segunda-feira, 29 de setembro de 2008

As citações e a vida

Um quadro de cortiça é sempre uma coisa de louvar. São bocadinhos da pessoa. O facto da Sally ter uma citação de Rousseau no seu quadro revela um pouco da sua ingenuidade. Cara amiga, é óbvio que ele não tem razão. E o motivo é porque ele é um idealista e quem vive na esfera da idealidade pouco sabe do aqui e agora. Por isso é que ele escreveu um livro sobre a educação e, depois, batia avulsamente no filho. Pensemos no assunto e, nomeadamente, se vale a pena manter essa frase no quadro de cortiça.
K. Douglas

domingo, 28 de setembro de 2008

Os frutos e a terra

"Estais perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e a terra de ninguém."
Há já muito tempo que tenho esta citação de Rousseau afixada no meu quadro de cortiça. Todos os dias, sento-me à secretária e olho para ela.
Oh, amigo Rousseau! Guarda essas ideias dentro da cabeleira! Nunca foi assim, nem no teu século, nem no meu. A terra é sempre de alguém e os frutos de alguns.
Sally Bowles

sábado, 27 de setembro de 2008

Paul




Tinha 83 anos. Este está a ser um péssimo ano para o cinema.


M. Braun

and Jacques Le Goff!

Echo and The Bunnymen, The Killing Moon

Oh, aqui está um vídeo para ti, Maria.

K. Douglas

Blame Braudel!



Sally da minha vida! A verdade caminha irremediavelmente para nós. E o pior é que nós já a conhecemos, uns melhor que outros, é certo. Ela apareceu nas nossas vidas quando tínhamos dezoito anos e o futuro era um espaço ocupado com muitos devaneios. Voltou a aparecer com força aos vinte anos, com levantamentos, com quadro estatísticos, com cruzamento de informação, com seriação de fontes, etc. Aos vinte e um anos, a nossa ingenuidade levou a estacada final: ela explica tudo! E que descoberta radiante! Estava em nosso poder algo muito mais avassalador que um aceleradorzito de partículas. Ela e as categorias apanham-nos por completo e dizem tudo de nós - não escapa nada. Ela é o destino: a longa duração.

K. Douglas

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Então e eu?

Ninguém me dedica um vídeo? Sinto-me excluída...

M. Braun

Oh, doce capitalismo!



Just for you, K.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Um pouco de terra


"Sobre o monte nu
um calvário.
Água clara
e olivais centenários.
Pelas vielas
homens embuçados,
e nas torres
cata-ventos girando.
Eternamente
girando."
Estava a ver as fotografias das férias e lembrei-me de Llorca...
Sally Bowles

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Sally, cheer up!

Just for you!

K.Douglas

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Olvido

Ontem, não me conseguia lembrar, por nada, do nome da Júlia Pinheiro. Perguntei: "Como se chama aquela tipa de voz estridente que apresenta aquele programa à tarde para donas de casa?" (Pareceria mais inteligente se referisse A Noite da Má Língua, eu sei!). Muito saudável, olarila! Só me falta começar a fazer exercício físico e deixar os fritos e os doces...
Sally Bowles

sábado, 20 de setembro de 2008

Como organizar a sua existência ou o sem sentido.

Organizar a vida é uma grande carga de trabalhos. Como pode conciliar a voz insuportável do primeiro-ministro (estamos num nível estonteante) e uma possível intuição de vazio, quase a roçar o dito de Sileno, é um problema seu. Bem, sempre pode levar o Persona muito a sério e enclausurar-se a si próprio. É melhor não – olhe a mensalidade ao banco. Lamento se as notícias do canal quatro não dizem nada sobre a sua vida ou o deixam desarmado sem saber como afrontar as coisas. Por mais que possa custar, Sócrates faz parte de si (não faça essa cara, pense um pouco, não precisa de estudar fenomenologia). E logo a quebra nos índices de confiança de consumo, os ordenados, a inflação, numa palavra: a necessidade económica que, dizem os entendidos, nos cega. Ora, um pão é só um pão. E o sistema é tão eficaz que cria condições para nós consumirmos confortavelmente. Use o seu cartão de descontos no supermercado. É bom, não é? Pois. Se não, adira ao cartão de crédito citibank: não paga nunca a anuidade, não tem consumo obrigatório mínimo, a taxa de juro é de 1.81 % sobre o capital em dívida e ainda ganha uma noite para duas pessoas num dos hotéis Vila Galé ou uma máquina de café. Continue a respirar sem se dar conta e se, por acaso, estiver a chegar aos trinta afaste o possível pensamento de que já viu muito, de que a infância é já um amontoado de sentidos ténues. Se lhe disseram que tinha que estudar muito para ter uma vida boa (entenda-se dinheiro, poder de compra, sofás) e isso é precisamente o que não tem, então, se calhar, deve tomar uma decisão. Não há nenhum segredo: em primeiro lugar mande Sileno à fava e para o ano reduza o poder a Sócrates (se não for de esquerda, talvez a alternativa seja hmmm – voto em branco). Depois ocupe-se consigo, se souber o que é que quer.
K. Douglas

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Miss Carabina 2008 à conquista da América

The modern conservative is engaged in one of man's oldest exercises in moral philosophy; that is, the search for a superior moral justification for selfishness. JK Galbraith

A América está à beira de eleger para a Casa Branca uma dupla tão perigosa como a que actualmente ocupa o poder. E eu que pensava que não se conseguiria pior que Bush/Cheney… A escolha de Sarah Palin é absolutamente assustadora. Tudo em Sarah Palin é assustador. Mas o que a torna perigosa e, visto de fora, uma péssima escolha, é o que a torna tão apelativa dentro da América. Palin é ultra-conservadora, fanática religiosa (e criacionista), apoiante do lobby das armas, profundamente nacionalista, com um forte pendor bélico e retrógrada em questões sociais (é contra a liberdade de escolha das mulheres no que diz respeito ao aborto, por exemplo). E é uma mulher profundamente ignorante. Já afirmou que apoiaria uma guerra contra a Rússia e uma intervenção unilateral no Paquistão. A sua moralidade política não está acima de escrutínios, dadas as investigações que lhe estão a ser feitas por abuso de poder. Quem quer uma mulher assim como vice-presidente, sobretudo quando o potencial presidente é um homem na casa dos 70 anos? Pelos visto, muitos americanos. É por essas mesmas razões que é tão popular na América profunda, fechada e reaccionária. A antiga candidata a Miss Alaska, mãe de uma família alargada, que tem uma predilecção particular pela caça, é tudo o que esse povinho gosta. O ser ignorante nem é um problema – veja-se George W. Bush. Até já teve direito a ser transformada em boneca estilo GI Joe para poder ser comprada para as criancinhas desses horríveis rednecks.
Mas há um outro problema aqui que merece ser tratado – e que me interessa particularmente por razões óbvias. O spin feito pelos republicanos para apresentarem Palin como uma feminista, o cínico apelo ao eleitorado feminino depois de verem o fenómeno Hillary Clinton, é preocupante. Em primeiro lugar porque insulta a inteligência das mulheres. Eles devem supor que as mulheres são tão superficiais que votarão nela apenas por ser mulher e que ignoram a ideologia política que a sustenta – isso é algo demasiado complexo para as suas cabecinhas. Só alguém que pensa assim poderá supor que o eleitorado de Hillary Clinton vai agora votar em Sarah Palin apenas com base no género. Nenhuma apoiante de Clinton se pode rever em Palin. Ou pelo menos, era o que eu pensava. Mas parece que Palin se está a tornar popular entre as mulheres caucasianas na América.
O Partido Republicano, responsável por imensos ataques misóginos a Clinton, está a tentar apropriar-se do movimento feminista. Algo que Palin nunca poderá ser porque nunca representou os interesses das mulheres. Os republicanos nunca se preocuparam com as mulheres – e estão agora a usá-las como instrumento político para seu próprio proveito, com a perfeita noção que nunca irão fazer nada para promover a igualdade. Palin é a encarnação perfeita dos três K do partido nazi. Ao tentar identificá-la com os movimentos que promovem a igualdade das mulheres, está a esvaziar-se esses mesmos movimentos, a subverter o seu papel e os seus princípios e a tentar lançá-lo numa crise de identidade. Anuncia-se uma regressão neste campo.
Sempre, desde o início, fui apoiante de Obama, apesar de nunca ter acreditado que ele fosse ganhar as eleições. Agora ainda estou menos convicta disso. A perversa escolha de Palin foi uma boa estratégia, tresandando a Karl Rove por tudo o que é sítio. A máquina republicana volta a fazer das suas. Se, à partida, McCain, mais liberal, não parecia tão mau quanto Bush, agora torna-se num pesadelo. O que diz muito sobre a América é o facto de, enquanto muitos europeus que poderiam apoiar McCain já não o fazem por causa de Sarah Palin, há muitos americanos que não votariam McCain e que agora votam por causa de Sarah Palin. Este é o mais deprimente e assustador retrato que pode haver de uma nação. Se votarem na “hockey mum” todo o mundo sofrerá com isso. Depois queixem-se de que a América está isolada…
Um conselho: vejam a fantástica cobertura que Jon Stewart tem estado a fazer da escolha Palin e a sua brilhante desconstrução do discurso republicano. Dá-nos muito que pensar.
Maria Braun

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Devias conhecer a minha irmã

Almost Famous, Cameron Crowe, 2000.

Em geral não gosto dos filmes de Cameron Crowe. Contudo há um que, como diz a Maria, é uma verdadeira gema: Almost Famous. Um dos meus momentos preferidos do filme é quando o rapaz (não me lembro do nome dele) abre a mala que a irmã lhe deixou debaixo da cama. O que está lá dentro é uma pequena e fabulosa colecção de vinis. Pet Sounds faz as honras da casa – é o primeiro disco. Pode haver uma certa comoção do espectador ou pelo menos de alguns espectadores ao assistir a esta cena. O filmar do simples passar dos discos tem mais sentimento que Vanilla Sky inteiro (horrivel, horrivel). Escrevi simples? My mistake. Não é um simples passar de discos. A câmara demora-se nas capas e consegue transmitir uma contemplação e até mesmo uma certa devoção pelos objectos. É por isso uma verdadeira experiência da aura das coisas. Veja-se o carinho com que toca na capa de Blue de Joni Mitchell.
K. Douglas

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Outros tempos

Há alguns dias, dei por mim a olhar para uma gravura do século XIX. Um homem na praia olha para a outra margem do rio, onde está uma pequena localidade que a legenda diz ser a minha terra natal. Ele tem os braços cruzados e uma canastra ao lado. Será um pescador? Creio que sim. A localidade vê-se ao fundo, reflectida nas águas calmas do rio, onde dois homens remam curvados. Dois edifícios confirmam a legenda. Reconheço-os pelos contornos mais do que pelos detalhes. Muito mudou...
E aquela luz... não, aquela não é a luz da minha terra. É plácida e rosada, como a de um pôr-do-sol outonal. É bela mas não a reconheço. São outros os tons que acompanham as minhas memórias.
O homem olha para uma cidade que não se move, sem pontes, distante de tudo e de todos. Não é esta a cidade para que hoje olho. Talvez saiba qual a perspectiva daquele homem, do outro lado do rio, perto da foz. Mas nunca olhei a cidade assim. Plácida e rosada, enquadrada com a serra ao fundo. Hoje a cidade tem pontes e está próxima. Demasiado próxima de tudo e de todos.
Sally Bowles

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Odeio Setembro

Detesto, Mr. Douglas.
Sally Bowles