terça-feira, 28 de julho de 2009

"You were Marlon Brando, I was Steve McQueen"


Vi há poucos dias o filme The Great Escape (John Sturges, 1963) e fiquei sem saber o que pensar. No entanto, ao ver como ando sozinho no blog, decidi forçar-me a escrever qualquer coisa. Tenho o chamariz perfeito e com isso a ocasião perfeita para utilizar o título perfeito - um verso da Is This What You Wanted, canção que abre New Skin for the Old Ceremony de Leonard Cohen. Feitas as contas, The Great Escape é um filme aceitável com alguns momentos cool McQueen - precisamente, The Cooler King - e com uma mão de lines com um certo humor Wilder (isto é um grande elogio). Um grupo de tropas aliadas encontra-se detido num campo prisional nazi. Os homens serão tratados com decência (dispõem de actividades, de uma biblioteca, etc.). A única coisa que não é permitida são fugas. Bem, o título do filme diz tudo. E tudo porque não se trata de uma fuga isolada, mas qualquer coisa como a fuga de 250 homens. Como? Escavando um longo túnel que os levará à liberdade e cujo processo está à altura dum Michael Scofield. Bem, há uma comicidade no filme, sublinhada ou até mesmo exagerada pela música, que não deixa de resultar numa espécie de placidez que, por um lado, deixa quase intacto qualquer domínio de desespero (também não é essa a intenção do filme), mas que, por outro, não deixa de lhes fazer frente. Um bocadinho Hollywood tricky, mas good enough. Pode assim compreender-se a cool thing de McQueen na solitária, lançando a bola de baseball contra a parede. Promissora.


P.S - A foto não é do filme, nomeadamente da sequência da fuga de mota de McQueen. Mas meninas, veículos motorizados são a imagem de marca da carreira e da vida de McQueen. Por outro lado, parece que o modelo usado no filme é dos anos 60.
K. Douglas

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Devoção
















hands over your eyes
recalling your size
is it the right time
for the game we play
in all kinds of weather

Beach House

Há dois discos perfeitos para certas noites de Verão: Devotion dos Beach House e A River Ain't too Much to Love de Smog. A altura ideal para os ouvir é quando a noite começa a ficar alta, quando se faz sentir um pequeno, mas não desagradável, frio, quando o único vestígio cronológico no céu são duas luzes pequenas que andam e piscam lá no alto e que se identificam como pertencentes a um avião que vai para um sítio que não se consegue imaginar. Claro que não é preciso este estado de coisas para ouvir os discos, mas a minha vontade de o descrever deve-se ao poder destas canções e, por extensão, ao poder da música. É que se há uma dificuldade em expressar como as canções nos tocam, sendo aquilo que possamos dizer muito reduzido - normalmente ao simples e verdadeiro "é lindo" - , é também verdade que esse toque tem uma força que, por uma hora ou duas, nos coloca numa sensação de afinidade com as coisas (ainda que não seja completa) na qual as frases inacabas fazem sentido e a necessidade de dizer qualquer coisa fica saciada. Talvez pela comoção despertada por estas canções (não se consegue ser indiferente a Astronaut ou a Say Valley Maker), talvez porque o pensamento forme e fixe imagens.
K. Douglas

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Abismo

Esta promo de Six Feet Under fez-me escrever uma coisa ou outra há já bastante tempo atrás. Recentemente, e por acaso, um amigo leu a folha e disse que era muito arrogante e injusto com a banda. Teve necessidade de os defender. Ainda assim, o que estava escrito tinha alguma piada. Essa pequena concessão, acompanhada de incerteza, fez-me deixar aqui o texto.
Os Coldplay, no máximo, eram aquela banda que serviria para respirar numa daquelas saídas à noite em que se está com pessoas novas e cujo gosto musical é mais que duvidoso (e tudo aquilo que possam dizer). Enfim, seria aquela banda que passaria no carro de um dos novos colegas de trabalho, quando se sai de um bar para outro sítio e que até se enquadra com a ideia de diversão, de distracção e de momento pseudo-profundo da noite. Muito provavelmente, o condutor nem teria o disco. Deveria ser o que estaria a passar na RFM. Uma pessoa até acharia piada à coisa e sorriria condescendente. Podia ser bem pior, ou não. Mas pode ser que uma promo de Six Feet Under mude tudo isto ou que, pelo menos, durante um minuto, os Coldplay pareçam perfeitos. Mas não. Passado algum tempo, sabe-se que o mérito é dos actores e de quem realizou e montou a promo.

K. Douglas