Conhecem aquela pergunta que, infalivelmente, aparece em todas as entrevistas de emprego: Onde é que você se vê daqui a 5 anos? E isto quando não alargam o tempo para dez ou quinze anos, como se possuíssemos uma bola de cristal lá em casa, entre a torradeira e o micro-ondas.
Só de pensar nela, gela-me o sangue. Antes de qualquer entrevista, eu preparo uma resposta adequada - sei que devo mostrar ambição mas sentido realidade e incluir nos meus planos o emprego para o qual me candidato, mesmo que seja o de distribuidor do Destak. Porém, apesar do treino prévio e do aquecimento da minha espinha dorsal, não consigo deixar de suar frio perante o dilema - Onde me vejo daqui a 5 anos?
Para ser franca, quero lá saber! 9 às 17, 13º mês, contrato, salário fixo, três semanas de férias em Agosto, patrão - eis alguns dos aspectos que sempre associei a um profundo tédio. Saber onde vou estar daqui a 5 anos, ou pelo menos tecer uma suposição sobre tal, não revelaria apenas a minha falta de confiança nas surpresas que o futuro reserva? Aborrecido, não?
Admito que possivelmente estarei a ver o copo meio cheio. Ter um contrato, salário fixo, blá, blá, blá, tirar-me-ia de cima as preocupações básicas sobre o meu sustento e, então, poderia preocupar-me com outras coisas como a dívida pública ou a nuvem da Islândia (já repararam que ninguém consegue pronunciar o nome do raio do vulcão?).
Porém, acreditem - eu até acho um certo charme em viver em crise.
Sally Bowles
P.S.: Independentemente de quem seja esse(a) B. Parker, creio que não foi só o gato que ficou confuso.