quinta-feira, 7 de março de 2013

Auster e dadá

O Poeta não tem pão.
E então?
Que coma os versos!
Diversos,
Controversos,
Perversos até.
Nunca lhe serviram de nada, afinal.
O Poeta já perdeu a moral
E a musa por arrasto,
Fugiu com o primeiro gajo
Que lhe pagou um café.
Sem musa, nem inspiração,
Tenta escrever sob a pressão
Do estômago vazio:
O tempo arredio,
O céu de Verão,
O destino e a morte,
Uma doce consorte
De mãos de porcelana.
Sem nada que o reconforte,
O Poeta, suspirante,
Só se lembra da bifana
A fumegar distante.
O Poeta troca o sossego do lar
Por um dia a penar
No Centro de Emprego.
Diz-lhe um barbudo na fila:
"Ergue o punho, camarada!".
Mas o poeta já não ergue nada,
O punho, a cabeça, a pila.
O poeta é impotente,
O poeta não é gente,
O poeta aparente
Mente é um número.
Nem sequer uma letra!
E isso sim, é uma treta.
B. Parker