The modern conservative is engaged in one of man's oldest exercises in moral philosophy; that is, the search for a superior moral justification for selfishness. JK Galbraith
A América está à beira de eleger para a Casa Branca uma dupla tão perigosa como a que actualmente ocupa o poder. E eu que pensava que não se conseguiria pior que Bush/Cheney… A escolha de Sarah Palin é absolutamente assustadora. Tudo em Sarah Palin é assustador. Mas o que a torna perigosa e, visto de fora, uma péssima escolha, é o que a torna tão apelativa dentro da América. Palin é ultra-conservadora, fanática religiosa (e criacionista), apoiante do lobby das armas, profundamente nacionalista, com um forte pendor bélico e retrógrada em questões sociais (é contra a liberdade de escolha das mulheres no que diz respeito ao aborto, por exemplo). E é uma mulher profundamente ignorante. Já afirmou que apoiaria uma guerra contra a Rússia e uma intervenção unilateral no Paquistão. A sua moralidade política não está acima de escrutínios, dadas as investigações que lhe estão a ser feitas por abuso de poder. Quem quer uma mulher assim como vice-presidente, sobretudo quando o potencial presidente é um homem na casa dos 70 anos? Pelos visto, muitos americanos. É por essas mesmas razões que é tão popular na América profunda, fechada e reaccionária. A antiga candidata a Miss Alaska, mãe de uma família alargada, que tem uma predilecção particular pela caça, é tudo o que esse povinho gosta. O ser ignorante nem é um problema – veja-se George W. Bush. Até já teve direito a ser transformada em boneca estilo GI Joe para poder ser comprada para as criancinhas desses horríveis rednecks.
Mas há um outro problema aqui que merece ser tratado – e que me interessa particularmente por razões óbvias. O spin feito pelos republicanos para apresentarem Palin como uma feminista, o cínico apelo ao eleitorado feminino depois de verem o fenómeno Hillary Clinton, é preocupante. Em primeiro lugar porque insulta a inteligência das mulheres. Eles devem supor que as mulheres são tão superficiais que votarão nela apenas por ser mulher e que ignoram a ideologia política que a sustenta – isso é algo demasiado complexo para as suas cabecinhas. Só alguém que pensa assim poderá supor que o eleitorado de Hillary Clinton vai agora votar em Sarah Palin apenas com base no género. Nenhuma apoiante de Clinton se pode rever em Palin. Ou pelo menos, era o que eu pensava. Mas parece que Palin se está a tornar popular entre as mulheres caucasianas na América.
O Partido Republicano, responsável por imensos ataques misóginos a Clinton, está a tentar apropriar-se do movimento feminista. Algo que Palin nunca poderá ser porque nunca representou os interesses das mulheres. Os republicanos nunca se preocuparam com as mulheres – e estão agora a usá-las como instrumento político para seu próprio proveito, com a perfeita noção que nunca irão fazer nada para promover a igualdade. Palin é a encarnação perfeita dos três K do partido nazi. Ao tentar identificá-la com os movimentos que promovem a igualdade das mulheres, está a esvaziar-se esses mesmos movimentos, a subverter o seu papel e os seus princípios e a tentar lançá-lo numa crise de identidade. Anuncia-se uma regressão neste campo.
Sempre, desde o início, fui apoiante de Obama, apesar de nunca ter acreditado que ele fosse ganhar as eleições. Agora ainda estou menos convicta disso. A perversa escolha de Palin foi uma boa estratégia, tresandando a Karl Rove por tudo o que é sítio. A máquina republicana volta a fazer das suas. Se, à partida, McCain, mais liberal, não parecia tão mau quanto Bush, agora torna-se num pesadelo. O que diz muito sobre a América é o facto de, enquanto muitos europeus que poderiam apoiar McCain já não o fazem por causa de Sarah Palin, há muitos americanos que não votariam McCain e que agora votam por causa de Sarah Palin. Este é o mais deprimente e assustador retrato que pode haver de uma nação. Se votarem na “hockey mum” todo o mundo sofrerá com isso. Depois queixem-se de que a América está isolada…
Um conselho: vejam a fantástica cobertura que Jon Stewart tem estado a fazer da escolha Palin e a sua brilhante desconstrução do discurso republicano. Dá-nos muito que pensar.
Maria Braun