sexta-feira, 25 de abril de 2008

Abril





Maria Braun

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Antecipações






Maria Braun

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Primeira canção com Lágrimas

Eu canto para ti um mês de giestas
Um mês de morte e crescimento ó meu amigo
Como um cristal partindo-se plangente
No fundo da memória perturbada

Eu canto para ti um mês onde começa a mágoa
E um coração poisado sobre a tua ausência
Eu canto um mês com lágrimas e sol o grave mês
Em que os mortos amados batem à porta do poema

Porque tu me disseste quem em dera em Lisboa
Quem me dera me Maio depois morreste
Com Lisboa tão longe ó meu irmão tão breve
Que nunca mais acenderás no meu o teu cigarro

Eu canto para ti Lisboa à tua espera
Teu nome escrito com ternura sobre as águas
E o teu retrato em cada rua onde não passas
Trazendo no sorriso a flor do mês de Maio

Porque tu me disseste quem em dera em Maio
Porque te vi morrer eu canto para ti
Lisboa e o sol Lisboa com lágrimas
Lisboa a tua espera ó meu irmão tão breve
Eu canto para ti Lisboa à tua espera...

Manuel Alegre


Esta canção é, talvez, a segunda melhor canção de amizade de sempre - logo a seguir a I See a Darkness de Bonnie Prince Billy. Festejemos Abril!

K. Douglas

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Aquele Maio (3)


Maria Braun

terça-feira, 1 de abril de 2008

Saudosismos light e leitores de algibeira

Quando ando de transportes públicos tenho o exasperante (para os outros, não para mim) hábito de bisbilhotar aquilo que os meus companheiros de viagem andam a ler. É educativo. Nunca apanhei ninguém a ler Bukowski e, se apanhasse, não fugiria da pessoa em causa, muito pelo contrário (veja-se http://www.realimaginado.blogspot.com/). Já se fosse Henry Miller… Também, por aquilo que tenho visto, acho que não corro esse risco. Os leitores de curta distância parecem estar mais interessados nos malfadados jornais gratuitos. Bem vistas as coisas, não se gasta nada com eles, ajudam a passar o tempo e não exigem grande empenho intelectual, o que é óptimo para combater o tédio. No entanto, falando apenas sobre livros, os transportes públicos podem servir como um óptimo inquérito aos hábitos de leitura nacionais.
Em primeiro lugar, porque é que há tanta gente adulta a ler livros infantis? Ou será que aos 30 ou 40 anos ainda se consegue digerir literatura maniqueísta sobre magos e outros que tais? Pelo menos já não é só Rebelos Pintos e Browns de bolso. Isso já está démodé. De há uns tempos para cá parece haver uma nova obsessão – Salazar. Pelos vistos, aquela vergonha que foi os “Grandes Portugueses” ajudou a lançar a moda ditador-light. É uma boa forma de ganhar dinheiro: escrever um livro sensacionalista e pseudo-biográfico sobre uma figura que parece exercer um inexplicável fascínio sobre os portugueses. É que se fosse Hitler ou Mussolini ainda percebia. Eram figuras coloridas. Agora o triste e parco Salazar… Ainda está bem viva aquela deprimente paixão dos nossos compatriotas pelo paizinho intransigente, Salvador da Pátria, modesto e simples, que aplica a sua autoridade com mão de ferro. Veja-se quem está no palácio de Belém…
Mas é sobretudo triste chegar a uma livraria e ver banalidades sobre a vida de Salazar misturadas com livros de culinária, de auto-ajuda e os últimos best-sellers. Décadas de ditadura colocadas ao lado de receitas para o wok… Para quem quer analisar de forma séria os anos do regime autoritário em Portugal, tudo isto deve causar um absoluto desânimo. Mas enfim, Salazar sempre vai estando presente nas viagens para os subúrbios, entre o trânsito de Lisboa, entre meros curiosos e aqueles que acham que o que é necessário é outro como ele. Naqueles tempos, dizem, imagens como as da aluna do Porto não aconteceriam – e outros populismos que tais… Consequência do vácuo ideológico em que estamos mergulhados ou de uma pura e simples ignorância?
E, assim, lá vou eu, entre um ingénuo leitor do Correio da Manhã e um leitor de ocasião de um gratuito, entre sensacionalismos e saudosismos autoritários, carregando o meu DeLillo, afundada num incurável pessimismo. Porque isto não é apenas deprimente: é, no fundo, verdadeiramente perigoso.
Maria Braun