Gravity é sobretudo uma experiência. Escrever acerca deste filme é uma tarefa algo inglória. Em primeiro lugar, a minha reacção surpreendeu-me. Pode-se dizer que tive um ataque de pânico. Costumo ficar até ao fim para ler os créditos finais mas, desta vez, tive de sair da sala o mais rapidamente possível porque não conseguia respirar. Poupo-vos os pormenores mais desagradáveis, mas posso afirmar que foi inédito e totalmente inesperado.
Este filme foi um projecto que demorou anos a ser concretizado e que era muito pessoal para Alfonso Cuarón. Isso traduziu-se no ecrã. É um daqueles filmes que têm mesmo de ser vistos numa sala de cinema. Além do mais, não sendo grande fã do formato 3D, tenho de admitir que não só resulta neste caso, como este filme pode ser um argumento usado para justificar a sua existência. No entanto, seria injusto reduzi-lo aos efeitos especiais, por muito fabulosos que sejam. A minha reacção, não sendo necessariamente universal, é uma prova que o filme resulta a um nível muito físico e emocional, que tem um impacte que vai muito para além da sua extraordinária beleza.
Sandra Bullock tem uma presença que cria empatia e que é eficaz. Tenho algumas reservas em levar os meus elogios muito mais longe do que a afirmação de que Bullock é sólida no papel, sobretudo pouco tempo depois de ter visto a extraordinária interpretação de Cate Blanchett em Blue Jasmine. O papel em si precisava de muitas mais nuances para a interpretação passar do bom para o excelente. Contudo, tem de se fazer justiça a Bullock e celebrar o facto de, depois dos 40 anos, idade fatal para as actrizes de Hollywood, ser uma da poucas mulheres que consegue fazer milhões em box office. Quem diria, nos anos 90, que ela seria a actriz da sua geração a ter esta longevidade.
Bullock como centro deste filme é um dos seus aspectos interessantes. O papel, como está escrito, poderia ser interpretado por um homem ou por uma mulher; não há clichés de género associados a ele. Pensem Ripley em Alien. Isso é uma raridade em Hollywood. Aliás, o próprio Cuarón contou como o estúdio o pressionou para mudar o género da personagem, mas que ele insistiu em ter uma mulher no centro da história. Se ele tivesse cedido, não seriam necessárias grandes alterações. O que interessa é a competência e capacidade de sobrevivência da Dr. Ryan Stone.
No entanto, há aspectos no filme que não tiveram particular ressonância, no meu caso - toda a simbologia dos momentos finais, por exemplo, só salienta que este filme não é 2001. É algo forçado e não particularmente subtil. Poucos tocam em 2001, contudo, e esses momentos não são suficientes para ameaçar o lugar que já está reservado para Gravity na lista dos melhores filmes de 2013.
Maria Braun