A
morte de Margaret Thatcher mostra mais uma vez como os media (com notáveis
excepções) manipulam, branqueiam e tentam reescrever a história como lhes
convém. Lá porque a senhora morreu não quer dizer que ela fosse uma estadista a
quem se deva respeito ou idolatria. Felizmente, a tecnologia de hoje permite
que muitas vozes se façam ouvir e essas vozes são de gente que não esquece. Os
festejos em várias cidades, as campanhas online ou apenas os comentários num
qualquer site são provas de que, de facto, há coisas que o tempo não apaga. Não
é humano falar mal de alguém que acaba de morrer? Ela também não tinha um pingo
de humanidade. Estamos a falar da pessoa que destruiu a indústria inglesa e
declarou guerra à working class, que desestruturou
famílias e comunidades inteiras, que lançou gente para o desemprego e que lhes
disse para se desenvencilharem sozinhos sem ajuda do Estado, de alguém que
literalmente tirou o leite às crianças. Da pessoa que oficialmente declarou
Mandela um terrorista, que apoiou o apartheid,
que foi amiga de Pinochet e Mugabe. Estamos a falar da pessoa que ajudou a
encobrir Hillsborough e que ordenou a morte de 300 marinheiros argentinos. E
ainda não mencionei Bobby Sands.
Em
muitas terras, sobretudo no norte de Inglaterra, ainda se sofrem as
consequências do seu governo e da guerra de classes que alimentou. Um governo que
beneficiava os ricos, enquanto os pobres mereciam sofrer apenas por serem
pobres. Se os britânicos querem celebrar nas ruas, deixem-nos. É de mau gosto? Sim
mas, para ser sincera, não quero saber.
Por
fim, quero só dizer que agradeço muito ao Guardian por ter sido um dos poucos
jornais que manteve a imparcialidade nisto tudo e que nos deu uma excelente
cobertura dos acontecimentos nos últimos dias. Tem sido uma leitura muito
interessante.
Deixo
aqui um vídeo que já tem uns anos, com o comediante escocês Frankie Boyle no
programa Mock The Week a deixar bem
claro, na altura, o que achava de um potencial funeral de Margaret Thatcher. É
hilariante.
Maria Braun