terça-feira, 15 de outubro de 2013

Imagens perturbantes

 
A imagem, Sally, é perturbante. A realidade, contudo, ainda mais perturbante é. Não sinto grande vontade de satirizar o que se passa. Quando temos um governo que está a destruir direitos que levaram décadas a adquirir, a destruir a vida de tantos portugueses com uma crueldade assombrosa, com um misto de desinteresse e sobranceria, quando se vê a crise como desculpa para levar a cabo uma purga com bases ideológicas, a vontade de rir não é muita. O Primeiro-Ministro dá uma conferência de imprensa em que menciona, com um desinteressado encolher de ombros, uma inevitável perda de autonomia das instituições. O que é que ele quer dizer com isso e quem lhe deu autoridade para o fazer?
 Choca-me a falta de sentido democrático deste governo. Chocam-me os ataques à liberdade de imprensa, as tentativas (nem sempre bem sucedidas) de silenciamento de vozes incómodas, o ataque vergonhoso e perigoso ao Tribunal Constitucional, que apenas está a fazer o que lhe compete – proteger a Constituição. Choca-me ainda mais a apatia que rodeia tudo isto. Aquele fanático que usa o título de Primeiro-Ministro é um perfeito e total incompetente, um tiranete que quer condenar a maioria à miséria. De que outra forma se pode interpretar o que estão a fazer aos reformados, os brutais ataques a pessoas de 80 anos que não têm muitas defesas? Querem transformá-los em sem-abrigo, em miseráveis esfomeados? E a vendetta contra os funcionários públicos? E fazem-no com uma displicência. Fazem-no com a atitude que só é possível em pessoas que vivem numa redoma fora de qualquer tipo de realidade, sem qualquer conhecimento do que é passar por dificuldades, do que é passar por aquilo que tantos estão a viver. É maldade pura e venenosa. Não há outra forma de o expressar. E ainda se acham no direito de vir dizer que os portugueses são “piegas”, ainda se acham no direito de falar com o paternalismo de quem pensa que sabe mais que todos os outros. É o paraíso de uma certa direita, os privilégios de alguns e a pobreza de muitos, dependentes da nojenta caridadezinha que lhes é tão cara.
O governo foi legitimamente eleito, sem dúvida. Isso não lhes dá a legitimidade de destruir um país a mando da Alemanha; isso não significa que hoje, depois de tudo o que fez, ainda se pode considerar legítimo. Se tivéssemos um Presidente digno desse nome e não aquele espantalho, eles já lá não estariam. Teriam sido convocadas eleições legislativas para o dia das autárquicas. Se todos os instrumentos democráticos para afastar o governo se mostram ineficazes, pergunto-me o que nos resta. O que eu gostava que acontecesse não o digo aqui, se não ainda me bate a polícia à porta. Por aí me fico.
 
Maria Braun