É Verão e, como sempre, há muito poucos filmes interessantes no cinema. Por um sentimento de lealdade que já explicarei, encontrei-me, há cerca de uma semana, numa sala de Lisboa a ver o novo Batman. Não vou apresentar aqui de forma pormenorizada as minhas opiniões sobre o filme. Prefiro deixar umas notas muito soltas sobre o que penso acerca dos filmes de Nolan, sobretudo em contraste com os de Burton. Em primeiro lugar, tenho de confessar que Batman é o único herói de comic books que me leva ao cinema. Filmes de super-heróis não são exactamente my cup of tea. Mas os filmes de Tim Burton são parte da infância. Imaginem ver o Joker de Nicholson aos 6 ou 7 anos de idade… Na altura não sabia porque gostava daqueles filmes – seria Batman ou Burton? Alguns anos depois obtive a minha resposta – era o mundo muito peculiar de Burton, que continuei a acompanhar. Batman Returns é, para mim, o melhor filme deste personagem e cada vez mais duvido que algum outro consiga superá-lo. No entanto, graças a Burton, continuo a deslocar-me ao cinema para ver Batman, algo que não faço com nenhum outro do género.
Depois do festival kitsch de Schumacher, que nem merece ser mencionado, Christopher Nolan parecia uma bênção para esta série. Mas, apesar das boas críticas, não consegui gostar do primeiro filme de Nolan. A razão é a mais estúpida de todas e uma que, geralmente, nunca considero uma crítica válida quando se fala de filmes: o filme é muito, muito aborrecido. Leva-se demasiado a sério. Eu sei que se tinha chegado a um ponto intolerável de auto-paródia com Schumacher, mas estamos a falar de comics! Nolan quer uma visão mais “realista”. Realismo é a última palavra que me ocorre quando quero descrever as histórias de um bilionário que se veste de morcego e anda a voar pelas ruas da sua cidade a combater criminosos ainda mais excêntricos que ele, que incluem um pinguim e uma mulher-gato… Se vou ver um filme do Batman, não estou à espera de “realismo”. O mais irónico nisto tudo é que, com todas estas conversas de Nolan, com toda a violência dos seus filmes, nenhum deles conseguiu ainda ser tão sombrio, tão negro e ameaçador como o expressionista Batman Returns. Para mim, o aspecto mais positivo de Batman Begins foi o Espantalho de Cillian Murphy. Foi um crime desaproveitar daquela maneira um vilão tão perfeito, tão interessante no seu aspecto frágil, delicado, andrógino, que aparentemente nada tem de ameaçador – até fixar alguém nos olhos, gelando-nos, a nós espectadores, até à medula. Murphy consegue transmitir magistralmente a loucura do seu personagem, sempre de uma forma controlada, nunca caindo no overacting que raramente é evitado por outros actores. Genial.
Os críticos dizem que The Dark Knight é o filme do Joker. De facto, o vilão é, de novo, o que o filme tem de melhor. É pena o resto não estar ao mesmo nível. Mas queria deixar aqui uma pequena objecção. Nos sites americanos de cinema já há muito se aposta na nomeação de Heath Ledger para o Óscar de Melhor Actor Secundário. Louva-se intensamente esta interpretação e diz-se que é muito melhor que a de Nicholson. De novo, percebo de onde vem o hype, mas não consigo estar de acordo. Tem-se desvalorizado a interpretação de Jack Nicholson no filme de Burton, dizendo que é camp (o que é verdade), que não é assustadora, que Heath Ledger é melhor porque dá o lado mais sádico da personagem. Desculpem, mas Nicholson era sádico e assustador – acho que viram um filme diferente daquele que eu vi. Para além do mais, ambos têm uma vasta colecção de tiques (ver o que se disse acima sobre overacting) … Simplesmente, Ledger adequa-se mais à visão austera de Nolan, enquanto Nicholson fazia um clown mais cartoonesco e exagerado, exactamente à medida de Burton. Percebo que os puristas das bandas desenhadas critiquem Nicholson, mas quem vê o personagem de um ponto de vista exclusivamente cinematográfico, à partida compreende porque é que eles são diferentes e como isso resulta em filmes bastante distintos.
Um outro aspecto positivo de The Dark Knight: a troca de Katie Holmes pela magnífica Maggie Gyllenhaal, que há muito vejo como uma das melhores jovens actrizes americanas de hoje. É um papel sem grande interesse, mas Gyllenhaal nunca desilude, fazendo o melhor que pode com ele. Quanto a Bale, desde o primeiro filme que tenho a sensação que, não sendo o Batman mais interessante, é o melhor Bruce Wayne que já tivemos. Pena é que um actor como Bale esteja a perder tempo com filmes anódinos (ainda não acredito que ele aceitou entrar no novo Terminator) em vez de honrar a sua anterior filmografia, expandindo-a com filmes originais.
O filme pode ser menos aborrecido que o anterior, mas é mediano, cansativo, demasiado longo, com um argumento desinteressante e enredos secundários a mais. Ah, e já disse que o filme é politicamente repugnante e que deve ter feito muito felizes alguns republicanos reaccionários? Mas, é preciso admiti-lo, não sou a pessoa ideal para comentar filmes deste género… Fico-me por aqui.
Maria Braun