quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Pouca terra

Proust (novamente ele, é verdade!) tinha uma receita curiosa para as insónias. E não era contar carneiros. Quando não conseguia dormir, entretinha-se a ler o horário dos comboios, imaginando os enredos que se escondiam por detrás dos insípidos nomes das localidades da província. Li este fait-divers no divertido livro de Alain Botton, Como Proust pode mudar a sua vida, cuja leitura aconselho vivamente.
Hoje, ao olhar para os horários da CP, lembrei-me do autor de À la recherche, eu própria à recherche de um comboio para Tomar. Fazendo a pesquisa no sítio da CP, no separador "Horários e preços", e seleccionando na caixa "Origem" a opção "Lisboa-Oriente", as hipóteses que surgem em "Destino" são numerosas e algumas até algo insondáveis. Abrantes, Abrunhosa, Ademia...
Ademia. O leitor conhece? Eu não.
O que sabe Google sobre Ademia? Primeiro, fica confuso. Julga que eu quero dizer "academia". Não podias estar mais enganado, querido Google. É mesmo Ademia.
Fico a saber que há uma Associação Desportiva e Cultural da Adémia. Creio que não é o que estou à procura. Um acento a mais. Ademia é também um nome feminino. Talvez para pais que ansiavam por um rapaz. Há uma Ademia de Cima (possivelmente também haverá uma Ademia de Baixo - qual das duas tem um terminal ferroviário?) e um Centro Social da Ademia que conta com muitos anos de experiência e uma elevada qualidade na área de IPSS. Ademia já tem, não um parque infantil, mas uma equipa de basebol e uma escola do 1º Ciclo.
Talvez Ademia seja realmente Adémia. O sítio "Memória Portuguesa" informa que Adémia é uma aldeia da freguesia de Trouxemil, no concelho de Coimbra, e que, de facto, está dividia em dois lugares, os tais de Cima e de Baixo. Tem ermida, capela, cemitério. De Adémia não há fotos. Resta-nos a imaginação.
Em Adémia talvez exista uma D. Maria. É certo que há Donas Marias em todas as aldeias portuguesas. Sozinha numa casa de pedra, a recordar-se dos filhos emigrados em Paris da França enquanto arranja umas couves. Adémia fora uma bonita rapariga e partira o coração a muitos rapazes quando nos bailes rodopiava os cabelos e a saia. Mas foi o seu coração que se partiu por um magala da cidade que casou com a Sãozinha de Alvalade. Maria bem tentou amarrar o destino do magala ao seu com a ajuda da D. Lurdes das mezinhas. Mas ele só tinha olhos para a lambisgóia...
[Bocejo] Bem, o Proust lá tinha razão. Isto dá cá um sono.

Maria (a Braun, não a D. Maria), eu sei que este post pode parecer completamente despropositado, mas partilho contigo a alegria pelos resultados das eleições norte-americanas. Obama na Casa Branca e Mitt Romney, quiçá... em Adémia. Porque não, Sr. Pastor? Gozar a velhice pacatamente numa aldeia pitoresca longe de tudo, longe do mundo.

Sally Bowles