinds of weather

Beach House

Há dois discos perfeitos para certas noites de Verão: Devotion dos Beach House e A River Ain't too Much to Love de Smog. A altura ideal para os ouvir é quando a noite começa a ficar alta, quando se faz sentir um pequeno, mas não desagradável, frio, quando o único vestígio cronológico no céu são duas luzes pequenas que andam e piscam lá no alto e que se identificam como pertencentes a um avião que vai para um sítio que não se consegue imaginar. Claro que não é preciso este estado de coisas para ouvir os discos, mas a minha vontade de o descrever deve-se ao poder destas canções e, por extensão, ao poder da música. É que se há uma dificuldade em expressar como as canções nos tocam, sendo aquilo que possamos dizer muito reduzido - normalmente ao simples e verdadeiro "é lindo" - , é também verdade que esse toque tem uma força que, por uma hora ou duas, nos coloca numa sensação de afinidade com as coisas (ainda que não seja completa) na qual as frases inacabas fazem sentido e a necessidade de dizer qualquer coisa fica saciada. Talvez pela comoção despertada por estas canções (não se consegue ser indiferente a Astronaut ou a Say Valley Maker), talvez porque o pensamento forme e fixe imagens.
K. Douglas

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Abismo

Esta promo de Six Feet Under fez-me escrever uma coisa ou outra há já bastante tempo atrás. Recentemente, e por acaso, um amigo leu a folha e disse que era muito arrogante e injusto com a banda. Teve necessidade de os defender. Ainda assim, o que estava escrito tinha alguma piada. Essa pequena concessão, acompanhada de incerteza, fez-me deixar aqui o texto.
Os Coldplay, no máximo, eram aquela banda que serviria para respirar numa daquelas saídas à noite em que se está com pessoas novas e cujo gosto musical é mais que duvidoso (e tudo aquilo que possam dizer). Enfim, seria aquela banda que passaria no carro de um dos novos colegas de trabalho, quando se sai de um bar para outro sítio e que até se enquadra com a ideia de diversão, de distracção e de momento pseudo-profundo da noite. Muito provavelmente, o condutor nem teria o disco. Deveria ser o que estaria a passar na RFM. Uma pessoa até acharia piada à coisa e sorriria condescendente. Podia ser bem pior, ou não. Mas pode ser que uma promo de Six Feet Under mude tudo isto ou que, pelo menos, durante um minuto, os Coldplay pareçam perfeitos. Mas não. Passado algum tempo, sabe-se que o mérito é dos actores e de quem realizou e montou a promo.

K. Douglas

quarta-feira, 17 de junho de 2009

"It's a wicked life"

Pensei que seria boa ideia escrever qualquer coisa séria para o blog. Qualquer coisa com conteúdo, com opinião. Sim, seria bom esforçar-me. Por exemplo, seria porreiro falar das muitas vezes que tenho ouvido Dylan nestes tempos e de como isso me tem deixado contente. Que leio as letras com uma grande satisfação, que adoro a Simple Twist of Fate, que fico comovido a um ponto constrangedor com a Desolation Row, que pego com delicadeza exagerada na minha cópia do Blonde on Blonde e que ouço em repeat a Visions of Johanna. Mas não dá.
K. Douglas

terça-feira, 16 de junho de 2009

"O rio que é verdade"

Sempre que ouço Evaporar dos Little Joy lembro-me do Tejo. Não sei se por saber que a ideia do projecto nasceu em Lisboa. Bem, a letra ajuda bastante: "o rio fica lá, a água que correu chega na maré, ele vira mar." Não consigo deixar de ter uma espécie de evasão de rapaz de classe média - como se estivesse no Cais de Sodré à espera do barco para Cacilhas ou para o Seixal. Parado, deixo que os golpes de luz branca da água me entrem nos olhos e façam crescer qualquer coisa.
K. Douglas

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Ir à bola!

Eu sei que a nossa especialista em cinema é a Menina Braun mas hoje vou entrar de leve no campo da nossa "Mata-Hari do milagre económico".
No passado fim-de-semana fui ver o filme comemorativo dos 60 anos do Festival de Cannes, Cada um o seu cinema (Chacun son Cinéma). Para os mais distraídos aqui fica uma breve sinopse: foi pedido a 33 realizadores que fizessem um filme de 3 minutos sobre o cinema, o seu público e o seu espaço, as salas. O resultado foi uma mescla de curtas (ou melhor, de curtíssimas) muito díspares e que conferiram uma grande heterogeneidade ao produto final que não deixa de ser interessante.
Como é costume neste tipo de produção, há fragmentos melhores que outros (não compreendi que raio de obsessão era aquela pela cegueira!!) mas todos perfeitamente reconhecíveis no estilo de cada um dos realizadores. Por exemplo, a curta de David Lynch é identificada logo no primeiro segundo, como não podia deixar de ser. Mas o mesmo acontece com Cronenberg, Van Sant ou mesmo com o nosso Oliveirinha e a sua bem disposta contribuição (Ah! A barriguinha do camarada papa!).
Apesar de todas as sequências merecerem um post, hoje apenas queria falar da curta-metragem de Ken Loach que surge no final. Um pai e um filho numa fila para a bilheteira tentam decidir que filme irão ver, perante a impaciência das outras pessoas que também esperam pelo seu bilhete. As sugestões do pai para o filho adolescente não deixam de ser curiosas - uma caricatural tendência para o cine-lixo. Os que esperam na fila também dão as suas sugestões. Ficamos com a ideia de que nós não poríamos os pés naquele cinema, de certezinha absoluta! Quando chegam ao final da fila, perante a impaciência da rapariga da bilheteira, o pai toma uma decisão que é imediatamente aplaudida pelo filho - vamos mas é ao futebol!
Pois é, meus caros, hoje troquem a sala de cinema pelo Barcelona-Manchester (Barça! Barça!). Então se estão a pensar ir ver os Anjos e Demónios, é mesmo o melhor que têm a fazer. Embora a ideia do Ewan McGregor a fazer de padre não deixar de ser... enfim... falta-me a palavra... passo a bola à Maria Braun que percebe melhor disso do que eu!
Sally Bowles

sábado, 25 de abril de 2009

Aniversário da revolução


Foi com alguma tristeza que a meio da tarde me dei conta que ainda não tinha feito nada que dedicasse a este dia. Celebremos Abril e combatamos a pequenez dos dias e da vida.
K. Douglas